quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A crueldade fraternal Artigos sobre o Marquês de Sade

 


 

Depois de muitos anos consigo trabalhar um pouco com a figura do Marquês de Sade,amenizando certos aspectos de sua trajétória e sem tratar de aspectos propriamente médicos.Até porque não sou médico...Quero dizer aspectos mais escabrosos,tratando apenas dos conceitos ,do significado deste “ personagem”,que é um pouco mais do que o escândalo que provocou.

Em momento nenhum eu pretendo mostrar aqui o Marquês como alguém distorcido pela tradição posterior a ele.Mas esta tradição provou a qualidade literária do Marquês e alguns fatos atribuidos a ele não são verdadeiros.

A começar pelo fato de que todas as trangressões são na sua maioria fruto da imaginação.O Marquês praticou poucas orgias concretamente porque logo foi preso por causa do caso dos “bombons cantaridados”,que eu vou comentar depois.

Passando a maior parte da vida em prisões e manicômios escreveu estas violências e brutalidades,como forma,entre outras razões ,de chocar e atacar a sociedade francesa,profundamente repressiva em termos sexuais inclusive.

Costuma-se explicar a eclosão da Revolução Francesa pelos desatinos da aristocracia ,e isto é verdade.Mas alguns destes desatinos são importantes para entendermos os atos do Marquês.

O sistema da aristocracia francesa em Versalhes foi uma montagem politica do absolutismo monárquico para controlar a aristocracia,que vivia se rebelando.Mas este esquema de controle extrapolou para os costumes,para a sociedade.Há um autor que compara o absolutismo monárquico ao culto à personalidade e ao totalitarismo do século XX.

Hannah Arendt,pelo menos,nas “Origens do Totalitarismo”,identifica nisto aí um dos momentos antecessores reais do que viria a ocorrer.

Uma invasão constante da privacidade ,os pais decidindo absolutamente o destino dos filhos e uma repressão sexual que começa com isto aí mesmo,que não permite que os filhos se casem com pessoas de sua escolha,mas com as de decisão única dos pais.

Eu vou explicar no próximo artigo o que isto tem a ver com o Marquês.

Nenhum comentário:

Postar um comentário