Nós
sabemos que muitas figuras históricas fizeram coisas terríveis e que nunca
tiveram o mais minimo remorso.
Quando
Shakespeare trabalha com estas figuras históricas ele não está propriamente com
as figuras históricas ,mas com conceitos que elas representam.
A
figura de Macbeth é a da ambição desmedida,que não tem fundamento.Certamente
isto não ocorreu pensar ao Macbeth real,mas os acontecimentos de sua vida
ensejam uma discussão sobre a ilegitimidade de seu poder.
Esta
ilegitimidade pode ser em diversos níveis:pessoal(de onde surgiriam os delírios);politica;histórica.
A
histórica é a narrativa dos descaminhos do poder de Macbeth;A politica é o meio
pelo qual ele chega ao poder e em Shakespeare a força não tem autenticidade
para implantar e manter um poder.
Acima
de tudo Shakespeare critica o que não está certo no fundamento das ações.Ele
não é moralista ou moralizador ,mas uma analista da psicologia humana avant la lettre ,usando só os elementos empíricos
da vida e as ações:construir um poder a
partir da destruição leva à destruição.
E
do ponto de vista pessoal ,que é onde está a psicologia ,as consequencias dos seus atos são vistas nos delírios,nos
fantasmas.
Mas
a premissa artística é que vale ,não a figura histórica propriamente,não os
fatos históricos em si.
O
mesmo acontece com Cidadão Kane:William Randolph Heart jamais viveu qualquer
contradição daquelas expostas no filme,mas os conceitos relativos à riqueza
pela riqueza,à solidão de quem quer
impor seu pensamento a qualquer custo estão lá “ estudados” pelo cineasta.
Uma
coisa é a realidade outra a arte .
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