quinta-feira, 20 de julho de 2023

O capítulo 8 de Maquiavel


Esse é um dos capítulos mais importantes do Príncipe de Maquiavel e eu considero, com outros conceitos elaborados por sun_tzu e outros pensadores e práticos da política, como aquele capítulo que permite ao político e ao estrategista em geral construir o seu timing de atuação.

Basicamente Maquiavel considera que aquilo que favorece uma pessoa ,um político ou um príncipe deve ser feito aos poucos e a vista de todos, enquanto que aquilo que não o favorece deve ser feito rapidamente e às escondidas.

É evidente que as considerações de Maquiavel não contemplam a questão moral. Ele é fundamentalmente um autor amoral porque considera que atos amorais podem ser participes da estratégia do príncipe.

Não há aqui da parte dele nenhuma preocupação em associar a estratégia do Príncipe com critérios de ordem moral que poderiam paralisá-lo.Se for possível juntar tudo bem,mas se não não.

O príncipe ,uma vez tomada a decisão de realização de seus objetivos deve se preocupar em chegar lá de uma maneira que possa ser legitimado e de uma maneira que não possa retornar.

Aliás esse capítulo trata exatamente de exemplos históricos em que os príncipes envolvidos,os políticos envolvidos ,não buscaram a legitimidade para permanecer no poder. O capítulo começa com essa preocupação e a causa apontada por Maquiavel para a queda desses príncipes citados lá no capítulo é exatamente a falta de legitimidade ,mas não no sentido moral, no sentido de que a estratégia se for bem feita alcançará esse objetivo e a sua legitimidade.

Em outra passagem ele desenvolve essa questão. No capítulo 8 a questão é exatamente mostrar o fulcro da estratégia: o timing do político se associa evidentemente a essa estratégia ,que visa conseguir ,custe o que custar, o objetivo.

Penso que de modo geral havendo moralidade ou não, é através dessa primeira referência maquiavélica do fazer político que se pode estabelecer os momentos próprios pelos quais ele age.

Dentro de uma política democrática, e da política em geral, o objetivo serve de referência para esse timing, mas acima de tudo o que se depreende desse capítulo e de sua leitura é exatamente que o político deve agir segundo a sua atividade segundo si mesmo e não levando em consideração a sua relação com outros participantes do processo .

Quer isso dizer que apesar das condenáveis coordenadas que Maquiavel põe aqui nesse capítulo a questão daquilo que favorece o político e daquilo que não favorece, depurada desses elementos perversos, serve a qualquer político e a atividade política em geral.

O que poderia ser ainda um problema, algo a ser criticado, é a necessidade de esconder a ação do político, mas mesmo nesse caso é possível em determinadas situações defender a atitude.

Um exemplo clássico ressaltado pelo diplomata Henry Kissinger é a atitude durante a década de 30 e no início da década de 40 do século passado, do presidente Franklin Roosevelt que não quis colocar-se contra o povo americano que não desejava a guerra.Ele se preparou para essa inevitabilidade entrando no processo de conflito geral sem parecer defender uma entrada na guerra de modo imediato.

E assim outros políticos em outros exemplos escondem certas questões técnicas e diplomáticas de sua atividade para exatamente defender o seu povo e quando precisarem dele poderão expor o que fizeram sem perder a legitimidade.


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