quarta-feira, 19 de julho de 2023

Marx e o pedreiro


Uma das defesas que se faz em relação a Marx no que tange ao problema da autonomia das ideias é citar aquela frase famosa da diferença entre uma aranha e um pedreiro.Sabemos como se construiu essa frase: “o que diferencia a melhor aranha quando faz a teia do pedreiro que constrói uma casa é que esse último projetou em sua mente o que ia fazer “.

Os defensores de Marx sempre citam este conceito como a prova de que ele reconhecia o valor das ideias.Mas não é isso o que os críticos dizem não. Marx submete esse pensamento prévio do pedreiro a um encaixe perfeito e dialético (prévio) com a realidade, fazendo com que a subjetividade tenha uma dependência dessa conexão e dessa objetividade.

Quando se trata da autonomia das ideias o que se está dizendo é que a subjetividade tem autonomia e que é referência para uma eventual ciência ou abordagem autônoma dos seus mais diversos aspectos.

De modo geral o marxista ortodoxo não suporta reconhecer a validade desses múltiplos aspectos da subjetividade. Ele não suporta associar ,como fez Eric Fromm, Marx com Freud e assim como com outras abordagens capazes de dar conta de um aspecto particular da subjetividade.Tudo bem .Ainda que se admita a recusa um tanto quanto absurda dessa pluralidade de mediações explicativas da subjetividade não se pode negar que algo fica de autônomo na subjetividade e que não pode ser reduzido à relação do pensamento com a realidade objetiva: a experiência, retida na memória.Se é verdade que a subjetividade não pode viver fora do mundo e da objetividade, é também pela experiência retida que possui uma autonomia enquanto base da ação humana e enquanto possível objeto de investigação.O ortodoxo pode ficar por aqui revalorizando e ressignificando o materialismo histórico e perder outras facetas da subjetividade ,o seu conhecimento.

Não poderá negar ,no entanto, que a experiência como parte do conhecimento humano e da ação humana transcende a visão materialista dialética que conecta e encaixa o sujeito ao objeto.De modo geral os materialistas são imanentistas e encaixam o sujeito e objeto de alguma forma ,mas a verdade é que o ser humano e o bom conhecimento e a boa ciência são aqueles que não se limitam e isto se dá nas filosofias e nas ciências que admitem o transcendente,admitindo algo além do puro encaixe.

É nesse sentido que o materialismo de Marx é limitado e tem o alcance muito limitado diferentemente do que ele queria.


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