terça-feira, 26 de outubro de 2021

Massacrados VII

 

Eu escrevo estes textos para manter aquilo que eu prometi fazer quando comunista jovem:ficar do lado do homem oprimido ,do homem com fome(juramento de Maiacovski).

As coisas mudaram um pouquinho,nas pessoas sofridas e em mim mesmo.As pessoas que sofrem se tornaram mais militantes,não admitindo serem representadas por uma pessoa que nada tem a ver com elas(aparentemente).Os meus textos anteriores expressavam o que tinha se interposto entre mim e estas pessoas.Muitas interposições eu farei colocar depois,mas avulta em importância as diatribes de Nietzsche sobre a falsidade de toda a compaixão.A imagem célebre do compassivo comendo lagosta em grandes restaurantes foi criada por ele(ou por algum anônimo que ele ouviu).

No entanto,não aceito que este motivo prosaico me torne indiferente ao sofrimento geral e menos ainda menos compassivo do que sempre fui.Realmente,seguindo Nietzsche ,a pura compaixão pelo sofrimento não prova nada da sinceridade deste sentimento,que pode vir seguido de uma entrada num grande restaurante.Os mais radicais diriam que o engajamento supera esta barreira e de diversos modos isto é muito certo:na medida do possível a ajuda ao outro é uma ação no minimo nobre e correta.

Infelizmente ,contudo,em sociedades complexas como as nossas,pouco se pode fazer a partir do cidadão comum,que vai a restaurantes.

Em grande parte e resumidamente , uma das funções da democracia representativa é transferir para alguém a tarefa da ajuda.Em nome do Estado,que é comum a todos e que extrai para si os ganhos de quem vai a restaurantes,estes indicados a devem abordar prioritariamente e realizá-la.

Como,como se vê,não o fazem,o cidadão comum é instado a substitui-lo.Sempre é assim com a descontinuidade entre os representantes e os representados,ainda que sem eleições,sem algum processo legitimo de apuração da representação.

Pode todo o discurso explicar e propor,mas se os problemas não são solucionados,a realidade em si,para além da linguagem assume lugar.Passa por cima.

Nem sempre o cidadão comum como eu tem razão ou condição de participar destes movimentos,destas verdadeiras placas tectônicas que rearrumam a história,mas em qualquer situação deve ele protestar e denunciar o mau uso de suas escolhas e de seu dinheiro que era para ser aplicado na ajuda e solução dos problemas dos mais desvalidos.

Ainda que os menos afortunados não aceitem mais(muito justamente até)uma representação auto-arrogada de pessoas como eu,elas têm o direito de manifestar o seu desacordo com esta situação toda e denunciar o que está errado.É o que eu farei nos próximos artigos desta série.


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