Engels
pronunciou o discurso fúnebre no enterro de Marx,em março de 1883.Nele Engels
ressalta a contribuição para a ciência de Marx,colocando-o ao lado de
Darwin.Segundo ele Marx havia feito a descoberta “ Mais-Valia” e isto,por si
só,o punha ao nível dos grandes cientistas da humanidade.
O
leitor que me acompanha diuturnamente há de lembrar algumas observações que
tenho feito a respeito dos cientistas e da História da ciência,que é contada
retrospectivamente por quem já detém um conhecimento amplo da natureza e da
sociedade.
Desde
que tratei do problema do “ corte epistemológico” como invenção de
empoderamento e autoridade tenho mostrado como as coisas não acontecem assim na
busca do conhecimento.
Da
mesma forma tenho mostrado que as contribuições dos grandes cientistas dependem
do esforço de outrem e de até de pessoas não formadas,não cientistas;e que a
distância entre o “ salto” e estas
contribuições e lutas que o cercam não é tão grande assim.
E
finalmente fixei a idéia,que provém primeiro de Ortega y Gasset,de que ,depois
de Galileu todos sonharam em criar uma ciência.O exemplo que dei na época foi o
de Freud,que numa alocução gravada já na velhice,afirmava ter “ descoberto uma
nova ciência”,segundo ele “ um pedacinho de sorte”.
Acrescentando
algo ,devo dizer que Galileu descobriu a mecânica,não a física.Descobriu parte
dela,não ela toda,que continua evoluindo.E esta observação sobre Freud cabe
também em relação a Marx e Engels.
Neste
artigo eu quero iniciar um estudo sobre esta distância entre Marx e os outros
pesquisadores da economia política,porque ,nos meus estudos prévios
,confirma-se ,pelo menos,uma dúvida,quanto à originalidade de Marx e a sua
distância em relação a economistas como Ricardo,Eduard Thompson,Bray,Rodbertus
e até Adam Smith,sem falar em Proudhon.
O
leitor relembre que estas dúvidas foram desencadeadas em meu cérebro quando ,há
muitos anos,estudando na UERJ, um velho anarquista,diante do meu proclamado
interesse por Marx,redargüiu:” Marx copiou tudo de Proudhon”.O escândalo que me
causou esta afirmação ,diante de mim,ainda um dogmático,suprimiu as dúvidas,mas
com o tempo da vida seguindo e com ele a maturidade chegando(derivada de muitas
leituras,já agora não dogmáticas),elas voltaram firmes e encontram nesta minha
intenção de pesquisador uma realização plena.
Já
me referi à distância e aos condicionamentos de Einstein e agora quero fazê-lo
com respeito a Marx.
Os
livros dos chamados “ socialistas utópicos”(Engels) foram banidos pelos
bolcheviques do cânon comunista identificado com a URSS.A questão social,que eu
quero que continue foi consolidada pelos anarquistas.O meu já citado velho
professor Maciel,que freqüentemente indicava a importância deste movimento(que
ele,de certo modo ,seguia),tem em mim agora um reflexo .Após a revolução de
outubro,todo o movimento social pareceu convergir e depender da
URSS,que,supostamente tinha provado as teorias de Marx.
Como
o leitor tem visto,não é bem assim,e a realidade do fim do comunismo confirma
isto.
Mas
os anarquistas tiveram imensa participação,inclusive na revolução russa(alguns
foram fuzilados),bem como outros “socialistas utópicos”:Sismondi,com a teoria
do subconsumo;Saint-Simon que ajudou no caminho da construção da
sociologia,através de seu discípulo Auguste Comte;e os economistas citados
acima.
Marx nunca disse que ele criou ou descobriu a teoria da mais valia,tendo estudado todas as que o antecederam e as de sua época(Rodbertus).O que ele disse e foi o que Engels disse,é que estavam erradas e que a dele era a certa.
Marx nunca disse que ele criou ou descobriu a teoria da mais valia,tendo estudado todas as que o antecederam e as de sua época(Rodbertus).O que ele disse e foi o que Engels disse,é que estavam erradas e que a dele era a certa.
Os
anarquistas,cujo primeiro prócer foi Proudhon,alegam que todo este pensamento
prévio já era conhecido de seu “
iniciador” e que suas respostas são as mesmas de Marx e dadas antes dele.Ou
seja,Marx teria realmente “ copiado” as teses de Proudhon.Será assim mesmo?
Nós
sabemos o contexto histórico da relação pessoal entre Marx e Proudhon(bem como
com Bakunin).Marx foi a Paris e encontrou-se com Proudhon lá.Inicialmente a
relação foi muito amistosa e até de admiração,mas repentinamente Marx voltou-se
contra ele e contra Bakunin.Edmund Wilson,crítico e marxista estadunidense diz que a causa foi o
apoio de Proudhon a Karl Grun,inimigo de Marx,mas eu não creio que Marx tenha
se jogado contra ele só por uma questão política ou pessoal,tendo escrito um
livro essencial para rebater as concepções de Proudhon ,” A miséria da
Filosofia”,em resposta à “ Filosofia da miséria”.
Os
anarquistas publicaram este livro recentemente,bem como os outros, e fizeram
notas ,mostrando como Marx se inspirou em Proudhon,sem citá-lo,como devia,em em todo o Capital ,sequer uma única vez .
Um
dos capítulos iniciais do livro de Proudhon intitula-se “ Valor de troca e
valor de uso”,que marca o referido “ Plágio” e que é criticado por
Marx.Começaremos por aí.
Devo
dizer que o vocabulário de Marx me parece muito mais rigoroso e o dos
socialistas utópicos eivados de afirmações,conceitos e categorias
imprecisos,mas ,em principio isto não prova nada.
E
mais:numa atitude que eu considero irônica ,Marx começa com a oposição (dialética)entre
valo de uso e valor de troca,baseando-se em Aristóteles ,em seu livro “
Economia”.Quem copiou quem?Marx a Proudhon,ou ambos de Aristóteles?Vamos ver.
Na
verdade,como narra Marx Beer,em sua “ História das Lutas Sociais”,a dicotomia “
valor de troca e valor de uso” já era conhecida do filósofo Fichte,que
preconizava que a sociedade devia considerar somente o segundo valor como
legítimo.Lembre o leitor que o comunismo já existia no século de Fichte ,o
XVIII(Lessing),o século do Iluminismo Alemão(Aufklarung).
Mais
a bem da verdade ainda,o que caracteriza o “ socialismo utópico” é esta crença de
que basta trocar as mercadorias pelo valor de uso.Não vejo ainda este traço
impreciso em Proudhon,mas Marx demonstra acertadamente que esta é uma visão
romântica,impossível de realizar numa sociedade capitalista complexa e o começo
de sua diferenciação destes pensadores se dá no conceito de “ trabalho
socialmente necessário(no tempo)para a produção das mercadorias”,coisa que eu
encontrei no livro de Proudhon.Os falanstérios,as icárias são tentativas de
romper com o capitalismo,infrutíferas,embora válidas para determinados grupos.A “ sociedade
alternativa” de 68 tem origem nestes delírios(que não são tanto assim),mas será
que Proudhon comunga deles?
Há
muitos anos atrás eu escrevi no meu blog a Ponte,que se tornou um livro( e se
tornará outro)que Marx era realmente um colador.Idéias de outros pensadores
foram tomadas por ele ,sem a devida citação ,e avulta em importância o conceito
de “ Ditadura do Proletariado”,que veio de Blanqui.Mas não só este.Quando Lassalle quis apresentar o jovem Engels ao jovem Marx
disse que conhecia um “ sujeito” que era a mistura de Voltaire e Lessing”.Voltaire
era conhecido por não ser um filósofo original.Vamos ver.
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