Todo
materialismo é constatativo,como o histórico.Aliás este é seu mérito maior:ele
desvela diante de olhos iludidos a verdade das coisas.Contudo quando o
materialismo se põe como “ projeto” filosófico desanda.
Quando
o materialismo diz “ matéria” ele se refere exatamente a quê?À matéria que constitui os seres?Mas a matéria se apresenta
indistinta,nos seres?Qualquer Ser que se analise,nas suas partes
constitutivas,sempre apresentará uma forma de existência e mesmo a matéria de
que são feitos os Seres possuem “ qualidades”,atributos,que lhes inerem,como
cor,tipo de material,a própria forma e assim por diante.
Um
exemplo:uma mesa é feita de uma forma específica,um material determinado,madeira
,com cores e designs diversos.Se nós a destruirmos em vários pedaços,de maneira
que não se saiba mais do que se trata ,isto não será necessariamente uma “
matéria” “ pura”,uma “ physis”,que é um outro nome destes dois.Será uma ruína
de algo produzido pelo
homem,culturalmente.Se quisermos poderemos chamar isto de “ resíduos”,mas
nunca de “ matéria”,que é uma abstração.Uma abstração vazia!!!Extraída de
padrões de continuidade das coisas,dos seres,segundo um procedimento mental que
limita os atributos infinitos(admissíveis[quer dizer se existe infinitude])delas
próprias.As coisas possuem elementos análogos que as constituem.
Por
isso faço sempre uma afirmação que é tida como muito escandalosa,qual seja é de
que o verdadeiro idealismo é o “ materialismo” e que o criticismo(Kant) é o
materialismo possível e conseqüente(do ponto de vista lógico
e da relação da linguagem com a realidade)porque reconhece estas limitações.
Não
é à toa que Marx se colocou sempre como “ crítico”,mas isto é uma contradição
do seu pensamento e uma imposição inevitável de todo materialismo,porque ele acredita (o termo religioso é este)que existam
leis dialéticas objetivas do movimento da matéria.Então ele é um crítico todo
torto(gauche na vida)da realidade e neste sentido ele é vítima de sua própria
crítica pois acredita que superou a ideologia como consciência falsa.Mas na
verdade está criando outra,colocando outros véus místicos,que passaram para o
movimento comunista.
Na
medida em que o trabalhador,operário, reconhece nesta ciência a sua condição de
explorado,desalienando-se,tem facilidade para compreender o processo de exploração
do capital,inclusive,mais do que os outros,os integrantes da classe média e da
burguesia.
Contudo
o ato em si de tomada de consciência do que acontece no mundo é subjetivo e não
secretado pela condição objetiva (física,corpórea?).Ou é o corpo a condição da
consciência ou a subjetividade,que demonstra a sua relação com ele.Como o corpo ,sem a consciência,não “
fala”,precisando dela para tanto,somente a segunda assertiva é exata:é lógico
que não existe consciência(humana)sem corpo,mas a consciência desta relação se
dá na e pela subjetividade(tomada de consciência),não sendo senão uma forma de “misticismo
cientificista” o dizer “ consciência de fora para dentro”.
Kant
e o seu criticismo são as condições para evitar estes qüiproquós ideológicos.A
razão que acredita restituir,pela linguagem,o mundo,seja por qual filosofia
for,materialismo, metafísica ,sempre será ideológica,se não reconhecer a
realidade do corpo,onde está a sensibilidade,que a limita,no mundo.Só pode
haver significado e sentido naquilo que
tem limite,porque não se pode explicar o mundo todo.Se fosse,o
conhecimento,constatativo,pararia,nos umbrais da realidade.Como o homem não tem
certeza do “ Nec plus ultra”,tem que,como Dédalo,admitir um limite até onde ir
e que toda constatação não é definitiva,não pode ser.
A
razão(constatativa)é ideológica ,porque crê abraçar tudo:e se desideologiza
se se vê na realidade do
limite.Materialismo,histórico,dialético e outros se não reconhecem os seus
limites se tornam o que são:ilusões e
metafísica(sistemas fechados[razão que tudo abarca]{adequação absoluta/que não
é senão ilusão ideológica/}).
Nenhum comentário:
Postar um comentário