“ Daquilo que não podemos falar,devemos nos calar”
Esta frase famosa
essencial do “Tractatus “ de Wittgenstein nos coloca a questão de que o
esquecimento de nossa experiência primeva com os pais não deve ser
buscada,deixando Freud sem trabalho,sem profissão.(isto é uma blague sem dúvida,pois os acontecimentos na época da infância são inelutavelmente gravados na memória e vão para o mundo adulto).
Mas mesmo Freud e a psicanálise sabem que só a
lembrança patogênica deve ser chamada à baila.Mesmo que esta se encadeie com
outras ,é a sua natureza especifica que desata o nó da neurose,logo,os
pressupostos de Wittgenstein têm uma certa fundamentação na realidade,até uma
obrigatoriedade.
No caso de Édipo se esta frase valesse ele poderia
escapar da sua culpa,porque a relação constituidora com a mãe,mesmo lembrada
após seu casamento com Jocasta,se não fosse tão decisiva,não o levaria aos atos
extremos que praticou,o que nos leva a ver que a lógica de Wittgenstein não é
fundada inteiramente na realidade,exceto no que diz respeito aos mitos,como
consciência falsa(para a razão e verdadeira para os antigos).
É lógico que Édipo sentiu culpa,mas porque estava
inserido numa realidade governada e legislada pelos deuses,por
mitos,diferentemente de nós,que nos “
livramos “ deles,pela razão.Nem se ele tivesse tempo de refletir e
elaborar,seria capaz de superar a frustração e permanecer com os olhos.É a consciência
falsa,verdadeira para o crente ,que funda a culpa,neste caso.
Neste sentido é um momento racional ,ou de
nascimento da razão, a frase de Wittgenstein.A constituição da identidade na
relação com a mãe tem que ser um ato racional,de memória elaborada,porque a
dependência,ainda que emocional, dos momentos de adequação com os pais,gera a neurose,que é ,para Freud, a origem dos
mitos e das religiões(incapacidade de conhecer a si mesmo e admitir os limites
e controlar as paixões),constatação que reconcilia os dois pensadores.
Daquilo que não se pode falar há que se calar é
uma condição de saúde,porque do que não se fala é porque não há relações(e
dentro delas a culpa),não havendo como extrair intenções e dolos.Isto é um
Anti-Édipo.
Superar as ideologias de poder(religião) é ter este contato
com a realidade da qual se fala e não se cala.
Aqueles que leram “ Os Maias” de Eça Queiróz sabem
que o romance termina de forma dramática num incesto entre irmãos,mas a solução
é diferente porque a razão predomina e o véu dos mitos foi desvelado.Ninguém se
mutila,mas amaina a frustração(e aprende[outras razões " matam" o avô de Carlos da Maia])
Com Heidegger nós aprendemos que ninguém tem a
experiência da morte e que vamos da inconsciência ao nada;com Nietzsche vamos
do homem ao além do homem,de um conceito para a realidade;com Freud vamos da
amnésia e da memória patógena ao conhecimento do mundo(e de nós
mesmos);e com Wittgenstein do que não se sabe para o que se pode saber.
Em todos estes percursos o homem se nadifica,não
como os niilistas propõem,mas reconhece que o que predomina na existência, e é a sua
condição, é um limite bem pequeno diante do imenso nada que não abordamos,por
diversas razões.
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