Preciso
mais uma vez de colocar os meus critérios de atuação como pesquisador e escritor.Isto porque sofro de certas
incompreensões,que geram exigências e críticas indevidas.
O
meu percurso para este trabalho é o seguinte:eu percebi claramente que eu
preferia os livros de História feitos por jornalistas(publicistas),porque eles
não escondiam a participação e responsabilidade das pessoas.Oriundo do
stalinismo notei que a chamada “ história econômica”,supostamente derivada do
marxismo(o que não é confirmado,pelo fato de Marx ter escrito o “ 18 Brumário”),visava
diluir estas responsabilidades,por motivos óbvios(no caso de Stálin[e de
outros]).
Por
razões de meu desenvolvimento pessoal eu perguntei certa vez se isto não
poderia valer para as disciplinas das ciências sociais.Logicamente, a questão
da “ responsabilidade” não se punha propriamente nelas,que se constituem de
complexas abstrações.
A
minha perspectiva mudou acima de tudo porque eu tive uma nova apreensão da
sociologia do conhecimento,do pensamento sociológico compreensivo,de Rickert
até Max Weber,passando por Simmel ,Dilthey e Manheim,que eu conhecera por
Michel Lowy,em seu livro “As aventuras do Barão de Munchausen-o marxismo e a
sociologia do conhecimento”.
Depois
de 1848,a burguesia,assustada com o avanço dos socialistas e
comunistas,intentou estudar as condições da classe trabalhadora,para atender às
suas reivindicações e eventualmente(utopia de direita)barrar,para sempre,o
caminho da esquerda.
O
primeiro a tomar esta direção nos bairros operários foi Frederick Le Play,que
não admitia a organização sindical e não admitia a hegemonia da esquerda.Ele é
tido,no entanto,por todos(inclusive a esquerda),como precursor da
sociologia,que nasceu em Comte,nesta mesma época.
O
essencial da contribuição de Comte é a troca simbólica entre indivíduos,socii,associados.O
núcleo da sociologia,o seu nascimento,se
encontra aí.Mas esta “ descoberta” se
deu em Frederick Le Play,que analisou,com um caderninho na mão, as condições
dos bairros dos excluídos.
Destes
autores para adiante a tendência da “sociologia do conhecimento”,da “sociologia
compreensiva” foi só crescer e muito.Estas correntes foram inquinadas por
Luckács de irracionalistas,em seu livro “ A destruição da Razão”(assunto para
um outro texto).Contudo esta sua visão é injusta e denota uma reação do racionalismo abstrato dialético,Hegel/Marx(entre
outros racionalismos),diante da verdade que esta sociologia trouxe para as “ciências “sociais:que
a abstração racional não é suficiente e nem,não raro,adequada para o estudo das
relações sociais.
A
descrição compreensiva da sociedade é mais profunda na obtenção e descoberta do
sentido ou dos sentidos presentes nela.
Foi
neste momento que eu notei uma possível aplicação da pesquisa ,para além das
abstrações,à filosofia e às ciências sociais,todas estas disciplinas
inter-relacionadas,segundo um modelo preciso:a sociologia é a base geral,o
oceano ,enquanto que as outras,filosofia,ciências políticas,História,são as
ilhas que buscam cada vez mais autonomia.
Mas
a partir destas constatações fica claro que qualquer estudo destas disciplinas
pode relacionar a razão abstrata com sentidos,valores,idéias,significados(et
al) que a influenciam constantemente.
Assim
ao falar de certas idéias filosóficas é possível ,marcando o seu contexto de
formação,identificar a sua origem e conseqüências ,bem como eventuais erros.
Assim
cheguei à conclusão de que a visão racional abstrata ,que passou inclusive para
o positivismo do citado Comte,não tinha exclusividade e que a pesquisa nas
ciências sociais era tão admissível quanto na história e que o papel dos indivíduos
e da sua responsabilidade era tão
extraível quanto na História política,guardadas as devidas proporções
evidentemente.
A
visão positivista se associa ao racionalismo ,inclusive dialético,na medida em
que busca as leis da natureza e da
sociedade imbricadas umas nas outras,com a natureza tendo precedência.Mas a
sociologia do conhecimento demonstrou ser isto impossível,irrealizável,porque a
natureza é uma coisa e a sociedade outra.
Havia
um astrônomo famoso,Ronaldo Rogério de Freitas Mourão que escrevia artigos
sobre a ciência astronômica,que eram tidos por mim como não só de
divulgação,mas como de produção de conhecimento e aí me convenci em definitivo
da fatibilidade do meu trabalho de pesquisador.Voltarei ao tema.
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