Dentro
deste meu caminho de análise da relação de Freud com o pai trato
dos pais opressivos e uso como objeto de estudo dois casos que me
impressionaram,curiosamente de dois músicos,dois pares de
músicos:Villa-lobos e seu pai e Johan Strauss Júnior e Strauss
pai.Na verdade o último par é mais importante porque elucidativo do
que quero dizer aqui.
Do
que se trata aqui é da inveja dos pais quanto aos filhos em seu
crescimento cultural e social,sem falar no sexual.
É
um fato escondido por muitos que a obrigação social e religiosa do
casamento força muitas vezes pessoas constrangidas ao enlace.Outros
fatores incrementam o problema:imaturidade,medo de certas acusações
,perda de poder e condição financeira.Mas o essencial é que tudo
se resume na obrigação.O enlace se torna uma prisão e mais do que
isto numa desabalada carreira para a decadência,na medida em que
,depois do nascimento dos filhos,estes asecndem para a
juventude,enquanto os primeiros,descendem para a velhice(e já estão
reprimidos).
Este
contraste não é bem recebido pelos pais e nos casos em tela isto me
parece muito claro.
Enciumado
o pai de Villa -Lobos o repreendia e o massacrava de todo jeito,mas
no intuito de fazê-lo tornar-se supostamente um grande músico.Em
princípio esta assertiva indicaria o amor do pai em ver o sucesso do
filho,mas duas tendências se vêem neste conflito:controlar o filho
que ascende e atribuir esta ascensão ao pai.
O
complexo de Frankenstein está presente nesta situação:o criador
não libera a criatura,ele a mantém sob controle enquanto só admite
a sua validade como expressão de sua capacidade(capacidade do
criador).O sucesso da criatura não é dela ,mas do criador.O
sentimento de inveja perpassa isto aí.
O
pai de Johan Strauss Jr,representado mais acima tinha uma real
ineveja dos filhos,entre eles,o Jr.,representado depois do pai ,numa
gravura de sua juventude.Ele realmente não queria que Jr e seus
outros filhos seguissem a carreira,supostamente para evitar que
sofressem com os rigores da vida de músico.Mas era medo de
competição.
Não
importa ,no entanto,para mim,discutir esta questão biográfica,mas
analisar como nada há de absoluto na vida das pessoas.
Uma
das leituras possíveis desta atitude do pai é forçar o filho a
fazer a sua escolha apesar da oposição e também mostrar ao filho
que ele deve fazer o seu caminho.
As
famílias desenvolvem ,como eu disse,um sentimento de
solidariedade,de comunalismo(ou comunismo),em que as coisas são
desfrutadas em comum,mas isto não embota a iniciativa individual de
cada um?Não invade,de forma totalitária, a intimidade da
criança?Também o exercício do direito a esta intimidade não é
essencial para o crescimento.
Uma
das razões de uma crítica mais do que razoável ao comunismo,nas
suas manifestações mais radicais é entender que o excesso de
solidarismo não prejudica,mas a vida não é só a convivência,mas
a experiência da individualidade,que não é obrigatóriamente
solidão.Deste assunto eu tratarei no próximo artigo.
A
atitude de Johan Strauss pai é condenável,como a de muitos pais,por
ser repressiva,mas a ruptura de caminhos entre pai e filho se,de um
lado arrisca a queda na solidão,de outro mostra a realidade da vida
,em que esta última pode ser uma condição inevitável.E no fundo a
individualidade é real,a solidariedade é abstrata,enquanto processo
que se constrói,no tempo,não sendo fixa.Um vinculo de solidariedade
entre duas pessoas é mais que real ,mas quanto mais complexa não há
garantias deste vinculo,havendo necessidade de outros elementos nem
sempre presentes.E a relação dual entre pai e filho,como Freud
demonstra,é eivada de outras pessoas,presentes ou não.
O
equilibrio ou passagem entre o coletivo e o individual é uma
experiência díspare mas complementar e é desejável na relação
entre os entre pais e filhos.Vou continuar no próximo artigo.
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