quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Freud e o pai IV

Dentro deste meu caminho de análise da relação de Freud com o pai trato dos pais opressivos e uso como objeto de estudo dois casos que me impressionaram,curiosamente de dois músicos,dois pares de músicos:Villa-lobos e seu pai e Johan Strauss Júnior e Strauss pai.Na verdade o último par é mais importante porque elucidativo do que quero dizer aqui.
Do que se trata aqui é da inveja dos pais quanto aos filhos em seu crescimento cultural e social,sem falar no sexual.
É um fato escondido por muitos que a obrigação social e religiosa do casamento força muitas vezes pessoas constrangidas ao enlace.Outros fatores incrementam o problema:imaturidade,medo de certas acusações ,perda de poder e condição financeira.Mas o essencial é que tudo se resume na obrigação.O enlace se torna uma prisão e mais do que isto numa desabalada carreira para a decadência,na medida em que ,depois do nascimento dos filhos,estes asecndem para a juventude,enquanto os primeiros,descendem para a velhice(e já estão reprimidos).
Este contraste não é bem recebido pelos pais e nos casos em tela isto me parece muito claro.
Enciumado o pai de Villa -Lobos o repreendia e o massacrava de todo jeito,mas no intuito de fazê-lo tornar-se supostamente um grande músico.Em princípio esta assertiva indicaria o amor do pai em ver o sucesso do filho,mas duas tendências se vêem neste conflito:controlar o filho que ascende e atribuir esta ascensão ao pai.
O complexo de Frankenstein está presente nesta situação:o criador não libera a criatura,ele a mantém sob controle enquanto só admite a sua validade como expressão de sua capacidade(capacidade do criador).O sucesso da criatura não é dela ,mas do criador.O sentimento de inveja perpassa isto aí.
O pai de Johan Strauss Jr,representado mais acima tinha uma real ineveja dos filhos,entre eles,o Jr.,representado depois do pai ,numa gravura de sua juventude.Ele realmente não queria que Jr e seus outros filhos seguissem a carreira,supostamente para evitar que sofressem com os rigores da vida de músico.Mas era medo de competição.
Não importa ,no entanto,para mim,discutir esta questão biográfica,mas analisar como nada há de absoluto na vida das pessoas.
Uma das leituras possíveis desta atitude do pai é forçar o filho a fazer a sua escolha apesar da oposição e também mostrar ao filho que ele deve fazer o seu caminho.
As famílias desenvolvem ,como eu disse,um sentimento de solidariedade,de comunalismo(ou comunismo),em que as coisas são desfrutadas em comum,mas isto não embota a iniciativa individual de cada um?Não invade,de forma totalitária, a intimidade da criança?Também o exercício do direito a esta intimidade não é essencial para o crescimento.
Uma das razões de uma crítica mais do que razoável ao comunismo,nas suas manifestações mais radicais é entender que o excesso de solidarismo não prejudica,mas a vida não é só a convivência,mas a experiência da individualidade,que não é obrigatóriamente solidão.Deste assunto eu tratarei no próximo artigo.
A atitude de Johan Strauss pai é condenável,como a de muitos pais,por ser repressiva,mas a ruptura de caminhos entre pai e filho se,de um lado arrisca a queda na solidão,de outro mostra a realidade da vida ,em que esta última pode ser uma condição inevitável.E no fundo a individualidade é real,a solidariedade é abstrata,enquanto processo que se constrói,no tempo,não sendo fixa.Um vinculo de solidariedade entre duas pessoas é mais que real ,mas quanto mais complexa não há garantias deste vinculo,havendo necessidade de outros elementos nem sempre presentes.E a relação dual entre pai e filho,como Freud demonstra,é eivada de outras pessoas,presentes ou não.
O equilibrio ou passagem entre o coletivo e o individual é uma experiência díspare mas complementar e é desejável na relação entre os entre pais e filhos.Vou continuar no próximo artigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário