sábado, 20 de maio de 2023

Esclarecimentos sobre meu artigo a respeito de Marx e o Capitalismo


Recebi críticas a respeito do que falei sobre Marx e o capitalismo.Há um texto acadêmico,que eu encontrei ontem que resume bem o que o comum das pessoas na esquerda sempre diz.

O texto é de Vilson Aparecido da Mata e num determinado ponto ele diz a respeito da relação entre Proudhon e Marx,algo elucidativo.Aqui não me interessa esta relação,de que já tratei num livro.Proudhon é quem formulou o principio “tempo de trabalho socialmente necessário para extração da mais-valia”,no que consiste na resposta procurada desde 1820,para o enigma do capital e do capitalismo.

O que quero discutir é aquilo que eu disse no artigo anterior referido:o problema de que se supera o capitalismo por sua destruição,já que ele é um sistema desumano.Vamos entender isto:

A citação do acadêmico é esta :

Para Netto(José Paulo Netto,grifo meu), o enfrentamento entre Marx e Proudhon “assinala tanto a diferenciação políticoideológica (sic), crucial e qualitativa, entre duas perspectivas socialistas – a reformista e a revolucionária –, quanto, simultaneamente, o embasamento da teoria social moderna” (NETTO, 2009, p. 11).

São essas divergências que constituem o escopo do texto de Marx. O livro de Proudhon, Sistema das Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria, apresenta como solução para as desigualdades sociais presentes no capitalismo um caminho reformista, de manutenção daquilo que o capital produziu de positivo, eliminando aquilo que se constituiu como negativo. Para Marx, tal empreendimento é irrealizável por não ser possível reformar o capital, posto que suas contradições sejam imanentes. Não se elimina aquilo que desumaniza mantendo o que humaniza, pois o modo de produção capitalista é desumanizante em essência.”

A parte final é o que nos interessa.De modo geral a média dos marxistas tem esta mesma opinião, aparentemente contraditória ao que eu disse.

Em outro artigo,há muitos anos eu afirmei que Marx,quando diagnosticava as mazelas do capitalismo era protestante e quando preconizava a revolução era católico.

Marx,neste último caso desejva que a classe operária acumulasse forças para dar o salto revolucionário capaz de tomar o estado burguês e modificá-lo em favor desta classe, a qual,sendo a única apta a acabar com todas ,criaria uma produção exponencial ,que seria base da sociedade comunista.

Se o leitor e o meu critico prestarem atenção,existem dois niveis de problemas aí,que o monismo embota na cabeça do marxista,do seguidor(e talvez do próprio Marx):uma instância econômica e outra politica.

Para Proudhon é possivel extrair aquilo que é positivo no capitalismo e deixar para trás o que não é.Em marx é a mesma coisa!Calma!

Se levarmos em conta as duas instâncias acima ,o que separa Proudhon de Marx é a distinção entre reforma e revolução,porque o termo reforma,naquele tempo indicava uma luta para persuadir a humanidade dos erros que ela cometia ( e comete).O discurso pequeno-burguês de Proudhon é realmente um tanto quanto infantil e semelhante ao dos reformadores da época.

Contudo a Revolução em Marx é algo que foi progressivamente se revelando impossivel e irreal,pela complexidade da sociedade capitalista.

É na instância econômica que se vê o termo de igualação entre os dois:quem lê o primeiro capitulo da “Filosofia da Miséria” de Proudhon,este usa o principio da aufhebung ,de Hegel,pelo qual em todo o movimento dialético há algo que fica para trás e algo que permanece.

Se olharmos a história da humanidade é assim que acontece:coisas da Idade Média ficaram até hoje,enquanto outras desapareceram.

O mesmo ocorre com Marx:o capitalismo é desumano em termos,porque não existe comunismo sem a sua imensa capacidade produtiva.No comunismo algo do capitalismo e não só no plano econômico,permanece.

O capitalismo é desumano na medida em que ele impede ,como modo de produção e organização política,a sociedade se igualar para aproveitar as benesses da produção.Quando ele impede a sociedade de se expressar como tal plenamente.Mas as condições para superar a desumanização é ele quem oferece.Imanentemente,ele contém em si as possibilidades de humanização.Então ele tem algo de humano.Imanentemente como possibilidade,não como algo já pronto,como a serpente sob o ovo.

Marx preconizou a revolução para tomar o modo-de-produção,invenção da burguesia ,para daí em diante produzir mais e liberar o homem do fardo do trabalho,criando tempo livre e beneficiando inclusive aquele que era no passado ,burguês.

Algo parecido ocorre com a igreja católica:ela foi a grande repressora do ocidente e o direito moderno deve condená-la por isto,mas o direito ,os principios de justiça valem tambem para ela,no momento seguinte à sua condenação.

A dialética do senhor e do escravo,no pensamento monistico,induz a erros deste tipo:o senhor só tem humanidade por causa do escravo que,perdendo a sua liberdade,garante a dele ;mas quando ele(o senhor) exerce esta liberdade,no plano material do modo de produção escravista ele não deixa de ter uma essência humana,ao fazer politica,ao gerir a sua propriedade e fazendo as suas obras ,dentro do principio “otium cum dignitate” assumindo inclusive indiretamente que não realizar nada é indigno,inumano.

Proudhon tem razão.

O monismo torna esta compreensão dificil,truncada e viabiliza um moralismo,quase que católico,tomista ,de separação absoluta entre o bem e o mal,entre o capitalismo e o comunismo,mas este está contido naquele,como possibilidade.

O comunismo não é ,como eu expliquei no artigo,uma divisão da escassez,como nos sistemas monásticos,mas uma divisão da abundância,que o capitalismo viabilizou.

A pura e simples eliminação da burguesia,como desumana ,não garante ipso facto ,a libertação.A história o provou.Isto porque o processo d e transformação não se dá pura e simplesmnte no sistema econômico:não basta produzir.As estruturas do capitalismo,não são só justificadoras da exploração,mas expressam necessidades a ser mantidas no próximo regime.Principalmente a liberdade,que subjaz ao comunismo de Marx e que está contida no capitalismo liberal.

Quem lê a ideologia alemã na parte referente ao comunismo vê que Hannah Arendt tem razão:tanto comunistas,como liberais e anarquistas querem aquilo que o teatrólogo brasileiro Jorge Andrade pontuava no passado, “a utopia virá quando o homem se libertar do homem”,quando,digo eu,vier uma realidade anti-hobbesiana.

A superestrutura permanece ,em parte, e tem que permanecer.


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