segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

O problema da ideologia resposta a uma professora

Conforme com o que eu pus no meu livro “Petição de Principio”,no qual expresso os meus criterios de trabalho e de pesquisador,sou um pesquisador independente,que só tem especialização em filosofia moderna e contemporânea.

Sou,com muito orgulho,autodidata.Um esforçado(repito:com muito orgulho).Não fui recebido de forma republicana nas universidades onde eu tentei fazer o meu mestrado e doutorado.

As universidades são mais politica e reprodução de poder do que busca de saber.Muita gente vai desdenhar isto aí,mas eu tenho prova e mais argumentos para dizer estas coisas.

Por agora,no entanto,o que eu quero é simplesmente oferecer as razões ,já ditas,no meu referido livro,para não citar autores das supraditas universidades e não respondê-los quando insistemente vêm nas minhas redes contestar conceitos emitidos por mim.

Vou abrir uma exceção neste momento porque a insistência aumentou muito e por razões de minha vida pessoal acho que deveria polemizar com este autor,se este autor quiser.Porque eu não me coloco abaixo de ninguém,pelo que eu disse acima.Eu me considero uma pessoa capaz de discutir com quem quer seja estes temas de que  eu trato aqui,mesmo pessoas com mestrado e doutorado.Tirando Miguel Reale pai,Euclides da Cunha e Gilberto Freyre ,que obtiveram reconhecimento no exterior mui merecido,não estou abaixo de ninguém.

Em termos de marxismo me considero um dos maiores conhecedores não só no Brasil.

E por causa do modo como a minha relação se deu com a academia ninguém tem o direito,dentro dela,de me tratar professoralmente ou de cima para baixo ou muito menos me ameaçando.

O meu critério básico é que se alguém veio aqui é porque está lendo o meu trabalho.Se não gosta dele,passe ao largo.Se gosta ,mas não concorda e quer demonstrar isto ,vem até aqui e diretamente  e em público,reconhecendo a minha qualidade.

Defendo democracia de mérito,mesmo na sociedade de classes e o reconhecimento do valor de uma pessoa ,ainda que não tenha canudo,titulo.O meu conceito de reconhecimento é o de Hegel,que o tirou dos liberais.

Se acha que eu estou agindo mal,vai na justiça e me proibe,que eu vou até ao STF para lutar pelo meu direito.Se eu estivesse no socialismo real muitas pessoas que me atacam aqui já estariam me impedindo ou coisa pior(porque eu insistiria).Abandonei o socialismo real.

Então,pela primeira vez eu vou citar uma professora que vem sempre nas minhas redes,instagram e facebook,secundada por dois garotões  e eventualmente um senhor de meia-idade,numa postura de,penso eu,desafio.Como disse acima,se quiser falar comigo toma a iniciativa,porque já tomou.Eu não sou desafiante não,é ela:trata-se de Marilena Chauí,cuja trajetória,eu,como nós todos comunistas militantes,seguimos desde os anos setenta.

Eu ainda possuo jornais dos anos setenta aqui com entrevistas desta professora,que tem ,curiosamente ,interesse em reconhecer pessoas de fora  da academia e que não têm certificação por parte desta última,muito contrário.

Tiro estas conclusões de um documentário que assisti nos anos 90   sobre um crítico de cinema,se não me engano,Evaldo Cabral.Ela tem esta sensibilidade aparentemente.

Numa democracia de mérito não é a mediação do papel,do canudo,que legitima o reconhecimento,mas o fato real em si mesmo.Com a profissionalização de todas as atividades humanas,nos últimos decênios,ninguém reconhece o valor de alguem que atue sozinho e  que não tenha previamente algo por trás ou um titulo,ainda que não seja de um lugar de ponta.

Talvez o que impeça estes intelectuais de virem aqui me ver seja isto,que eles “estão concedendo este titulo” à minha pessoa.Acho tal coisa um absurdo.

Dito isto vamos ao que me  trouxe aqui.Continuando a seguir o trabalho desta professora,sempre de maneira crítica,lembro-me de dois episódios capitais:nos anos 80 acompanhei na ufrj um curso de filosofia do professor Roland Corbisier.Num determinado dia  o professor se referiu ao livro “O que é ideologia”,considerando-o “ muito ruim”(no entender dele,eu não acho). No final dos anos 90 uma pequena polêmica com José Guilherme Merquior que  a acusou de atribuir a si própria um pensamento de outro autor.Segundo Merquior ela “ teria esquecido umas aspas”.

O segundo episódio não tem importância.Não investiguei.Mas o primeiro gerou muitas questões a mim e a nós comunistas militantes que debatiamos o problema da ideologia.

A questão que fundamenta este artigo,como o leitor já nota,é o da ideologia.A professsora sempre manda uma aula de ideologia para minhas redes,baseada no seu livro famoso.

Em certa ocasião Corbisier esteve próximo da professora e nós, na juventude do partido, reclamamos(não diretamente)de não ter polemizado  com ela.

A polêmica naqueles anos,que já havia sido assentada na Europa,era se o conceito de ideologia de Marx estava superado pelas formulações de outros autores ,sobretudo Gramsci.

O que se punha era:se a consciência era falsa ,se não fundamentada na ciência,no real,na verdade ,era,no entanto,verdadeira para o sujeito.Montei no sindicato dos professores ,em 1984,um curso com Carlos Nelson Coutinho ,que,logo no inicio,exemplificou este fato com a frase “ainda que Deus não exista objetivamente,existe para quem acredita”,e eu digo e acrescento ,de vários modos possiveis(simbolo,valor,conhecimento,esperança).

Mas existencialmente a relação entre o sujeito e Deus é de modo básico e fundamental,não fechado,mas que supostamente adequa o homem a algo fora dele.

Esta reflexões valem para a ideologia.Para  a professora Marilena Chauí a ideologia é como Marx disse:falseia o real e é oposto à ciência ,ao conhecimento verdadeiro.Se Roland Corbisier fez uma crítica a esta definição ,o fez quanto à Marx igualmente.Chamou Marx de muito ruim...

O conteúdo do video confirma estas concepções.No entanto observemos este trecho do livro de Leandro Konder “ A questão  da Ideologia”.

Na introdução ele cita Bobbio e principalmente um autor que eu não conhecia,Stoppino,para quem “a ideologia tem dois significados,fraco e forte .[...]o  fraco é aquele que se refere ao conjunto de crenças,idéias e valores politicos que orientam os comportamentos coletivos na ordem publica.O forte é aquele que se refere à Marx ,como distorção do real.”

Francamente esta distinção não me parece válida:a questão é que a ideologia pode significar uma conformação do mundo,por parte do sujeito ou pode ser uma distorção.

A dificuldade de se definir Ideologia se dá porque é impossivel saber se um discurso é verdadeiro ou não ,na investigação da complexidade do real.O meu indefectivel Kant ajuda a entender:o real é um simulacro,é inalcançável,mediata e imediatamente(não gosto do termo simulacro,mas vou usá-lo aqui,porque é mais comum).Em que momento há a intencionalidade de distorcer o real,com algum propósito(intencionalidade um conceito fenomenológico,heusserliano),há que responder.

De novo a questão de Deus:Deus é usado para desviar a atenção do oprimido quanto à sua condição,mas não se há de duvidar da crença legitima e verdadeira de muitas pessoas.Em que momento há a manipulação e em qual, não.

Quer me parecer  que a professora continua numa concepção que já foi inteiramente superada.O falso pode ser verdadeiro para o sujeito,lembrando a dialética do falso e do verdadeiro em Hegel,de que Lukacs  trata no “História de Consciência de Classe”(de forma errada a meu ver).

Idêntico erro cometem os intelectuais de esquerda quanto ao direito.Esta é uma das razões pelas quais deploro a especialização dos profissionais do pensamento e da pesquisa.Quem faz filosofia,só estuda filosofia,mas quando se aborda um autor erudito e interdisciplinar como Marx os problemas aparecem.

Marx  fazia uma abordagem semelhante ao da ideologia,no que tange ao direito,exceto na sua juventude.Na “ critica à filosofia do direito de Hegel”,Marx ainda o entende como instância autônoma.Mas,  e esta é uma das provas de que existe um jovem e um velho Marx(me lembro de como tive dificuldade em explicar  esta verdade a Gerd Bornheim),a transformou numa “ superestrutura” destinada a falsear de igualdade as relações de exploração no capitalismo,fazendo do estado de direito inútil,o que facilitou muito a ação totalitária de Stalin...

O direito,como a ideologia, tem como ser a favor ou contra a opressão,dependendo da ação humana revolucionária e compreensiva.

Tem muito radical que vem me jogar pedra aqui que me joga na cara que o direito legitimou a escravidão ,mas o idiota não vê que outra lei fixou a liberdade dos negros,pelo menos formalmente,o que é muito importante.

A solução deste erro ideológico de Marx,no direito,é compreender a distinção entre  common law  e  civil  law .Na verdade o direito é repressivo,de fora para dentro,ao usar códigos,que visam exigir da sociedade,de uma sociedade que não se normatiza,o cumprimento das leis.A civil law é assim,mas a commom law é aquela em que o código não existe,uma vez que a sociedade é capaz de se normatizar e discutir cada caso com autonomia.Marx aqui foi ultrapassado e ,inadvertidamente ,criou as condições para  a violência em nome do comunismo do futuro.

A ideologia é mais dificil de deslindar.Quando eu tomei conhecimento da visão de ideologia de Marx achei estranho que figuras ligadas à revolução russa,como Bukharin e Suslov,fossem tidas como “ideólogos” neste sentido positivo,de verdade.Havia aí uma contradição.

O direito sovético,desde a constituição de 1937,sempre se submeteu à ideologia,aos ideólogos.Não que expressasse o pensamento deles,mas ainda que expressando,se submetiam às necessidades politicas futuras,se tornando letra morta quase que totalmente.A começar que você pode dizer o que quiser desde que não atinja a intocabilidade do governo ,que certamente não erra(como Lênin e  Stalin e Marx não erravam).

É assim que eu entendo ideologia,desde os anos 80 e muitos pensam assim.Supondo que a professora pense ainda como Marx,para mim é uma manifestação de sectarismo,tanto na filosofia, como no marxismo e no direito.

Com a palavra o(a)desafiante.

 


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