sábado, 5 de março de 2022

O papel da religião e da crença


 

A pintura famosa acima de Tiepolo retratando o momento em que o anjo vem dizer a Sara que vai ter um filho apesar da idade nos propicia refletir sobre o papel da religião.Este meu artigo não é original em seus argumentos,porque isto aí já foi dito e discutido na década de 60 primordialmente,mas é sempre bom em épocas de intolerância ,como a nossa,relembrar ganhos intelectuais e morais que evitam as consequencias funestas desta intolerância.

Até ao século XIX,pelo menos até à sua primeira metade ,além de ter sido decretada a morte da filosofia,em favor da ciência,o mesmo foi dito da religião e tanto uma forma de consciência social quanto a outra resistiram e se tornaram fortes de novo.

Assim o marxismo,também ele um cientificismo ,as chamava de formas de consciência social,mas hoje há que se reconhecer que são saberes também ,o que muito aterroriza o cientificismo,cioso de sua exlcusividade.

Tanto a religião como a filosofia são sim formas de consciência social,mas são mais do que isto:pelos livros sagrados há discussões intermináveis de natureza histórica e principlamente axiológica.Como literatura ela serve como referencial de compreensão do mundo como qualquer outra ciência.Esta última não tem como substituí-la e aí nos ajuda esta referida pintura.

Para a ciência ou antes o cientificismo, a descida de um anjo para garantir a concepção de uma velha é algo impossivel e acreditar em algo impossivel é patologia,a ser combatida pelos médicos.

No entanto o desejo de uma pessoa que se expressa pelo menos no nivel da arte ou da mitopoética,que não é própria só das religiões e livros sagrados,mas da arte,um desejo irrealizável não padece de ausência de explicação.

A sua impossibilidade gera uma frustração e para evitá-la há que recorrer à verdade da ciência e repudiá-la como ato de saúde psicológica.

Contudo o ser humano é essencialmente incapaz de aceitar o real diante dele,uma vez que para a subjetividade a objetividade é totalmente insuficiente.Viver pela objetividade,como o cientificismo quer,é uma idiotia,como já notara Nelson Rodrigues.

No momento imediato de compreender a impossibilidade de realização do desejo se tem a consciência desta verdade subjetiva,que subsiste o tempo todo.

Pois se o homem fosse se ordenar o tempo todo pelo que acontece fora dele estaria em loucura,em breve,fora-de-si.

Como dizia Hegel o fora-de-si é algo importante para o relacionamento do sujeito no movimento dialético do mundo,mas ele não tem como susbsistir o tempo todo,se não houver um retorno à subjetividade permanente(-mente),como célula do entendimento do processo.

Mas se o entendimento conduz o sujeito a se compreender como objetividade,está feita a confusão e a loucura.

A crença na realidade da metáfora é patológica,mas a distinção entre o real e a metáfora,se compreendida mesmo no âmbito da religião e da crença,não só não o é,como implica igualmente em saúde,porque não só demonstra a irrealização do desejo,mas ajuda na auto-consciencia quanto à sua situação.

Nós poderiamos dizer ,em um sentido trágico,compreender a frustração evita que o sujeito s e perca um dores imaginárias.Em ilusões que podem não sair mais da mente.É a antecipação dos estóicos:aceitar a realidade como ela é(Nelson de novo)é a condição de progredir,de melhorar,do sujeito.


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