sábado, 9 de junho de 2018

Petição de princípio


Preciso mais uma vez de colocar os meus critérios de atuação como pesquisador e  escritor.Isto porque sofro de certas incompreensões,que geram exigências e críticas indevidas.
O meu percurso para este trabalho é o seguinte:eu percebi claramente que eu preferia os livros de História feitos por jornalistas(publicistas),porque eles não escondiam a participação e responsabilidade das pessoas.Oriundo do stalinismo notei que a chamada “ história econômica”,supostamente derivada do marxismo(o que não é confirmado,pelo fato de Marx ter escrito o “ 18 Brumário”),visava diluir estas responsabilidades,por motivos óbvios(no caso de Stálin[e de outros]).
Por razões de meu desenvolvimento pessoal eu perguntei certa vez se isto não poderia valer para as disciplinas das ciências sociais.Logicamente, a questão da “ responsabilidade” não se punha propriamente nelas,que se constituem de complexas abstrações.
A minha perspectiva mudou acima de tudo porque eu tive uma nova apreensão da sociologia do conhecimento,do pensamento sociológico compreensivo,de Rickert até Max Weber,passando por Simmel ,Dilthey e Manheim,que eu conhecera por Michel Lowy,em seu livro “As aventuras do Barão de Munchausen-o marxismo e a sociologia do conhecimento”.
Depois de 1848,a burguesia,assustada com o avanço dos socialistas e comunistas,intentou estudar as condições da classe trabalhadora,para atender às suas reivindicações e eventualmente(utopia de direita)barrar,para sempre,o caminho da esquerda.
O primeiro a tomar esta direção nos bairros operários foi Frederick Le Play,que não admitia a organização sindical e não admitia a hegemonia da esquerda.Ele é tido,no entanto,por todos(inclusive a esquerda),como precursor da sociologia,que nasceu em Comte,nesta mesma época.
O essencial da contribuição de Comte é a troca simbólica entre indivíduos,socii,associados.O núcleo  da sociologia,o seu nascimento,se encontra aí.Mas esta  “ descoberta” se deu em Frederick Le Play,que analisou,com um caderninho na mão, as condições dos bairros dos excluídos.
Destes autores para adiante a tendência da “sociologia do conhecimento”,da “sociologia compreensiva” foi só crescer e muito.Estas correntes foram inquinadas por Luckács de irracionalistas,em seu livro “ A destruição da Razão”(assunto para um outro texto).Contudo esta sua visão é injusta e denota  uma reação do racionalismo abstrato dialético,Hegel/Marx(entre outros racionalismos),diante da verdade  que esta sociologia trouxe para as “ciências “sociais:que a abstração racional não é suficiente e nem,não raro,adequada para o estudo das relações sociais.
A descrição compreensiva da sociedade é mais profunda na obtenção e descoberta do sentido ou dos sentidos presentes nela.
Foi neste momento que eu notei uma possível aplicação da pesquisa ,para além das abstrações,à filosofia e às ciências sociais,todas estas disciplinas inter-relacionadas,segundo um modelo preciso:a sociologia é a base geral,o oceano ,enquanto que as outras,filosofia,ciências políticas,História,são as ilhas que buscam cada vez mais  autonomia.
Mas a partir destas constatações fica claro que qualquer estudo destas disciplinas pode relacionar a razão abstrata com sentidos,valores,idéias,significados(et al) que a influenciam constantemente.
Assim ao falar de certas idéias filosóficas é possível ,marcando o seu contexto de formação,identificar a sua origem e conseqüências ,bem como eventuais erros.
Assim cheguei à conclusão de que a visão racional abstrata ,que passou inclusive para o positivismo do citado Comte,não tinha exclusividade e que a pesquisa nas ciências sociais era tão admissível  quanto na história e que o papel dos indivíduos  e da sua responsabilidade era tão extraível quanto na História política,guardadas as devidas proporções evidentemente.
A visão positivista se associa ao racionalismo ,inclusive dialético,na medida em que busca as leis da natureza e  da sociedade imbricadas umas nas outras,com a natureza tendo precedência.Mas a sociologia do conhecimento demonstrou ser isto impossível,irrealizável,porque a natureza é uma coisa e a sociedade outra.
Havia um astrônomo famoso,Ronaldo Rogério de Freitas Mourão que escrevia artigos sobre a ciência astronômica,que eram tidos por mim como não só de divulgação,mas como de produção de conhecimento e aí me convenci em definitivo da fatibilidade do meu trabalho de pesquisador.Voltarei ao tema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário