Quase dois mil anos antes do cientificismo do século XIX dizer que tudo começou com ele e
com a ciência,Cristo já havia mostrado que a razão não é sozinha,mas está junta
com o corpo e com tudo o que ele
porta:sentimentos;emoções;desejos;dor;prazer e toda a gama de irracionalidades
próprias e presentes no Ser Humano,este Ser incerto,como advertirá Nietzsche,um
dos diluidores do Iluminismo.
Não é que Cristo seja anti-iluminista,mas um seu
limitador.O seu epíteto de Cristo-na-cruz,resume a sua vida e de parte da
humanidade.As interpretações e usos políticos
do cristianismo criaram a idéia de que a religião é só superstição e convencimento à
genuflexão.Isto sem falar na certeza da ciência.
Nós vemos em Dostoievski e em Tolstoi a discussão
sobre o “ oferecer a face esquerda”.Como
conciliá-lo com a luta contra a injustiça
e ,no âmago destes diluidores da ideologia científica,percebe-se cada
vez mais que a narrativa de Cristo é mais do que estas afirmações ateístico-iluministas
que começaram com Voltaire (mas não só ele),no século XVIII.
Numa humanidade predominantemente iletrada ,os
gestos,os atos corpóreos são plenos de significados e discursos possíveis.Cristo
consagra(como seu nome)uma extensa atividade martirológica judaica(mas não
só),destinada a unificar povos ,em torno de
idéias e de exemplo real.
Ele é a intersecção de múltiplas tendências que
unificam a humanidade,por aquilo que lhe é mais comum:a dor,o sofrimento.A
partir daqui se constrói toda uma luta em torno de uma utopia que elimine o
sofrimento,embora o sofrimento de Cristo-na-cruz,seu epiteto,não seja só
isso.Para os fins deste artigo me manterei nesta questão do sofrimento.
A ideologia iluminista do progresso vendeu a idéia
de que ela finalmente solucionaria os dramas humanos,mas não só a história a
desmentiu,como provou a tacanhez da razão auto-referenciada,que só busca a
explicação e submete a existência a este liame.
Certo,houve a luta de Kierkegaard;certo,tudo isto é
uma questão de poder que obscurece a busca da verdade;certo houve outros
diluidores;mas era possível dissentir da ciência antes de sua ideologia, e isto foi notado ao longo da história, no
fato de que ela não começou na ciência e nem em Cristo,que é “ só” passagem,já
que o sofrimento já existia antes dele como verdade objetiva não reconhecida(ou
reconhecida anonimamente).
Cristo é reconhecimento,lembrança,corpo( e seus
atributos)que perpassam o tempo.
Será que é mera coincidência que um outro judeu
tenha sido o diluidor definitivo da certeza científica,Freud? O
sofrimento do corpo, a sua realidade,está no martirológio judeu e possivelmente
só alguém com esta noção entranhada poderia mais do que notar esta limitação da
razão,mas verificar que o mundo é mais do que ela.O Judeu inclusive tem uma
repulsa à mutilação do corpo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário