quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Cristo não é iluminista nem anti-iluminista.Ainda bem


Quase dois mil anos antes do cientificismo do  século XIX dizer que tudo começou com ele e com a ciência,Cristo já havia mostrado que a razão não é sozinha,mas está junta com o corpo e com tudo o que  ele porta:sentimentos;emoções;desejos;dor;prazer e toda a gama de irracionalidades próprias e presentes no Ser Humano,este Ser incerto,como advertirá Nietzsche,um dos diluidores do Iluminismo.
Não é que Cristo seja anti-iluminista,mas um seu limitador.O seu epíteto de Cristo-na-cruz,resume a sua vida e de parte da humanidade.As interpretações e usos políticos  do cristianismo criaram a idéia de que  a religião é só superstição e convencimento à genuflexão.Isto sem falar na certeza da ciência.
Nós vemos em Dostoievski e em Tolstoi a discussão sobre  o “ oferecer a face esquerda”.Como conciliá-lo com a luta contra a injustiça  e ,no âmago destes diluidores da ideologia científica,percebe-se cada vez mais que a narrativa de Cristo é mais do que estas afirmações ateístico-iluministas que começaram com Voltaire (mas não só ele),no século XVIII.
Numa humanidade predominantemente iletrada ,os gestos,os atos corpóreos são plenos de significados e discursos possíveis.Cristo consagra(como seu nome)uma extensa atividade martirológica judaica(mas não só),destinada a unificar povos ,em torno de  idéias e de exemplo real.
Ele é a intersecção de múltiplas tendências que unificam a humanidade,por aquilo que lhe é mais comum:a dor,o sofrimento.A partir daqui se constrói toda uma luta em torno de uma utopia que elimine o sofrimento,embora o sofrimento de Cristo-na-cruz,seu epiteto,não seja só isso.Para os fins deste artigo me manterei nesta questão do sofrimento.
A ideologia iluminista do progresso vendeu a idéia de que ela finalmente solucionaria os dramas humanos,mas não só a história a desmentiu,como provou a tacanhez da razão auto-referenciada,que só busca a explicação e submete a existência a este liame.
Certo,houve a luta de Kierkegaard;certo,tudo isto é uma questão de poder que obscurece a busca da verdade;certo houve outros diluidores;mas era possível dissentir da ciência antes de sua ideologia,  e isto foi notado ao longo da história, no fato de que ela não começou na ciência e nem em Cristo,que é “ só” passagem,já que o sofrimento já existia antes dele como verdade objetiva não reconhecida(ou reconhecida anonimamente).
Cristo é reconhecimento,lembrança,corpo( e seus atributos)que perpassam o tempo.
Será que é mera coincidência que um outro judeu tenha sido o diluidor definitivo da certeza científica,Freud? O sofrimento do corpo, a sua realidade,está no martirológio judeu e possivelmente só alguém com esta noção entranhada poderia mais do que notar esta limitação da razão,mas verificar que o mundo é mais do que ela.O Judeu inclusive tem uma repulsa à mutilação do corpo.


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