sexta-feira, 13 de março de 2020

Alienação

A escolha da objetalidade

Entendi ser necessário esclarecer ainda mais a escolha do termo “ objetalização” para falar sobre este tema.No tempo de Marx (e Hegel)a questão da alienação ainda não tinha se espraiado para diversos ramos da vida social e do saber consequentemente.Ela se mantinha no plano geral filosófico da existência,do Ser.O problema é o Ser alienado,mas a alienação fazia parte(como faz ainda hoje)parte do ser Humano,no seu contato com o mundo(natureza)e consigo próprio,nas relações sociais(Ideologia Alemã).
Neste primeiro momento em que o movimento das coisas passa a ser um problema filosófico e sociológico, as inúmeras mediações possíveis deste dois saberes,que correspondem às mediações possíveis do real,ainda não eram conhecidas ou ainda estavam em um momento incipiente de abordagem.
É o caso da antropologia,da psico-sociologia,do estudo da sexualidade(que está na psico-sociologia),a aplicação sobre as artes ,enfim uma pletora de conhecimentos a serem adquiridos e que o foram e o são até aos dias de hoje.
Mas ,assim como Marx afirmava que a anatomia do homem explica a do macaco,dentro de sua visão da totalidade(tema que vou abordar mais proximamente),a presença atual destes novos saberes explica muito do passado,do movimento,nos seus albores inclusive.
Como qualquer conceito,estes,da alienação e do fetichismo da mercadoria,têm uma temporalidade e uma história,porque eles se amplificam e se especificam continuamente.
Como eu disse no artigo anterior e faço questão de repetir, este conceito importantíssimo de fetichismo não suprimiu o de alienação.Leandro Konder em seu “ marxismo e alienação” provou-o.O que Marx disse é que o processo objetivo da alienação e dialeticamente,desalienação, não se faz integralmente pela consciência subjetiva mas pela inserção desta mesma subjetividade no processo mágico fetichista do capitalismo onde predomina a “ vendabilidade universal”.O processo irresistivel de tudo ser transformado e ter esta condição potencial ,em mercadoria.
Eu pessoalmente,como outros e inclusive por causa destes referidos outros saberes nascidos depois da contribuição de Hegel e de Marx, acho que existem fraturas,aberturas subjetivas no plano pura e simples da alienação(que analisarei proximamente também ).Mas Marx tem razão em dizer que ,em grande parte, a desalienação só se dará quando se freiar ou superar a tal vendabilidade.
Para os fins,contudo,deste artigo,me atenho a estas aberturas subjetivas para explicar e provar a hipótese proposta no titulo:não digo que só com a subjetividade se possa ultrapassar ou transcender(kantianamente)a alienação e muito menos o fetichismo,mas ,nos interstícios do modo de produção capitalista,passando por cima das pessoas,há uma real possibilidade de frear a vendabilidade ou mesmo diluí-la,no cotidiano,na vida,em determinados lugares , com isto apontar para um futuro.Há uma resistência factivel.
O subjetivo só se constitui na relação cartesiana de sujeito/objeto.A auto-consciência se dá nesta relação.No seu momento fundante(da auto-consciência)a subjetividade percebe quando e porque não (se-)dirige a si mesma e a seu corpo([objetividade]onde está a existência[não dirige a sua existência inclusive]),na medida em que os critérios objetivos,fetichistas ,sociais(no aspecto distorcido do fetichismo e da vendabilidade)se impõem a ela.
É nesta dicotomia sujeito/objeto que se une o processo inicial de compreenção da alienação com as novas mediações sociais aparecidas posteriormente e que só tendem a crescer:a psico-sociedade,a sexualidade,a antropologia(questões de preconceito,etnias),por isto não só escolhi este termo,como entendo ser ele obrigatório para resumir toda a problemática.E também porque inclui estas supraditas aberturas,que admitem uma desalienação neste nível subjetivo,ainda que não no plano geral,social,no interior do modo de produção.
Vou dar um exemplo brasileiro disto que acabei de dizer:Anitta quando expõe o seu corpo na midia pensa estar empoderando a mulher(é o seu discurso) e ela,não sentindo culpa nenhuma(inlcuido a culpa católica),é auto-consciente deste “ dever” com seu gênero,mas até que ponto ,eu pergunto,o empoderamento pelo corpo não induz ,em mulheres menos conscientes do que ela,a objetalização do feminino e não induz também a “ vendabilidade”,transformando o corpo em mercadoria,sem falar na indução à sua manipulação,inclusive sexual?
Por isto uso ,nestes meus artigos,este elo,o da objetalização,que é só uma especificação da alienação e do fetichismo(da mercadoria,mas não só,veremos depois)

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