Quando era professor em Campo Grande no Rio de Janeiro
eu tive uma enorme dificuldade de explicar a uma esposa de um pastor o
significado real da Reforma Protestante,que extrapola o problema doutrinário
das denominações.Ela pensava o tempo todo que eu estava relacionando o fato
histórico, o ato de Lutero em 31 de outubro de 1517, com todas as seitas protestantes,inclusive a dela,o
metodismo.
Após este período todo de estudos históricos e
filosóficos,notadamente Hannah Arendt,até o termo “ Reforma” foi mudado para “
Revolução Protestante”,já que a mudança operada nas consciências e no mundo
real por causa dela foram totais,reformulando os fundamentos da sociedade
humana,sendo base mesmo do estabelecimento definitivo do capitalismo(Max Weber).
Lutero é herdeiro direto do importante reformador João
Huss
Que foi condenado à fogueira cem anos antes dele no
Concilio de Constanza.O erro de Huss foi tratar o problema da reforma da igreja
só no plano teológico.Em determinado momento,dentro das diatribes entre igreja e
Huss,este disse que mudaria de opinião se a Igreja provasse que suas concepções
teológicas estavam erradas.A igreja chamou-o ao Concilio e
Huss,ingenuamente,aceitou o “ convite”.Lá chegando foi imediatamente
preso,julgado e condenado.
A questão não era teológica,não era uma discussão dos
fundamentos,era a questão que a concepção do cristianismo de então
justificativa as formas de poder dominantes.
Lutero
percebeu,juntamente com outros de sua época,que não bastaria discutir os
fundamentos reais da teologia cristã,mas associá-la a uma atitude nova .Esta atitude derivava de um elemento específico da
teologia, a questão da graça.Esta questão já havia sido posta por Huss:não é
pelas obras que se obtém a graça de Deus,mas pela fé.Obras significam qualquer
atitude estritamente humana,secular.A fé,inserida no coração humano e percebida
pela onipotência de Deus é que é base da graça.
Há uma explicação muito simples do significado deste
termos em “ História Geral da Civilização-Idade Moderna” de M. Crouzot:admitir
que as obras humanas influenciem a vontade Deus é absurdo,porque isto seria
limitá-lo ao desígnio humano e admitir implicitamente a igualdade entre Deus e
os homens.
A fé é o compromisso do homem em relação a Deus,que
tudo vê e tudo percebe.As afirmações de Lutero casam perfeitamente com as de
Georges Bernanos em “ Sob o Sol de Satã”,guardadas
as devidas proporções.Um padre que realiza milagres tem uma suposta ligação com
Deus,que os outros da comunidade eclesial não possuem.Qual seria o motivo deste
privilégio?Desta desigualdade?
Na concepção de Lutero, e tão ou mais importante do
que a tese sobre a graça é que a intercessão institucional da
igreja(auto-arrogada) não tem serventia e qualquer homem é uma voz capaz de buscar
por si mesma a relação autêntica e legítima com Deus.
Aqui é que a minha antiga aluna de Campo Grande não
entendeu:Lutero,diferentemente de Jan Huss,não discutiu só teologia ,mas o seu
direito de ir até Deus por seus próprios pés,referenciado numa leitura
hermenêutica da Bíblia,proposta também de Huss.
Até Pio XII,em 1959,o católico não tinha o direito de
ler a bíblia e interpretá-la,mas só a instituição intercessora.
Embora Lutero tivesse a intenção somente de reformar a
igreja e colocá-la nos trilhos certos, havia uma justificativa social e
política ,para além da teologia.Isto muda tudo:da narrativa dos fatos que
desencadearam a Reforma ate às suas conseqüências
não previstas por Lutero.
A exacerbação do significado político da Igreja no
problema da venda das indulgências serviu de pretexto para uma liberação da
Alemanha quanto à exigência de pagar tributos ao Papa.Sim,porque não é só o
escândalo de cobrar por pedaços de terra no paraíso.É o peso da carga
tributária(diríamos hoje)que era particularmente imenso na Alemanha,um “ país”
enfraquecido por divisões políticas e geográficas.
A Alemanha era governada por Carlos V ,um rei católico,mas
era eleito pelos príncipes alemães,que se reuniam numa Dieta.Carlos V foi a
pessoa individual que deteve mais terras e domínios na História,ainda que este seu poder fosse nominal.Basta dizer que como
sucessor da coroa espanhola,ele era o Rei de toda a América.Subiu ao trono em
1520,com vinte anos,três anos depois de deflagrada a Reforma e teve que se
haver com as suas repercussões.
Carlos V nasceu católico e por causa da universalidade
dos seus domínios,foi o Rei mais
indicado para realizar o ideal universalista cristão/católico,tendo mesmo
recepcionado as idéias de Erasmo de Roterdam.
Contudo,diante deste cisma e da situação da Alemanha
as coisas mudaram.
Eu não apóio totalmente a concepção materialista da
história,de Marx e Engels,principalmente em exagerar as intenções de Lutero,porque
,como já disse,ele não tinha tanta condição(não capacidade)de saber o que
viria,mas na centelha da reforma ,na Igreja de Wittenberg,já se fazem presentes
os elementos políticos e sociais bem como as diferenças entre a prédica de Huss e de
Lutero.
A narrativa do dia 31 de outubro de 1517 dá conta de
que ele realmente pregou.Teria falado
inclusive que a erudição dos padres não os tornava mais próximos de
Deus,citando o exemplo de Santo Agostinho que só sabia um idioma e estava mais
consentâneo com a teologia cristã original(a que ele, Lutero, queria retornar).Os
historiadores discutem muito isto aí.Muitos afirmam que ele “ pregou” de fato as 95 teses,na
porta da Igreja e foi embora.O sentido desta palavra,” pregar” teria surgido
aí,como o de um sermão.Isto acontece porque é muito difícil de acreditar que
com as intenções de libertação dos alemães quanto ao jugo do Papa fosse uma
atitude segura fazer uma alocução no púlpito.
Os acontecimentos posteriores da Dieta de Worms,que
condenou Lutero,parecem confirmar esta avaliação.Conta-se que depois de condenado
,Lutero,viajou de cavalo ,sozinho, de noite.Temendo que fosse preso pela
igreja,como Jan Huss,os príncipes lhe mandaram uma escolta e o esconderam no
castelo de Wartburg,por dois anos.
Depois da decisão da Dieta os príncipes (católicos) se
dividiram:uns ficaram com Lutero e outros com a igreja e isto teria sido a
razão pela qual ajudaram o reformador,protegendo-o.
Em toda a Idade Média,os atos políticos que não
prescindiam da participação popular, foram sempre encenações.Quem não se lembra
da coroação de Carlos Magno?
O cronista da época relatou que a coroação de Carlos
Magno não foi como está retratada na pintura acima.Carlos Magno entrou na
Igreja de Aachen apenas para rezar,mas de repente o Papa Leão III colocou a
coroa em sua cabeça.Ele teria se virado e tentado impedir,mas aceitou.Muitos
historiadores dizem que com isto o Papa consagrava Carlos Magno sem se
comprometer totalmente com ele e Carlos ,com sua aparente recusa,demonstrava
que a sua relação com a Igreja dependia de pré-condições.
Outros Historiadores dizem que o problema é que o Papa
queria uma coroação de acordo com o rito bizantino,porque desejava recuperar o
Império do Oriente e Carlos Magno queria fundar o “ Sacro Império Romano
germânico”,ocidental,o que de fato ocorreu.
Quem não se lembra do rei Henrique e Samuel Becket?Quando o rei se sentiu podado em
suas ações pelo Bispo da Inglaterra,começou a reclamar,num banquete,que ninguém
o livrava desde “ prelado maldito”.Aristocratas que o ouviram,emboscaram Becket
e o mataram.Ao saber ,O Rei condenou os
aristocratas e se flagelou diante de seu túmulo.Com isso ele conseguiu o que
queria ,sem se comprometer.
O episódio de Joana D´Arc é semelhante.Depois de
consumada a sua “ cremação” os camponeses se rebelaram,mas não o poderiam ter
feito antes e a salvado ?
Numa sociedade analfabeta estas narrativas e
encenações ocupam um lugar decisivo,quando a presença do povo (analfabeto)não
era evitável para a legitimação de
certos projetos de poder.
Foi o que aconteceu com Lutero.Para mim os príncipes
alemães e o próprio Rei Carlos V,viram nas suas concepções uma oportunidade de
se livrar de Roma e ,quem sabe?,unir a Alemanha.Não é à toa que Hitler,ao andar
por todo país e ser aclamado ,gostava de se comparar a Lutero(que era
anti-semita).Lutero foi aclamado por todo o país,não só quando se encaminhou
para Worms,mas depois ,quando da continuidade da sua “ pregação”.Dizem que no
exato momento em que saiu da Dieta foi ovacionado.O modo como as coisas se
deram na narrativa indica que os príncipes
já estavam por trás da “ pregação” e exigiram dele um certo risco,para ajudá-lo
a se proteger, o que reforçava o papel deles e dava legitimação ao ato de
Lutero.
Todos estes referenciais mudam um pouco a narrativa,no
meu entender,mas só uma pesquisa mais aprofundada o provará.
Isto se reflete igualmente na questão da Bíblia de
Lutero ,que é tida como a primeira traduzida para um idioma nacional.Não é
verdade.Havia outras Bíblias ,desde o século XIV,notadamente na Europa do
leste,mas a de Lutero adquiriu uma importância,por motivos óbvios e por certos
aspectos da sua tradução,no que tange à Epístola aos Romanos 3.28 em que ele
introduz o termo alemão alleyn,que não corresponde ao grego.Alleyn é um pronome
semelhante ao “all “ em inglês e que é traduzível como “ só” “ somente”.Lutero
traduz assim: "So halten wyrs nu, das der mensch
gerechtfertiget werde, on zu thun der werck des gesetzs, alleyn durch
den glawben" com a ênfase em alleyn.O texto grego ,no entanto,não vai
nesta direção: λογιζόμεθα γάρ δικαιоῦσθαι πίστει ἄνθρωπον χωρὶς ἔργων
νόμου ;traduzido pelo inglês:"for we reckon a man to be justified by faith
without deeds of law").Não há esta palavra.Lutero interpreta que a obtenção
da graça se obtém pela fé.
Mas em outras passagens da Bíblia ,como a epístola de
Tiago não há confirmação :
"Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela
fé.".
Sofrendo
críticas por ter adulterado as escrituras( o que é verdade),Lutero retrucou
dizendo ser esta a intenção de Paulo e
porque a palavra era exigível no alemão(desculpa esfarrapada).Ele tirou isto provavelmente
de Santo Agostinho(pesquisa futura).
Tudo
isto mostra que intenções políticas e sociais eram mais fortes aqui do que o
problema religioso.
Após
o dia 31 e depois da Reforma de Worms cataclismos atingiram a Alemanha:os mosteiros
foram abertos e uma freira em particular interessou a Lutero,que casou com ela
e teve filhos.Os camponeses se rebelaram contra os seus senhores católicos,no
que ficou conhecida como a “ Guerra Camponesa da Alemanha”,pesquisada por
Engels.
Lutero
se pôs contra esta revolta,que segundo ele,não tinha legitimação nas suas 95
teses(mas tinha[no questionamento do comportamento católico na Alemanha]).Escreveu
um texto famoso,que era uma retribuição obrigatória aos príncipes “ Da
Autoridade”,no qual ele diz que a autoridade dos senhores era fundada na
vontade Deus e que era essencial para a manutenção da ordem.Termina esta carta
incitando os senhores feudais a “ matar estes cães danados” e no final diz uma
frase célebre(própria do seu cinismo)”Deus ama o gládio”.
Mas
o revérbero de sua rebeldia continuou indefinidamente.O seu sustentáculo social
e político era uma igreja barata,um país com uma carga tributária leve,o que
tinha um papel decisivo para a administração do estado no tempo da formação dos
estados nacionais.
Na
Inglaterra o Rei Henrique VIII tomou as riquezas da igreja dentro deste
espírito;arrumar o capital necessário para montar um governo centralizado.Na
França,com os Huguenotes, o mesmo problema.
E
como não entendeu a minha aluna,outras correntes e denominações “ protestantes “
seguiram Lutero,avultando em importância a de Calvino.A reforma protestante se
prolongou até ao metodismo,numa descrição de Max Weber,o qual ,séculos depois ,mostrou
o papel da Reforma para a constituição e evolução do capitalismo.
Não
é como o marxismo vulgar disse uma vez sobre esta tese.Max Weber nunca colocou
as idéias à frente das relações materiais de existência.O que ele disse é que o
modo de agir do protestante,com o ethos do trabalho e a poupança (entesouramento)já
eram um reflexo das condições econômicas que ajudaram a reforma e reproduzem as
suas conseqüências necessárias: austeridade com os gastos,com o capital ganho
pelo trabalho.Weber provou que a mediação do trabalho,que está no fundamento da
modernidade,veio com a Reforma.Para haver uma revolução,é preciso um componente
social afinado com ela,com uma postura individual e coletiva diferente da do
passado.Isto os marxistas deveriam ter aprendido...
A
mudança trazida às consciências,à cultura,correspondentemente às relações de produção,que
foram deixando as formas da servidão ,autorizam Hannah Arendt a chamar a
reforma de revolução,muito embora não tenha havido um fato único ,mas um
processo longo,de séculos,com as guerras religiosas,a Contra-Reforma,coisas que
moldaram o nosso mundo de hoje.
Mas
Lutero não poderia ter previsto tudo.Lutero era pessoalmente muito atrasado.Anti-semita,como eu disse ,e
inimigo da ciência moderna,tendo ficado contra Copérnico e a teoria
Heliocêntrica.
A repressão dos protestantes não foi
menor do que a dos católicos.A Reforma e a Contra-Reforma acabaram com o espírito
livre do renascimento e criou a sociedade racionalizada em que vivemos hoje,em
que os processos de repressão ainda estão aí.
Então não é que todas as denominações derivem de Lutero,mas
sem ele,sem a interpretação livre da
Bíblia elas não existiriam.Ainda ontem vi na televisão aquele pastor que usa um
chapéu de cowboy mostrar um texto da Bíblia
que preconiza o “ viver pela fé” e não pelo conhecimento,como completou
este pastor.Acaso isto não lembra alguém?
Lutero ,para cimentar a sua
liberdade(no que é uma atitude individual-ista moderna)disse a famosa frase em Worms:“ Eis –me aqui,não posso agir de
outra maneira”.Niesztche usou-a para localizar a origem real da filosofia
moderna,na qual o individuo,com seus valores, é mais importante do que o rebanho.Ele localiza na reforma protestante
o inicio do pensamento moderno,que permite interpretações.(trans-valoração de
valores).
Do mesmo modo o citado Hitler e os
nazistas tomaram Lutero como o iniciador da unidade alemã,ao criar um
cristianismo que se adaptava às necessidades de um país,acabando com o ideal
universalista cristão- católico,que não era mais do que uma forma de repressão às
comunidades nacionais.
Nós vivemos num período muito
análogo.A idéia de uma comunidade econômica está sendo substituída pelos
particularismo e no fundo o problema da humanidade é como construir esta “
comunidade universal”(invenção de Kant[pietista]{protestante})levando-se em
conta as diferenças,as desigualdades.
Os marxistas não se furtam a associar
o seu movimento ao protestantismo,porque defendem a libertação revolucionária deste mundo do trabalho,diante
da exploração capitalista.Nos manuscritos de 1844-45 Marx chama Engels,numa assomo
de pretensão e bajulação, de “ Lutero da economia Política”,por causa de seu
livro “ A situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra”,no qual Engels pôs as
pessoas reais por trás dos bens econômicos,não confundindo os homens(
trabalhadores)com coisas(Marx usará este conceito para criticar Ricardo[e a
economia política burguesa]{inicio do fetichismo da mercadoria}).
Nesta senda Trotsky fez uma
comparação discutível entre o movimento comunista,fracassado na URRS(stalinismo[termidor])e
a Reforma.Para ele a Reforma teve um período de refluxo e depois retornou.O
movimento comunista o teve(tem)mas retornará.Se analisarmos os dois movimentos
veremos que a reforma não teve paralisação até 1648 quando as guerras
religiosas acabaram.O movimento comunista foi uma coisa só até a sua derrubada
em 1991.
O fato é que a questão social e o
protestantismo estão interligados e isto
sim pode e deve continuar.
Aqui no Brasil se luta para que este dia
31 se torne feriado,em razão da cada vez
maior influência das crenças não católicas no país.
A separação,total,da Igreja e do
Estado nasceu dentro da reforma,especificamente no calvinismo,na Suíça,e está
na base do pensamento liberal estadunidense.A república moderna acompanha este
movimento.A intenção dos evangélicos brasileiros em marcar este dia atende aos
mesmos propósitos da reforma de Lutero.Eu destaco um:talvez esta visão
idolátrica católica do povo brasileiro,suplantada pelo ethos do trabalho, ajude
o Brasil a se tornar mais moderno e dinâmico,mas eu tenho defendido que a
laicização do estado, que se inicia com o referido Calvino, é que deve ser
atiçada,porque a confrontação entre católicos e protestantes tem tudo para gerar(
e o está)uma guerra religiosa ,a ser evitada.Nós devemos passar esta etapa e
laicizar o Estado republicano brasileiro,de fato e não em palavras.laicizar
todo o estado,no mundo todo.
Lutero era um caráter rude,mas com
fundamento ,e uma das suas dissensões psicológicas com o catolicismo era a sua
anti-idolatria,a sua aversão ao culto das imagens,outro elemento de doutrina
que perpassou quase todas as denominações.Neste sentido as suas diatribes contra
o diabo,em quem ele não acreditava,eram uma forma de incitar o camponês a ter
uma postura ativa(Santo Agostinho com seu conceito de victa
activa)diante do mundo.Há cartas em que Lutero diz afastar o diabo “ com
seus gases” e em outras ocasiões aconselhou a segurar o chifre do diabo e
dar-lhe um soco no rosto.
A Reforma protestante é um modelo de
comportamento humano mais rebelde diante de um mundo opressor.Ao sair da Igreja
de Wittenberg aquele monge agostiniano até então desconhecido,com um gesto
simples, revolucionou a história e o mundo.Talvez não tenha havido,por indução
de um ato solitário individual uma influência tão grande na História.Os
estudiosos do conhecimento entendem que
a simples folha com as 95 teses equivale a uma tese de doutorado e eu digo que
Lutero é socrático também,na medida em que com o discernimento e não catadupas
de saberes,provou que se pode mudar tudo com um gesto simples,como no princípio
“ A palavra convence ,mas o exemplo arrasta”.Qual é o maior exemplo disto?Cristo,na
cruz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário