Uma vez que fica estabelecido uma vez por todas que não existe uma dialética no(e do) Ser ou muito menos uma dialética objetiva,como se deve ler Hegel?E porque não Marx?É de se pensar que se aquilo que eles consideravam essenciais nas suas teorias e textos não tem esta validade,todo o sistema rui por terra e é quase isto,mas ,como eu disse,em outro texto,no caso de Hegel,sobra a fenomenologia.
A fenomenologia sobreviveu até aos dias de
hoje.Hegel permanece como filósofo por ela,mas Marx ,que se considerava só um
cientista, o que sobra dele?
Tratarei agora só de Hegel,depois do outro.Existem
autores que abordam aquilo que sobreviveu em Hegel,especialmente a ciência
da lógica .Alguma coisa sobreviveu deste livro,que perdeu em grande parte o
seu valor ,o seu significado.
Relembrando o que eu disse no outro artigo
,a diferença entre a fenomenologia do espirito e a ciência da lógica é que Hegel põe na substância do Ser,na sua materialidade,o
principio da contradição,como se esta fizesse parte do Ser,de tudo.
A essência do Ser é aquilo que o diferencia
de outro Ser ou o põe nos seus padrões próprios,já que não há singularidade.A
essência do Ser são os seus atributos distintivos,mas a substância é o seu
contato com o mundo,com o Ser ou tudo aquilo que existe.
Inserir na existência a contradição como
motor de seu movimento é algo que diferencia o Hegel da fenomenologia do da ciência .
Porque na fenomenologia a interpretação ,a construção de códigos
explicativos do real,é permitida,enquanto que na ciência a adequação entre o discurso e o
real é exigido.
Uma das coisas mais geniais de Hegel é dizer
que,pela dialética fenomenológica o sujeito não é observador somente do Ser,mas
é o Ser,parte dele,no movimento.Só assim entendemos a integração sujeito\objeto
na dialética,no movimento dialético.
Contudo,num segundo momento do movimento dialético,no
processo do movimento se destaca a sua consciência,que é algo distinto
do movimento,embora movimento.Ao fazer esta integração famosa Hegel comete um
estupro,porque no real não há um “encaixe”,absoluto.
Aqui assiste razão à Garaudy em dizer que o
deus de Hegel não existe e que ele o matou.E há uma semelhança entre esta concepção
e as tentativas de Descartes de colocar Deus como garantidor e sustentador das
relações sujeito\objeto,dicotomia criada por ele.
O movimento acaba com deus,mas ele não é
absoluto,não é um deus também .Hegel diviniza o movimento,torna-o pensamento
mágico,quando o absolutiza.
Sabemos que o que afastou Hegel da fenomenologia
foi a visão do imperador Napoleão em Iena,em 1806.Como portador dos princípios e
valores da Revolução Francesa,Napoleão representava a comunidade universal,proposta
pelos “direitos do homem e do cidadão”.Esta proposta era(e é)para toda a
humanidade e o périplo napoleônico “ parecia” incorporar toda a sociedade neste
projeto.Pela primeira vez na humanidade uma pessoa encarnava um período,uma
época.Daí veio a epocalidade,este conceito que
se traduz na linguistica,entre o sujeito e predicado.
Tal não é verdade,mas parece o ser por causa
da dinâmica da época,que era esta luta.Algo mais do que o movimento não era
explicável e por isto Hegel se colocou na perspectiva racional de explicar tudo
por este seu “ racionalismo{aristotélico}dinâmico[absoluto]).
A linguagem trivial ainda não existia(embora
Habermas tenha entrevisto uma possibilidade)e tal limitou a ele e a seus
seguidores,como Marx.
Mas a Ciência da Lógica pode ainda
ser lida,se retirarmos estes seus elementos substantivos,esta essência contraditória
que pretende se integrar num movimento real inexistente .Transformando a
ciência numa fenomenologia ou numa interpretação rigorosa ,é possível tirar-lhe
algumas lições ainda ,bem como de toda a ciência.
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