sábado, 11 de junho de 2022

HEGEL I

 

A Fenomenologia do Espirito do espirito é um começo e fim de uma época.E quem estabeleceu este aparente paradoxo foi o seu próprio autor :Hegel.

O elemento limite deste paradoxo é a relação entre a filosofia e a ciência.Melhor,Hegel está numa encruzilhada entre a abordagem puramente filosófica e a ciência,a filosofia como ciência.De 1805 a 1806,por diversas razões, o caminho de Hegel foi para este último conceito.

Eu não quero falar nesta sobejamente conhecida mudança,de que tratei em outro artigo,mas das consequencias nos instersticios do pensamento hegeliano, desta revolução,vamos dizer assim.

Porque enquanto o pensamento filosófico ,na sua perseguição do movimento apresenta aberturas,a perspectiva científica do pensamento o oblitera.

Contudo ,em Hegel a questão do movimento é essencial e se na Fenomenologia a contradição entre ele e a metafísica é diluível em favor da lógica,entre esta e ele já é mais complexo.

O processo lógico,que substituiu no seu pensamento a metafísica se pretende,pela compreensão do movimento,ser anti-metafísica,mas infelizmente continua como tal.

Através do processo dialético do movimento Hegel pensa que é possível unificar monisticamente o movimento em si com a sua compreensão pela individualidade.

Supondo nós que o movimento dialético é real,como objeto,isto não inviabiliza o problema da compreensão pelo sujeito deste movimento (do objeto) ,que,afinal,se a dialética é absoluta,atinge-o também.Há uma adequação dialética entre o sujeito e o objeto,a famosa integração.

Mas neste meio intersecciona a questão das leis,da compreensão das leis em geral.

No parágrafo 432 da seção individualidade para si e para si mesma Hegel trata:

[ln den beiden] Nos dois momentos, até agora considerados, da implementação da essência espiritual antes vazia, se suprassumiu o pôr de determinidades imediatas na substãncia ética,
e em seguida o saber a seu respeito, [examinando] se são leis.”(fenomenologia).

A subjetividade ao compreender o mundo se esvazia no discurso fenomenológico,mas se se suprassume,no momento da consciência do percurso fenomenológico compreensivo.Neste momento prescruta se existem leis deste e neste processo.

Mas ele diz:

O resultado disso parece ser o seguinte: não têm cabimento nem leis determinadas, nem um saber dessas leis. Só a substância é a consciência de si mesma como essencialidade absoluta, a qual, portanto, não pode abdicar nem da diferença nela [presente], nem do saber a seu respeito”.

Na fenomenologia,diferentemente do que Hegel diria na Ciência ,não há explicação das coisas,a elaboração das leis,mas o discernimento da presença das coisas e o saber do discernimento.

Poderiam me objetar que isto é um conhecimento,mas nem todo conhecimento é científico.Hegel,pela primeira vez talvez,tenha colocado a distinção entre saber e ciência.

Confirma esta minha assertiva o que ele diz agora:

Se o legislar e o examinar-leis demonstraram
não serem nada, isto significa que ambos, tomados singular e isoladamente, são momentos precários da consciência ética. O movimento, em que surgem, tem o sentido frmal de que a substância ética, através desse movimento, se apresenta como consciência.”

Hegel faz o caminho fenomenológico da consciência que toma ciência do mundo,mas não necessáriamente o explica:o reconhecimento do movimento e dos objetos(que estão no movimento da consciência[numa forma de compreensão subjetiva alternativa,mas não excludente,da de Kant])é a consciência para si e em si,já que se distingue do mundo,neste movimento.

Mas se o movimento é independente do sujeito existe algo mais do que este movimento: uma ciência necessária explicativa a ser construída.

Avançando na substância,nos conteúdos,para além da essência,Hegel vê algo de permanente e subsistente, ultrapassando o puro movimento da consciência.Aqui é que nascem as leis dialéticas do Ser.



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