Estudando
a época de Napoleão ,tida e havida como a do estabelecimento da hegemonia da
burguesia,percebi que a idéia de progresso inerente a ela é muito
duvidosa,ainda mais se o relacionarmos
com a liberdade.
Diz-se
freqüentemente que ,depois da Revolução Francesa e Napoleão ficamos todos com
mania de ciência,mas ficamos também com mania de associar o progresso com a
liberdade e entendemos que esta busca é obrigatória,bem como a do progresso.
Contudo,se
olharmos para as campanhas de Napoleão,na sua relação com a política e com
estes “ novos ideais”,veremos que muitos se recusaram a lhes aderir. Muitos
preferiram ficar com seus senhores na servidão.Na Áustria muitos servos
preferiram a certeza de proteção até ao final da vida,aos riscos das aventuras
no exército napoleônico,que era inteiramente internacional,reunindo não só
franceses,mas também outros povos da Europa.inclusive da Áustria.A certeza de
comer até ao fim da vida justificava o imobilismo.
Isto
põe a questão de como tratar o problema social e político da liberdade.A liberdade,como
potencialidade humana,desenvolvimento das capacidades humanas,é algo muito bonito,mas
a realidade social concreta é muito diferente e lhe constitui um impedimento.
A
proposta comunista de Marx,como de resto a de toda a tradição comunista,busca a
conciliação destes dois princípios,mas,mesmo aí,a mediação das necessidades
sociais impõe uma barreira a considerar.
Eu
sempre cito Lester Turow,guru do ex-presidente Clinton,a respeito dos regimes
sociais:sempre que um projeto quer convencer o homem a lutar por ele,afirma a
sua relação incontestável com a liberdade e com as potencialidades humanas.Foi
assim( e é)com o capitalismo,e com o comunismo.E como prova da justeza desta
assertiva,aduz-se o fato de sua durabilidade,de sua duração.
Mas,diz
Lester Turow:se é assim,uma questão de tempo,ou melhor,se o tempo prova a
eficácia do projeto,porque não considerar(como faz a direita neonazista
moderna)a escravidão o melhor regime?O melhor modo-de-produção?Pois durou 6.000
anos,sem falar no período em que coabitou com o capitalismo.
Isto
prova que a utopia tem um código que deve ser construído a partir dos desejos
de toda a sociedade,incluindo elementos,valores,critérios,condicionados
pelo tempo histórico.Não há espaço para nenhum monismo,nem mesmo baseado na
liberdade,como valor supostamente universal.
Fatores
outros e complexos precisam ser
reconhecidos se se quiser a utopia,porque nem a liberdade é absoluta.A Utopia
parece ser um absoluto,mas o absoluto é questionável,no mínimo.
A
Utopia comunista,fundando o seu critério básico na satisfação das necessidades
parece estar mais próxima da servidão do que da liberdade,mas esta desdenha
ilusòriamente das necessidades.
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