terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Existe uma dialética em Platão?

 

Eu sou daqueles que entendem que não,que a intenção dele não era de fazer um discurso constituido de oposições,mas de um que fosse puramente racional.Platão é um dos filósofos realmente idealistas,porque repudia a sensibilidade.

Contudo a consideração desta sensibilidade como algo oposto à razão,no pensamento de Platão,não impediu a percepção cada vez maior de que ela existia de fato e estava de um certo modo na razão humana.

Este processo histórico de reconhecimento do sensível se dá progressivamente no mundo helenistico e se cristaliza no cristianismo.O cristianismo inverteu a ascese de Platão,mas porque reconheceu o sensível.O sensível através do sofrimento humano,o qual devia ser considerado pelo pensamento.

As relações entre os homens ,entre a razão e a sensibilidade passam a ser o terreno da filosofia e do pensamento.O homem como finalidade e a dialética como uma integração entre os homens e entre os conceitos e fundamentos de sua existência.

Não é que a dialética tenha se tornado o único método:visões racionalistas,idealistas,duais,materialistas prosseguem,mas a experiência humana sensível nunca mais deixa de fazer parte do caminho investigativo da filosofia.

Mesmo sob discussões consideradas bizantinas,como a da relação alma/corpo,subentende-se a tentativa do ser humano de dar um sentido à vida ,à sua experiência.

Muitas vezes é contra os filósofos que se produz novas ideias.Mostrando os seus limites outros conhecimentos são produzidos.

Não deixa de ser uma ironia da história que aquele filósofo preocupado em manter as barreiras de classe acabasse virando de cabeça para baixo por ação cultural,prática e filosófica dos escravos.Mas isto revela como os filósofos não são absolutos,aliás ninguém.

O processo pelo qual a barreira entre as classes vai sendo superada não é só puramente mental,mas também tem este lado.

O grego clássico,como o que vinha da época arcaica sempre, defendeu uma virtude aristocrática(arete),copiada da ação dos deuses heróicos,mas transplantada para as virtudes humanas da coragem e do esforço.

Em toda a História da Grécia estas barreiras proclamadas vão sendo progressivamente diluídas.No quarto século,o século de Aristóteles,a presença cada vez maior do deus do trabalho Hefaistos e de Dionisos marcava uma tendência que não se realizou por causa de Alexandre e a guerra com os persas.

Esta tendência indicava uma progressiva autonomização do homem frente aos deuses.

Mas com Alexandre e depois com a dominação romana tudo se estiolou ,mas se modificou num sentido que estava ab ovo no passado grego:o mundo do trabalho modificou o senso de honra aristocrático dos gregos e dos romanos,mostrando que para a sobrevivência dos impérios era preciso igualar todos num projeto politico que legitimasse a todos e expressasse a todos.Como não foi possível,o imperio romano caiu,mas um dos seus elementos constituivos permaneceu:o cristianismo.

É no âmbito do cristianismo que o principio de honra aristotélico é progressivamente modificado para significar um senso de grandeza mais afeito ao sacrificio,ao esforço,do que virtudes guerreiras,aristocráticas e heróicas.

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