domingo, 29 de abril de 2018

A escolha nada tem a ver com a liberdade


Estudando a época de Napoleão ,tida e havida como a do estabelecimento da hegemonia da burguesia,percebi que a idéia de progresso inerente a ela é muito duvidosa,ainda mais se o relacionarmos  com a  liberdade.
Diz-se freqüentemente que ,depois da Revolução Francesa e Napoleão ficamos todos com mania de ciência,mas ficamos também com mania de associar o progresso com a liberdade e entendemos que esta busca é obrigatória,bem como a do progresso.
Contudo,se olharmos para as campanhas de Napoleão,na sua relação com a política e com estes “ novos ideais”,veremos que muitos se recusaram a lhes aderir. Muitos preferiram ficar com seus senhores na servidão.Na Áustria muitos servos preferiram a certeza de proteção até ao final da vida,aos riscos das aventuras no exército napoleônico,que era inteiramente internacional,reunindo não só franceses,mas também outros povos da Europa.inclusive da Áustria.A certeza de comer até ao fim da vida justificava o imobilismo.
Isto põe a questão de como tratar o problema social e político da liberdade.A liberdade,como potencialidade humana,desenvolvimento das capacidades humanas,é algo muito bonito,mas a realidade social concreta é muito diferente e lhe constitui um impedimento.
A proposta comunista de Marx,como de resto a de toda a tradição comunista,busca a conciliação destes dois princípios,mas,mesmo aí,a mediação das necessidades sociais impõe uma barreira a considerar.
Eu sempre cito Lester Turow,guru do ex-presidente Clinton,a respeito dos regimes sociais:sempre que um projeto quer convencer o homem a lutar por ele,afirma a sua relação incontestável com a liberdade e com as potencialidades humanas.Foi assim( e é)com o capitalismo,e com o comunismo.E como prova da justeza desta assertiva,aduz-se o fato de sua durabilidade,de sua duração.
Mas,diz Lester Turow:se é assim,uma questão de tempo,ou melhor,se o tempo prova a eficácia do projeto,porque não considerar(como faz a direita neonazista moderna)a escravidão o melhor regime?O melhor modo-de-produção?Pois durou 6.000 anos,sem falar no período em que coabitou com o capitalismo.
Isto prova que a utopia tem um código que deve ser construído a partir dos desejos de  toda  a sociedade,incluindo elementos,valores,critérios,condicionados pelo tempo histórico.Não há espaço para nenhum monismo,nem mesmo baseado na liberdade,como valor supostamente universal.
Fatores outros e  complexos precisam ser reconhecidos se se quiser a utopia,porque nem a liberdade é absoluta.A Utopia parece ser um absoluto,mas o absoluto é questionável,no mínimo.
A Utopia comunista,fundando o seu critério básico na satisfação das necessidades parece estar mais próxima da servidão do que da liberdade,mas esta desdenha ilusòriamente das necessidades.

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