domingo, 6 de abril de 2025

Os fantasmas de Shakespeare II

 

Nós sabemos que muitas figuras históricas fizeram coisas terríveis e que nunca tiveram o mais minimo remorso.

Quando Shakespeare trabalha com estas figuras históricas ele não está propriamente com as figuras históricas ,mas com conceitos que elas representam.

A figura de Macbeth é a da ambição desmedida,que não tem fundamento.Certamente isto não ocorreu pensar ao Macbeth real,mas os acontecimentos de sua vida ensejam uma discussão sobre a ilegitimidade de seu poder.

Esta ilegitimidade pode ser em diversos níveis:pessoal(de onde surgiriam os delírios);politica;histórica.

A histórica é a narrativa dos descaminhos do poder de Macbeth;A politica é o meio pelo qual ele chega ao poder e em Shakespeare a força não tem autenticidade para implantar e manter um poder.

Acima de tudo Shakespeare critica o que não está certo no fundamento das ações.Ele não é moralista ou moralizador ,mas uma analista da psicologia humana  avant la lettre ,usando só os elementos empíricos da vida e  as ações:construir um poder a partir da destruição leva à destruição.

E do ponto de vista pessoal ,que é onde está a psicologia ,as consequencias  dos seus atos são vistas nos delírios,nos fantasmas.

Mas a premissa artística é que vale ,não a figura histórica propriamente,não os fatos históricos em si.

O mesmo acontece com Cidadão Kane:William Randolph Heart jamais viveu qualquer contradição daquelas expostas no filme,mas os conceitos relativos à riqueza pela riqueza,à solidão de quem quer  impor seu pensamento a qualquer custo estão lá “ estudados” pelo cineasta.

Uma coisa é a realidade outra  a arte .

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