quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Meu encontro com Freud só.

O transcendente não é categoria em Freud



Quando eu falo em transcendência aqui analisando a neurose não estou dizendo que esta categoria filosófica é de Freud.Freud tinha uma desconfiança muito grande nas “ especulações filosóficas”e  parou de ler os filósofos ,numa certa época,no dizer dele mesmo.
Isto é uma interpretação minha.No momento em que a criança se frustra,perdendo o regaço tranqüilo da mãe e do pai,vendo diante de si a inevitável realidade,onde os seus pais reais estão presentes,ela toma consciência do transcendente,de uma experiência  que está fora dela ,com a qual terá que lidar até morrer e que não é propriamente um lugar “ adequado” aos seus desejos,lugar este que já passou.
Mas uma coisa é a realidade,outra o reconhecimento(transcendência ) ,porque esta experiência é um caminho em direção ao mundo  hostil,mas uma possibilidade de sua compreensão e adequação também(dir-se-ia dialeticamente falando).
Quando Freud se refere à religião como “ neurose obsessiva” da humanidade ,localiza a sua origem nesta frustração primordial,a qual o individuo resistente quer retornar a qualquer custo ao acolhimento,querendo encontrar na figura de Deus o pai protetor.
Contudo,ao surgir o caminho da experiência transcendente,verifica-se que o mundo apresenta desafios irredutíveis ao problema primordial do acolhimento  familiar.
A consciência da morte,da finitude do homem,das desigualdades e injustiças que nele pululam,não estão presentes,potencialmente na relação pais e filhos e transcendem esta realidade.
Freud tende sim a ser um monista,explicando a vida social por este núcleo.
Jesus Cristo,figura mítica,ao ir ao Sinédrio(deixando a virgem em polvorosa),expressa nesta passagem este transcendente,esta consciência quanto a si mesmo na relação com o mundo,libertando-se não só do acolhimento maternal,para amadurecer,mas crescendo na constatação do transcendente(no seu caso a sua missão),ou seja,que a família não é tudo.Esta é a explicação do que ele diz à virgem,que o encontra no templo: “ que tenho eu contigo mulher?”.É uma frase adolescente um pouco grosseira,mas que tem fundamento neste algo mais e além da família.

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