Édipo e a culpa
Dentro da discussão sobre ideologia, a consciência
falsa pode ser verdadeira para o crente,para o iludido,para o errante,mas os papéis
sociais,que são impostos desde o nascimento não podem ser objeto de
ilusão,porque isto afetaria não só a sociedade como a pessoa mesmo,como Édipo
percebeu.A condição dele de bom cidadão e de inocente se prova com os olhos
vazados,mas a culpa só se constrói na relação com a cidade com o público,porque
ele não pode ser acusado de ter agido cinicamente.Uma mera desconfiança o induz
a vazar os olhos,mas mesmo asim,categoricamente, não se há de acusá-lo,aos olhos de hoje,não de seu tempo.
O papel social o obriga,uma experiência formal a
que nós estamos necessariamente atados e sem o quê caímos na animalidade.A formalidade
pode estar na consciência ou explicita nas relações públicas(Direito).Aliás
estamos falando da responsabilidade pública:a forma está no público.No privado
estão as complexas emoções,desejos,vontades e uma infinidade de
possibilidades,que o público não aceita e não pode conter ,se quiser sobreviver
e fazer o privado prevalecer ou ficar sozinho.
O nascimento da forma se dá com as palavras por
mais rudimenatares que sejam,porque são algo de necessariamente verdadeiro para quem
as profere e estão numa relação dialética “ fora/dentro”,permanente,na
consciência humana,pela memória.
Se a sociedade alternativa da década de 60 estivesse
com a razão,como quisera também o direito natural,na defesa da pura e
suficiente relação do homem com a
natureza,não haveria necessidade de governos e tudo se encaixaria,mas não foi o
que se viu.Agir só desbarata a comunicação(verdade)necessária,presente no
discurso(verdade) e a natureza(corpo)não é suficiente para substituir os
elementos constituidores da consciência humana.O homem fica reduzido a
estômago,sexo,carência e satisfação das carências(animalidade).
Édipo poderia ,em nome de sua inocência ,banalizar
o ato,mas se colocaria contra estas mediações,induzindo a outros e mais do que
isto,como falamos no artigo anterior,as relações materiais acabam por gerar,num
ser humano cada vez mais autônomo,necessidades afetivas e a do filho com a mãe tornou-se essencial,pelo simples fato de
se lhe dever a existência e a vida,já que sem os pais,como crianças,
morreríamos.
Todo este “entulho” (legítimo) vaza os olhos de
Édipo.
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