Culpa no complexo de Édipo
Existem sagas,contos ,na mitologia grega que
expressam decisões,verdades,critérios,para o povo grego.Assim são As
Eumênides,a Oréstia(que teve uma análise famosa de Engels)e o ciclo de Édipo.
Sempre me horrorizou o fato de que Édipo tivesse
que ser punido sem culpa.Como advogado,o dolo é essencial para estabelecer uma
dosimetria da punição.
Ocorre que este episódio ofende as leis dos
deuses,que coincidem com as dos homens,ou pelo menos,fazem parte de um evolução
psicológica da humanidade:o tabu do incesto.
O tabu do incesto é um transcendental porque ele
não participa da experiência comum e costumeira dos homens e quando ocorre é
para ser repelido como algo ameaçador.Ameaçador do quê,se existem práticas
documentadas?
Na sociedade todos os fenômenos imagináveis
ocorrem,mas alguns permanecem necessariamente marginalizados e fora de uma
norma construída entre os homens ,e no âmbito familiar,como Freud identificou.
Existem muitas discussões sobre se há uma evolução
moral e psicológica na humanidade,mas admite-se(isto está em Engels)que a
família nem sempre foi a mesma e que no inicio imemorial da sociedade havia sim
promiscuidade,um resquício quiçá da animalidade,que apresenta o fenômeno em
muitas espécies,inclusive.
A relação genital reprodutiva é suficiente neste
periodo promíscuo.Outras razões,mesmo coletivas,podem ter determinado a sua
ocorrência,contudo,há um momento em que o outro adquire um significado,ainda
que rudimentar,afetivo,que cria uma barreira para o ato:a identidade grupal,em
torno de um totem ,que representa o grupo ,de forma que ele possa se reconhecer
e se distinguir dos outros,numa atitude esssencial de sobrevivência ,um vez que
a integridade do grupo garante o trabalho,que produz o alimento,que é cedido na
comunidade,numa série de tarefas que se perderiam assustadoramente s e o grupo
não achasse necessário se reunir regularmente em nome de sua identidade.
Isso sem falar que outro grupo é uma ameça de
rapina às conquistas do coletivo.
O incesto rompe esta norma identitária porque os
papéis sociais são desbaratados:para onde vão os bens,para que filhos?Quem
cuida de quem na velhice e assim sucessivamente.Este é um dos momentos de
ruptura com a animalidade;mas estes papéis,impostos e criados nas relações
sociais ocupam um lugar cada vez mais
afetivo,na medida em que as trocas materiais e simbólicas se tornam constantes
e essenciais para a vida.Aquilo que pertence ao reino da necessidade,dar comida
ao outro,passa cada vez mais a adquirir um caráter afetivo,de bom e de bem,a
entranhar na consciência humana e a formá-la até ao ponto em que esta
afeição,ou uma afeição,autônoma,afetiva,mais próxima,mais intima,que é a da mãe
com o filho seja fundamental como elemento não só de identidade,mas de fundação
da civilização.
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