quarta-feira, 20 de junho de 2018

A miséria do materialismo


Todo materialismo é constatativo,como o histórico.Aliás este é seu mérito maior:ele desvela diante de olhos iludidos a verdade das coisas.Contudo quando o materialismo se põe como “ projeto” filosófico desanda.
Quando o materialismo diz “ matéria” ele se refere exatamente a quê?À matéria que  constitui os seres?Mas a matéria se apresenta indistinta,nos seres?Qualquer Ser que se analise,nas suas partes constitutivas,sempre apresentará uma forma de existência e mesmo a matéria de que são feitos os Seres possuem “ qualidades”,atributos,que lhes inerem,como cor,tipo de material,a própria forma e assim por diante.
Um exemplo:uma mesa é feita de uma forma específica,um material determinado,madeira ,com cores e designs diversos.Se nós a destruirmos em vários pedaços,de maneira que não se saiba mais do que se trata ,isto não será necessariamente uma “ matéria” “ pura”,uma “ physis”,que é um outro nome destes dois.Será uma ruína de algo produzido pelo  homem,culturalmente.Se quisermos poderemos chamar isto de “ resíduos”,mas nunca de “ matéria”,que é uma abstração.Uma abstração vazia!!!Extraída de padrões de continuidade das coisas,dos seres,segundo um procedimento mental que limita os atributos infinitos(admissíveis[quer dizer se existe infinitude])delas próprias.As coisas possuem elementos análogos que as constituem.
Por isso faço sempre uma afirmação que é tida como muito escandalosa,qual seja é de que o verdadeiro idealismo é o “ materialismo” e que o criticismo(Kant) é o materialismo possível e conseqüente(do ponto de vista   lógico e da relação da linguagem com a realidade)porque reconhece estas limitações.
Não é à toa que Marx se colocou sempre como “ crítico”,mas isto é uma contradição do seu pensamento e uma imposição inevitável de todo materialismo,porque ele  acredita (o termo religioso é este)que existam leis dialéticas objetivas do movimento da matéria.Então ele é um crítico todo torto(gauche na vida)da realidade e neste sentido ele é vítima de sua própria crítica pois acredita que superou a ideologia como consciência falsa.Mas na verdade está criando outra,colocando outros véus místicos,que passaram para o movimento comunista.
Na medida em que o trabalhador,operário, reconhece nesta ciência a sua condição de explorado,desalienando-se,tem facilidade para compreender o processo de exploração do capital,inclusive,mais do que os outros,os integrantes da classe média e da burguesia.
Contudo o ato em si de tomada de consciência do que acontece no mundo é subjetivo e não secretado pela condição objetiva (física,corpórea?).Ou é o corpo a condição da consciência ou a subjetividade,que demonstra a sua relação  com ele.Como o corpo ,sem a consciência,não “ fala”,precisando dela para tanto,somente a segunda assertiva é exata:é lógico que não existe consciência(humana)sem corpo,mas a consciência desta relação se dá na e pela subjetividade(tomada de consciência),não sendo senão uma forma de “misticismo cientificista” o dizer “ consciência de fora para dentro”.
Kant e o seu criticismo são as condições para evitar estes qüiproquós ideológicos.A razão que acredita restituir,pela linguagem,o mundo,seja por qual filosofia for,materialismo, metafísica ,sempre será ideológica,se não reconhecer a realidade do corpo,onde está a sensibilidade,que a limita,no mundo.Só pode haver significado e sentido  naquilo que tem limite,porque não se pode explicar o mundo todo.Se fosse,o conhecimento,constatativo,pararia,nos umbrais da realidade.Como o homem não tem certeza do “ Nec plus ultra”,tem que,como Dédalo,admitir um limite até onde ir e que toda constatação não é definitiva,não pode ser.
A razão(constatativa)é ideológica ,porque crê abraçar tudo:e se desideologiza se  se vê na realidade do limite.Materialismo,histórico,dialético e outros se não reconhecem os seus limites se  tornam o que são:ilusões e metafísica(sistemas fechados[razão que tudo abarca]{adequação absoluta/que não é senão ilusão ideológica/}).

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