terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Freud,Jung e a doutora Nise da Silveira




Uma questão superada



Vendo a pelicula sobre a doutora Nise da Silveira e sabendo já de suas contribuições,relações com Jung e Freud(que ela respeitava),me veio á mente ,de  acordo o artigo “petição de princípio” que eu publiquei no blog conhecimento,a questão da “ cura”,como o limite ético do médico.
A cura era entendida pela psiquiatria tradicional como o uso de meios quaisquer para ressocializar o paciente,mesmo a lobotomia ou retirada de partes especificas do cérebro.
A pessoa,mutilada,objetalizada, não causava mais problemas ao meio familiar e isto era tido como ressocialização e “ cura”,superação do problema.
As contribuições de Jung ,seguidas pela doutora Nise demonstraram que o paciente não é identificado totalmente com a doença,porque é impossível que a doença tome a pessoa totalmente,inclusive a doença mental.
Os estudos sobre o incosnciente humanizaram a sociedade,mostrando que porque o homem não controla  a sua vida ela está sempre lá,ainda que sob os maiores achaques.
Quando é possível,através de terapia ocupacional,chegar a esta área aparentemente perdida,a humanidade do paciente ,um pouco da sua subjetividade retorna e o ajuda,mas cura ,no sentido absoluto do termo não há e nos lembramos aqui dos artigos sobre Freud em que fica clara a natural inadequação humana ,cujo reconhecimento é a condição de  crescimento do sujeito.
O cientificismo psiquiátrico do século XIX tem a seu favor o fato de que o médico deve ministrar uma cura ,não podendo se omitir.Mas como disse certa  vez o doutor Dráuzio Varella,lembrando a tradição da medicina,o médico não cura o paciente,mas minora o seu sofrimento.Quem cura é o pesquisador que descobre a razão de ser da inciência da doença.É Robert Koch quem cura a tuberculose,o médico a  administra sempre procurando menos dor para o seu atendido.
Num período de pouco conhecimento, estes elementos éticos toscos eram chamados à baila para exigir uma certa postura dos profissionais,o que mudou com Freu ,Jung e a doutora Nise da Silveira.
No entanto outros problemas éticos aparecem:então o terapeuta não tem como curar o paciente?Minorar significa o quê?Socializar?Acostumar-se à dor?Admitindo-se que cada paciente,com uma biografia, pode ou não sair em alto grau de seu beco sem saída,não seria isto transferir  a responsabilidade da cura a ele?Jung,e  isto é retratado no filme ressalta a falta de medo do paciente quanto ao seu inconsciente.Esta seria a parcela de responsabilidade do terapeuta?Levá-lo a não ter medo?
Admitindo-se  a inadequação como inevitabilidade da existência humana e a diferença entre as doenças mentais e as demais,o trabalho do terapeuta é como o de uma professora que segura na mão do aluno e o ajuda a reconstruir e/ou reconsituir o seu caminho,ou pelo menos,um sentido.
Em outra ocasião citando Heidegger eu disse que a filosofia(e a razão)tinham um  ponto cego(que os nazistas de toda hora exploram):quem não tem sentido para a vida,não é afetado por ela,qual o seu lugar?Há inúmeras inutilidades recorrentes na história da humanidade que servem aos propósitos excludentes e destruidores do poder.
O terapeuta neste caso adquire um papel interdisciplinar,pois se torna um professor também,precisando reconhecer que nem sempre a profissão,como a razão, podem ter únicas balizas e sólidas,porque o homem não tem.
Se analisarmos o homem de Vitruvio:




E perguntarmos o que ele pode ser,chegaríamos a uma enciclopédia infinitesimal.
A doutora Nise,bem como Freud e Jung(et al)superam o passado cientificista na constatação óbvia(dos renascentistas pelo menos)de que o homem ou qualquer atividade pode ser reduzida a um conceito profissional fechado,porque tudo está no tempo e porque o homem(no tempo)não é redutível a um discurso único.O psicólogo aqui é pedagogo e tal não fere a sua ética,como pensa o psiquiatra.
Muitas críticas foram feitas a Freud neste sentido,inclusive na URSS,taxando-o de aproveitador,de ganhar fama não resolvendo o problema de seus pacientes.Tais coisas foram ditas sobre Einstein ,um suposto teórico sem comprovação.
Mas tudo isto é ignorar que as verdadeiras balizas do homem é ele que as coloca ou descobre(desvela),como no filme de Welles,baseado em “ O Processo” de Kafka,em que uma sentinela proibe a entrada de uma pessoa num lugar que ela quer muito ver.Passa a vida tentando convencer a sentinela a deixá-la entrar,mas sem conseguir.Quando está à beira da morte a sentinela vai embora,mas a pessoa ,estupefata pergunta:agora que eu vou morrer você sai desta porta?Ao que o outro responde:não existia porta ,nem sentinela,ambos são criações suas.
Proximamente eu vou falar sobre o sentimento de alegria que era tão importante para a doutora Nise.


domingo, 19 de fevereiro de 2017

Meu encontro com Marx só




A religião



Marx determina a religião como forma de consciência social falsa(ideologia[no entender dele])).
A religião surge, historicamente da dissolução da comunidade primitiva,onde predominavam os mitos.Os mitos são algo de diferente,porque eles são quase a realidade natural e social dos homens.Em termos históricos, desigualmente,este mito vai se dissolvendo,alcançando esta dissolução na Grécia,os níveis mais altos e definitivos.
Mas desde Jericó o processo religioso,de religação,em torno de valores,idéias e rituais especificos vai se formando e adquirindo significados diversos,inclusive a presença de uma certa racionalidade e de uma axiologia,cumprindo uma função de legitimação de poder entre as classes,nem sempre tranquila, em face dos processos politicos de manipulação.
Neste sentido as religiões são,desde sempre,um campo de batalha de idéias,valores e argumentos dentro ,já,de uma sistema (estatal) de poder.Quem não conhece a luta do politeísmo,mais afeito às sociedades aristocráticas, contra o monoteísmo,este que acabou por vencer ,historicamente(ainda que existam sobras no culto dos santos no catolicismo e dos deuses negros,no cultos afros).
A religião pode ter um papel compensatório quanto à frustração que a  finitude humana causa,mas ,historicamente,ela cumpriu um papel possível dentro das relações materiais de existência.Foi através dela que se estabeleceram  os critérios de “ justiça”,de distribuição de riquezas no interior da cidade,critérios questionados por outras concepções religiosas ou interpretações diversas no âmago delas próprias.
Nem sempre esta relação com as condições materiais foi  direta,mas guardava autonomia,na medida da busca de um novo discurso,de uma nova linguagem alternativa aos poderes dominantes,como se observa nos profetas judeus e nos inicios do cristianismo.
O caráter(também)revolucionário da religião
A partir desta premissa,como consciência falsa ou não o discurso religioso,multifacetado como é mostrado neste artigo, ocupa um lugar reacionário ou revolucionário,conforme as épocas e as conveniências políticas.
O Édito de Constantino em 333 d. C. É tido como uma vitória do cristianismo e  em parte isto só será verdade no futuro,porque o que ele permite em termos religiosos e materiais é que o escravo que cultua o deus do solstício de inverno,o Sol Invictus,(abaixo),guarde,ou seja,não trabalhe, no domingo,conforme uma reinvindicação milenar.Todos sabemos que pelo direito romano o patricio tinha o direito de utere et abutere quanto ao escravo.Quando este torna-se pelo menos intocável um dia,para pensar em si próprio,começa uma revolução sincrética que dará no cristianismo que nós conhecemos hoje,porque o cristianismo se juntará profressivamente a este culto atribuindo o dia do solstício,25 de dezembro o caráter de data de nascimento de Jesus Cristo.Então a religião,autonomamente, promove um progresso moral e espiritual na humanidade,no interior das relações materiais,das condições materiais de existência.