quinta-feira, 5 de maio de 2022

As possibilidades em Kant

 

Nunca passou pela cabeça de Kant superar a metafísica como a sua filosofia pareceu realizar,pela mão de seus continuadores.No livro “ Prolegômenos para uma metafísica futura” Kant chama o seu pensamento de “prático/dogmático”,quer dizer ,a pratica humana geral se baseia num apriori racional,pré-dado e intocável,transtemporal,meta-temporal(e por isto trans-histórico e meta-histórico).

A sua visão é transcendental e metafísica,sem duvida,mas colocando,como tenho dito ,este a priori no tempo e na história há como “ recuperar” a sua filosofia ou interpretá-la de um modo diferente.

Se Kant não tinha como notar que mesmo a representação se aprende no tempo,isto não significa que a subjetividade não seja suficiente para a apreensão do mundo,que,na verdade,no pensamento dele,é uma construção também.Em apêndice,no final deste livro,eu ponho um artigo explicativo e exemplificativo disto.

Então,dever-se-ia falar mais no neokantismo do que em Kant ,mas em Kant,no Kant original,as condições desta interpretação estão dadas,ou seja,ele pode ser rearrumado.Kant não é como Marx...

Neste sentido,concluido este pródromo,podemos analisar as possibilidades interpreativas de Kant e elaborar discursos efetivos sobre uma realidade que já não é mais metafísica,como ele pensava.

Em alguns momentos de seu pensamento esta identificação do modelo metafísico com a realidade parece comprometer estes caminhos a abrir,mas a rearrumação salva-nos de uma terminação ou esgotamento de Kant.

O exemplo clássico comprobatório desta modelação metafísica de Kant é o seu imperativo categórico,a construção da comunidade universal.

O equilibrio entre o indivíduo,o cidadão e todo o corpo social é uma ilusão abstrata,criticada pelo socialismo inclusive,mas a necessidade da forma e da comunidade universal permanece,acrescida de conteúdos não percebidos por Kant.

Este diálogo entre a forma idealizada e o real,que deriva do amai-vos uns aos outros marca a nossa época,mas em Kant e no iluminismo esta idealização era tida como certa e capaz de se realizar.

Na medida em que estes conteúdos surgem este modelo kantiano original vai sendo rearrumado e o transcendental ,no entender dele se dilui ,se reconecta num modelo mais transcendente(não transcendental)em que a subjetividade representa um mundo mais complexo,tendo que considerar a complexidade destes conteúdos.

Já não é propriamente o cidadão em abstrato ou o cristão,mas diversas manifestações.Só ser humano inserido na sociedade:o politico ,o trabalho,o pobre, o homem e a mulher e assim sucessivamente.Para estabelecer uma relação complexa com estes modos do ser há que construir discursos,comunicação e tudo isto é transcendência,sair do Ser,sair de si para se comunicar,para uma troca simbólica.Transcendente é aquilo que cria uma relação,que faz o homem se elevar e sair de si e se constituir como tal.

Em outro lugar eu disse que o homem é um animal transcendente e talvez esta transcedência o transforma em algo diferente do animal.


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