intróito
Ler conscienciosamente a “ Metafísica” de Aristóteles é como ler Shakespeare:acessar um pouquinho a divindade.Mas por um pormenor Aristóteles causa uma sensação ainda mais mitica e mistica do que o inglês.É como acessar tudo o que existe.Todos os ciclos,todas as realidades.Isto o aproxima de Michelângelo,mas este é mais “limitado” na sua arte.
Assim como apreciar o florentino é apreciar o mármore ,em Shakepeare e Aristóteles é como colocar na boca este mesmo mármore,este mesmo monumento.
Certas obras deviam ser colocadas num monumento,num local comum a toda a humanidade para serem admirados.Admirados mas não idolatrados.
Até mesmo a crítica necessária à limitações eventuais e humanas destes “ pais da humanidade”,contribui para o mito que os cerca e os fundamenta.
Lógico que nenhum deles ,e entre eles Aristóteles,que é meu tema aqui,está livre de limitações,mas o que sobejamente os mantém nesta condição mitológica é que mesmo estas “ lacunas” propiciam continuidades,múltiplas interpretações .
É próprio dos deuses,de Deus,permitir aos homens muitos caminhos para se chegar a ele.Porque não há prova de que as palavras conhecidas de Deus não são uma atribuição humana.Nesta intersecção entre a dúvida e a palavra a leitura de homens como Aristóteles assume um caráter de libação,de busca do pensamento de Deus.De Deus ou de Aristóteles?
O que é a metafísica?
Aristóteles nunca usou o termo metafísica nesta sua obra capital.Este termo foi lhe atribuido na idade média pelo cristianismo e significa,para lembrar “ além da phisica”,um discurso que explica o mundo real,principalmente a natureza ou tudo o que existe,o ser,que será,em seu livro, sistematizado e compreendido(compreendido?).
Aristóteles chamou o seu livro de “ livro da ciência primeira” e hoje há uma discussão imensa sobre o termo que o designa,sendo o mais pertinente “ ontologia”,porque o é realmente.
Ao longo da leitura tratarei mais detlhadamente destes problemas já aventados aqui.Eu fiz há muitos anos uma leitura entrecortada pelas necessidades da vida deste livro,mas agora ,maduro ,eu posso e devo fazê-la ,por obrigação profissional e divido esta leitura com todos.
Uma outra coisa:pretendo fazer nestas leituras uma conexão essencial pouco estudada no Brasil pelo menos:a intersecção entre Aristóteles e seus intépretes árabes,Averrós e Ibn Sina(Avicena).
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