Eu inicio agora uma nova série,que há muito venho planejando:a série
sobre itens e verbetes de dicionários não só de língua portuguesa,mas também
dos científicos.
O primeiro item é de filosofia:o famoso corte epistemológico,que é criado
por Gaston Bachelard e que se refere à
história da ciência,ao modo como ela é produzida.Segundo ele a ciência se faz
por “ cortes epistemológicos”,rupturas constantes entre um saber anterior e
outro que nasce de sua crítica,de sua superação.
Contudo,esta conceituação não esgota o problema do “ corte epistemológico”,que
tem,como noção polissêmica,vários significados.
Historicamente o corte epistemológico nasce num dos prefácios de Engels
ao terceiro volume de O Capital,quando ele compara Marx e Lavoisier,que tinha “
fundado” a química,com o uso da balança.
Esta idéia ,a respeito de Lavoisier, foi propagada por ele mesmo(Lavoisier)
e pelo papel cientifico nacional francês que ele desempenhou,ou seja,para
conferir um significado decisivo maior à sua contribuição e à de seu país no
plano histórico e produtivo de avanço da ciência ,com suas consequencias econômicas
conhecidas.
O mesmo queriam Marx e Engels.Mas este “ corte” não existe da forma absoluta
que se pretende:muitas águas rolaram até
que pudéssemos nomear uma ciência de química( e olhe lá).
E também a acepção de corte epistemológico que mais perdura na história
da ciência é aquele que nos remete à Kant,quando determina que a subjetividade
constitui os setores de conhecimento no real.
Às ilusões hegeliano-marxistas, Kant propõe não um conhecimento cientifico
geral,mas construído permanentemente e aí o próprio conhecimento “ padece” de um
movimento que põe as suas conclusões sempre
em xeque ,o que nos faz concluir que há uma ponte entre Kant e Bachelard.
A questão do corte epistemológico, a sua importância capital como
problema,está em induzir a todos a pensar que não há conhecimento durável,o que
é uma crítica de Hegel(e Marx[?])e sua(-s)aufhebung .
Assunto para um próximo artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário