sexta-feira, 20 de abril de 2018

O Papel de Marx na elaboração da teoria da Mais-Valia


Engels pronunciou o discurso fúnebre no enterro de Marx,em março de 1883.Nele Engels ressalta a contribuição para a ciência de Marx,colocando-o ao lado de Darwin.Segundo ele Marx havia feito a descoberta “ Mais-Valia” e isto,por si só,o punha ao nível dos grandes cientistas da humanidade.
O leitor que me acompanha diuturnamente há de lembrar algumas observações que tenho feito a respeito dos cientistas e da História da ciência,que é contada retrospectivamente por quem já detém um conhecimento amplo da natureza e da sociedade.
Desde que tratei do problema do “ corte epistemológico” como invenção de empoderamento e autoridade tenho mostrado como as coisas não acontecem assim na busca do conhecimento.
Da mesma forma tenho mostrado que as contribuições dos grandes cientistas dependem do esforço de outrem e de até de pessoas não formadas,não cientistas;e que a distância entre o “ salto” e  estas contribuições e lutas que o cercam não é tão grande assim.
E finalmente fixei a idéia,que provém primeiro de Ortega y Gasset,de que ,depois de Galileu todos sonharam em criar uma ciência.O exemplo que dei na época foi o de Freud,que numa alocução gravada já na velhice,afirmava ter “ descoberto uma nova ciência”,segundo ele “ um pedacinho de sorte”.
Acrescentando algo ,devo dizer que Galileu descobriu a mecânica,não a física.Descobriu parte dela,não ela toda,que continua evoluindo.E esta observação sobre Freud cabe também em relação a Marx e Engels.
Neste artigo eu quero iniciar um estudo sobre esta distância entre Marx e os outros pesquisadores da economia política,porque ,nos meus estudos prévios ,confirma-se ,pelo menos,uma dúvida,quanto à originalidade de Marx e a sua distância em relação a economistas como Ricardo,Eduard Thompson,Bray,Rodbertus e até Adam Smith,sem falar em Proudhon.
O leitor relembre que estas dúvidas foram desencadeadas em meu cérebro quando ,há muitos anos,estudando na UERJ, um velho anarquista,diante do meu proclamado interesse por Marx,redargüiu:” Marx copiou tudo de Proudhon”.O escândalo que me causou esta afirmação ,diante de mim,ainda um dogmático,suprimiu as dúvidas,mas com o tempo da vida seguindo e com ele a maturidade chegando(derivada de muitas leituras,já agora não dogmáticas),elas voltaram firmes e encontram nesta minha intenção de pesquisador uma realização plena.
Já me referi à distância e aos condicionamentos de Einstein e agora quero fazê-lo com respeito a Marx.
Os livros dos chamados “ socialistas utópicos”(Engels) foram banidos pelos bolcheviques do cânon comunista identificado com a URSS.A questão social,que eu quero que continue foi consolidada pelos anarquistas.O meu já citado velho professor Maciel,que freqüentemente indicava a importância deste movimento(que ele,de certo modo ,seguia),tem em mim agora um reflexo .Após a revolução de outubro,todo o movimento social pareceu convergir e depender da URSS,que,supostamente tinha provado as teorias de Marx.
Como o leitor tem visto,não é bem assim,e a realidade do fim do comunismo confirma isto.
Mas os anarquistas tiveram imensa participação,inclusive na revolução russa(alguns foram fuzilados),bem como outros “socialistas utópicos”:Sismondi,com a teoria do subconsumo;Saint-Simon que ajudou no caminho da construção da sociologia,através de seu discípulo Auguste Comte;e os economistas citados acima.
Marx nunca disse que ele criou ou descobriu a teoria da mais valia,tendo estudado todas as que o antecederam e as de sua época(Rodbertus).O que ele disse e foi o que Engels disse,é que estavam erradas e que a dele era a certa.
Os anarquistas,cujo primeiro prócer foi Proudhon,alegam que todo este pensamento prévio já era conhecido de seu  “ iniciador” e que suas respostas são as mesmas de Marx e dadas antes dele.Ou seja,Marx teria realmente “ copiado” as teses de Proudhon.Será assim mesmo?
Nós sabemos o contexto histórico da relação pessoal entre Marx e Proudhon(bem como com Bakunin).Marx foi a Paris e encontrou-se com Proudhon lá.Inicialmente a relação foi muito amistosa e até de admiração,mas repentinamente Marx voltou-se contra ele e contra Bakunin.Edmund Wilson,crítico e  marxista estadunidense diz que a causa foi o apoio de Proudhon a Karl Grun,inimigo de Marx,mas eu não creio que Marx tenha se jogado contra ele só por uma questão política ou pessoal,tendo escrito um livro essencial para rebater as concepções de Proudhon ,” A miséria da Filosofia”,em resposta à “ Filosofia da miséria”.
Os anarquistas publicaram este livro recentemente,bem como os outros, e fizeram notas ,mostrando como Marx se inspirou em Proudhon,sem citá-lo,como devia,em em todo o Capital ,sequer uma única vez .
Um dos capítulos iniciais do livro de Proudhon intitula-se “ Valor de troca e valor de uso”,que marca o referido “ Plágio” e que é criticado por Marx.Começaremos por aí.
Devo dizer que o vocabulário de Marx me parece muito mais rigoroso e o dos socialistas utópicos eivados de afirmações,conceitos e categorias imprecisos,mas ,em principio isto não prova nada.
E mais:numa atitude que eu considero irônica ,Marx começa com a oposição (dialética)entre valo de uso e valor de troca,baseando-se em Aristóteles ,em seu livro “ Economia”.Quem copiou quem?Marx a Proudhon,ou ambos de Aristóteles?Vamos ver.
Na verdade,como narra Marx Beer,em sua “ História das Lutas Sociais”,a dicotomia “ valor de troca e valor de uso” já era conhecida do filósofo Fichte,que preconizava que a sociedade devia considerar somente o segundo valor como legítimo.Lembre o leitor que o comunismo já existia no século de Fichte ,o XVIII(Lessing),o século do Iluminismo Alemão(Aufklarung).
Mais a bem da verdade ainda,o que caracteriza o “ socialismo utópico” é esta crença de que basta trocar as mercadorias pelo valor de uso.Não vejo ainda este traço impreciso em Proudhon,mas Marx demonstra acertadamente que esta é uma visão romântica,impossível de realizar numa sociedade capitalista complexa e o começo de sua diferenciação destes pensadores se dá no conceito de “ trabalho socialmente necessário(no tempo)para a produção das mercadorias”,coisa que eu encontrei no livro de Proudhon.Os falanstérios,as icárias são tentativas de romper com o capitalismo,infrutíferas,embora válidas  para determinados grupos.A “ sociedade alternativa” de 68 tem origem nestes delírios(que não são tanto assim),mas será que Proudhon comunga deles?
Há muitos anos atrás eu escrevi no meu blog a Ponte,que se tornou um livro( e se tornará outro)que Marx era realmente um colador.Idéias de outros pensadores foram tomadas por ele ,sem a devida citação ,e avulta em importância o conceito de “ Ditadura do Proletariado”,que veio de Blanqui.Mas não só este.Quando Lassalle  quis apresentar o jovem Engels ao jovem Marx disse que conhecia um “ sujeito” que era a mistura de Voltaire e Lessing”.Voltaire era conhecido por não ser um filósofo original.Vamos ver.

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