Eu não sou propriamente dono de um estilo de
escrever original,mas me empenhei e me empenho em obter certos dividendos de
reconhecimento e de persuasão em relação a quem lê os meus trabalhos,através de
estilos específicos,de métodos de
escrita,conectados com o meu método de trabalho.Relembrando:eu faço um
trabalho muito aproximado da minha atividade de professor.Como encontrei turmas
muito heterogêneas,precisava fazer um resumo que levasse em consideração esta
heterogeneidade,que se referia(refere) ao nível de maturidade,às condições
psicológicas,origens,interesses,grau de consciência quanto aos objetivos de
estudo,escolaridade,nível de cultura e assim por diante.Realizar um resumo que
consagrasse estas necessidades sem vulgarizar o meu trabalho de
propedeuta,casava e casa perfeitamente com os meus objetivos de pesquisador e
escritor militante:quero fazer um texto que possa ser lido ao mesmo tempo pelo
intelectual e pela pessoa do povo,com o esforço exigível de elevação deste
último e oferecendo algo novo ou atualizado ao primeiro.
O propedeuta mostra os fundamentos ,os conceitos
elementares e elementais aos que o seguem,na condição de cada um.O que ele não
pode é vulgarizar,usando uma linguagem e exemplos inadequados,sem elevação ou
pouco dignos.Mas do básico ele pode e deve se elevar ,sem esquecer as
dificuldades daquele que não tem condições objetivas e subjetivas de acompanhar
o trabalho intelectual permanentemente.
Ao longo da vida outros critérios metodológicos se
juntaram a estes e acrescentaram novos conceitos.Certa feita,como contei há
muitos anos atrás em um artigo,assisti a uma entrevista do falecido Alberto
Dines com o Maestro Isaac Karabitchevsky,em comemoração ao lançamento da
Bachiana Brasileira,com Maria Lùcia Godoy,na Sala Cecília Meirelles.Lá pelas
tantas Dines perguntou ao Maestro como um crítico musical deveria ser e ele respondeu que todo crítico necessitava ser
capaz de ler uma partitura como quem lê um livro e eu aduzi que isto é uma
exigência de alfabetização geral,lembrando de afirmações feitas no tempo do
impeachment de Collor pelo então deputado João Paulo Bisol,dando conta de que
toda alfabetização do homem ,em qualquer
nível,mas notadamente no intelectual,se fixava quando se compreendia a
entrelinha do texto ou de qualquer código.
É assim com o cinema,com a música,com as artes
plásticas,com a mídia,com tudo.Quem tem a expertise de ler a entrelinha de
diversos modos,inclusive elaborando criativamente novos conceitos e critérios,
está no top de linha.
Hoje e agora acrescento o termo lisibilidade,tirado
de Heidegger,segundo o seu pensamento de que só há mundo onde há linguagem.Tudo
o que se observa tem um “ sentido” para
a subjetividade,construído por ela.
O exemplo clássico desta verdade é o poema de
Carlos Drummond de Andrade,” A Pedra”,” Tinha uma pedra no meio do caminho”.Derrida,em
1941,achou Sartre (e ,já,Simone de Beauvoir)num café ,e lhe disse que conhecera
a filosofia de Heidegger e que por ela era ,já,possível,fazer filosofia com e
sobre uma lata de cerveja.Derrida relata que Sartre ficou lívido(porquê?)
Mas isto tudo é verdade,qualquer coisa é
provida de sentido e dá suporte a uma linguagem(ou
o contrário).
A partir daí elaborei o meu principal(mas não o
único)modo de escrever e expor:
Uso o exemplo do “ Homem Vitruviano,para seguir
Heidegger e a lisibilidade do Homem ,mas posso falar de qualquer coisa.Aliás
este artigo inaugura não só um dos meus métodos de exposição,mas uma nova série
de análises sobre o mundo.Mas não vou adiantar nada agora.
Começando com o “ Rei Lear” de Shakespeare,sobre o
qual já escrevi( e voltarei a escrever),exemplifico este meu método de
expressão,em que trabalhei a vida inteira.
Num determinado momento ,em que o personagem está
abandonado e cercado de mendigos,em meio à tempestade,o autor o define:
“EDGAR: Um servidor, de coração e espírito orgulhosos; que ondulava os
cabelos, punha as luvas no chapéu, atendia aos desejos lascivos do coração de
minha senhora, realizando com ela o que se faz nas trevas. Minhas juras eram
tantas quanto minhas palavras e as descumpria todas à luz clara do céu. Eu era
alguém que dormia pensando em projetos de luxúria e acordava para realizá-los.
Amava profundamente o vinho e com ternura os dados; quanto às mulheres eu
superava um turco. Falso de coração, fácil de ouvido, mão sanguinária; porco
pela preguiça, raposa pela astúcia, leão na pilhagem, voraz como um lobo, um
cão raivoso. Não deixes que o ranger de uns sapatos ou o sussurrar de sedas
entreguem teu pobre coração a uma mulher: não põe teu pé nos bordéis, tuas
mãos nas saias, teu nome em livro de usurários; e poderás desafiar o demônio
impuro. O vento gelado continua a soprar pelos ramos do espinheiro; e diz,
zuuum, zuum, munn, num. Delfim, meu rapaz, meu rapaz, cessa! Deixa o vento
trotar!”
cabelos, punha as luvas no chapéu, atendia aos desejos lascivos do coração de
minha senhora, realizando com ela o que se faz nas trevas. Minhas juras eram
tantas quanto minhas palavras e as descumpria todas à luz clara do céu. Eu era
alguém que dormia pensando em projetos de luxúria e acordava para realizá-los.
Amava profundamente o vinho e com ternura os dados; quanto às mulheres eu
superava um turco. Falso de coração, fácil de ouvido, mão sanguinária; porco
pela preguiça, raposa pela astúcia, leão na pilhagem, voraz como um lobo, um
cão raivoso. Não deixes que o ranger de uns sapatos ou o sussurrar de sedas
entreguem teu pobre coração a uma mulher: não põe teu pé nos bordéis, tuas
mãos nas saias, teu nome em livro de usurários; e poderás desafiar o demônio
impuro. O vento gelado continua a soprar pelos ramos do espinheiro; e diz,
zuuum, zuum, munn, num. Delfim, meu rapaz, meu rapaz, cessa! Deixa o vento
trotar!”
Edgar,um personagem
abandonado à própria sorte,como Lear,define a vida humana,sem preocupações e
com as consequências próprias desta atitude.
E Lear o define,bem como à
humanidade:
“LEAR: Estarias melhor na sepultura do que expondo teu corpo nu a tais
extremos do céu. O homem é apenas isto? Observem-no bem. Não deve a seda
ao verme, a pele ao animal, a lã à ovelha, nem seu odor ao almisca-reiro. Ah!
aqui estamos nós três, tão adulterados. Tu não, tu és a própria coisa. O homem,
sem os artifícios da civilização, é só um pobre animal como tu, nu e bifurcado.”(Rei Lear,Ato III,cena IV)
extremos do céu. O homem é apenas isto? Observem-no bem. Não deve a seda
ao verme, a pele ao animal, a lã à ovelha, nem seu odor ao almisca-reiro. Ah!
aqui estamos nós três, tão adulterados. Tu não, tu és a própria coisa. O homem,
sem os artifícios da civilização, é só um pobre animal como tu, nu e bifurcado.”(Rei Lear,Ato III,cena IV)
Este é um dos momentos sublimes
da humanidade,que se põe como tal,no Reanscimento.Com o afrouxamento das
barreiras repressivas e a liberdade de investigação e criação,foi possível, em
meio a tantos conhecimentos ,achar o seu
ente (aquilo que se põe à
maneira de algo [Heidegger]),inaugurando,bem antes do século XX ,uma visão existencialista e fenomenológica .
“O homem,
sem os artifícios da civilização, é só um pobre animal como tu, nu e bifurcado”.Há aqui um despojamento de essências próprias do homem,caracterizadoras dos múltiplos entes ,modos ,pelos quais ele(o homem)se manifesta(na civilização).Dir-se-ia há um desvelamento .O Ser é velado ,a filosofia o desvela ,o “ descobre”,até achar a coisa (“Tu não, tu és a própria coisa”).Dos entes até à própria “ coisa” e dela aos entes ,dir-se-ia dialeticamente,que o homem é esta passagem permanente(criação permanente),que lhe dá sentido(segundo suas escolhas[estimação]{axiologia}).
sem os artifícios da civilização, é só um pobre animal como tu, nu e bifurcado”.Há aqui um despojamento de essências próprias do homem,caracterizadoras dos múltiplos entes ,modos ,pelos quais ele(o homem)se manifesta(na civilização).Dir-se-ia há um desvelamento .O Ser é velado ,a filosofia o desvela ,o “ descobre”,até achar a coisa (“Tu não, tu és a própria coisa”).Dos entes até à própria “ coisa” e dela aos entes ,dir-se-ia dialeticamente,que o homem é esta passagem permanente(criação permanente),que lhe dá sentido(segundo suas escolhas[estimação]{axiologia}).
Não se esqueça
que,antes,Lear se refere à perversão da civilização ,nele próprio exemplificada,mas
isto falarei em artigo próximo.
A ressaltar o insight antes da teoria da evolução,de
compará-lo ao animal.Um momento de ciência.
Dando um pulo para o livro “
O Conde de Monte Cristo”,de Alexandre Dumas filho,o Abade Faria,preso político
junto com Edmond Dantès,ocupa o seu tempo com a figura do homem(desenhada por
ele na cela),identificando-lhe possibilidades,sentidos,valores e essências:
A cabeça:razão(causa[racionalização]{razão
de Ser das coisas}),ciência(gnosiologia[objetividade]{compreensão(descrição)}),conhecimento(Filosofia),valores(estimação[escolhas]{liberdade})
et al.
Cabeça e corpo:
Arte,imaginação,sensibilidade(Kant)(sentidos[emoções]{sentimentos}),dores(Cristo),prazer(Freud[libido]).
Mãos:
O
trabalho(transformação,pelo trabalho,do macaco em Homem[Engels]{do animal ao
homem[Delleuze]}).Apontar com os dedos(police[latim]{policia[povos
policiados]Rousseau}).Império Romano(Police verso,Police
reverso[História]{costumes}).
E finalmente,sexo:
(Ui!).Prazer(contato com o
corpo),desejo(com o mundo[com a mulher]{com parceiro do emsmo sexo}),orgasmo(psicologia[biologia]{animalidade,humanidade}),beleza(erótico[sexual]),reprodução(família[juventude]{velhice})
et al.
O meu método principal de exposição
é este,cheio de chaves,parêntesis,claves,a demonstrar a referida lisibilidade
das coisas,do mundo.
Há que explicar aos muitos
leitores dos meus artigos,que é impossível que eu escolha uma faixa de pessoas.Dirijo-me
a todos,mas se isto tem vantagens ,tem desvantagens:muitos temas são conhecidos
por certas faixas e desconhecidas por outras.Mas tal fato tem um valor pedagógico
para quem lê:diminui a egocentria de achar que o mundo é feito para a
subjetividade e ensina a quem deixa de
lado este erro infantil que o mundo é vasto(que existem os outros).Além
do mais a pessoa que lê tem o direito(se tiver condição)de acrescentar
chavinhas,conceitos e critérios.É uma oportunidade(mais uma) de interagir
comigo de igual para igual.
Ah!As mulheres vão reclamar
do meu machismo ao usar só o “ Homem Vitruviano”,então eu usarei Adão e Eva:
De Lucas Cranach,o Velho.
Mas como a mulher vai
reclamar que eu a pus na dependência do homem,a colocarei sozinha:
E farei como no “ Homem Vitruviano”,em
próximo artigo:
e...
E como o pessoal homoafetivo
também vai reclamar outra pintura eu analisarei(em próximo artigo)a pintura “ O
Rapto das sabinas” de David,em que a figura andrógina central desponta:
e...
Este estilo de expressão é
meu e está registrado.Quem copiar eu processo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário