quarta-feira, 9 de maio de 2018

O que é um idealista.O que é o idealismo


Tanto Marx,como Engels e Lênin sempre afirmaram que o erro da filosofia é acreditar que a idéia cria o mundo e eu tenho mostrado que isto não é bem assim.Marx (e os outros)não tinham uma noção muito clara do que era filosofia,em termos profissionais, e na época deles ,como eu já disse,a filosofia era um amálgama de ideologia,religião e metafísica barata(Wolf)que,esta última,impressionava pela sua evidente pobreza.
Por trás disto tudo,no entanto,havia uma discussão que perpassava a história da humanidade:Deus,a crença em Deus,significava acreditar que ele criara o mundo e a filosofia ,em todas as épocas até então refletia esta “ realidade”.Os comentadores cristãos dos filósofos antigos,principalmente gregos,chamavam o principio lógico de suas filosofias ,de Deus.Assim o primeiro motor de Aristóteles tinha que ser interpretado de modo a entrar na concepção cristã de Deus,como criador do mundo.A idéia do Bem em Platão também passou por este processo,mas ,neste caso(como no de Aristóteles)embora houvesse um evidente idealismo não se podia igualar o realismo das idéias com a concepção de um Deus criador.O homem tinha contato com as idéias ,mas as esquecia no seu caminho pelo mundo,relembrando-as com a ajuda da filosofia.
Se nós observarmos bem,mesmo no Deísmo,que resulta da ciência moderna,há alguma coisa da concepção cristã:o Deus que cria o mundo mas não participa dele é uma resposta à impossibilidade de encontrá-lo no mecanismo da natureza,após a criação da física e de outras ciências.Contudo estava lá o compromisso de admitir que havia um Deus.
A partir de Vaninni no século XVII e chegando a D´Alembert,que não precisava da idéia de Deus para explicar o mundo,a questão do Deus criador não deixava de estar ,no mínimo,rondando a Filosofia.E isso atingiu a época de Marx.
No caso de Hegel,que é a fonte de Marx,há várias interpretações para o Espírito absoluto ser identificado com Deus:a concepção de que é Deus ,que se esquece do mundo é controversa.A identificação de Deus com a natureza vem de São Tomás de Aquino e de modo geral toda a filosofia que buscava explicar lógicamente o mundo(até o panteísmo de Spinoza)obedecia a esta identificação.
Porque Hegel chama o objeto de espírito objetivo tem-se a impressão da presença de um  Deus que prescreve a ordem do mundo.A razão universal,no entanto(que tem reflexos na ideologia alemã[em Proudhon também]{e nos utópicos}),parece ser a ordem própria das coisas,segundo leis precisas.
Geralmente toda lógica atribuída ao mundo se faz pela distinção e integração de dois termos básicos.Por mais complexos que os sistemas metafísicos sejam eles partem desta premissa básica.
Mas sempre está lá a idéia de um  Deus criador.Esta situação se torna ainda mais clara com o bispo Berkeley:Se Deus cria o mundo ele cria a consciência humana que só percebe o mundo(criado por Deus)a partir desta consciência,criada por Deus.Então Deus é tudo.
Isto sem falar em um filósofo,anterior a São Tomás,Santo Anselmo,que produziu o “ argumento ontológico”,diluído pelo deísmo de Kant.Pelo argumento ontológico Deus seria provado porque teria colocado num ser inferior a existência de algo superior(transcendente).Mas Kant,associando pensamento com a sensibilidade e o mundo real,substitui Deus pelo transcendente,pela experiência que eleva  o sujeito a este mundo por uma experiência de organização dos seus elementos.A  presença de Deus nesta organização não é  imprescindível para a construção de um sentido transcendente.
Mas esta estrada toda é para mostrar que Marx e os outros não se deram conta de que as idéias não são necessariamente ligadas à idéia de um Deus criador,como em Kant comentado agora.Não era sempre que estes filósofos idealistas predominavam.Afirmar a subjetividade,como a base da compreensão do mundo não é  ser idealista ou defender o pensamento de que ela cria o mundo.
Locke buscou com o seu empirismo dizer algo semelhante ao que Marx dirá muito depois:” nada há no espírito nada que não passe pelos sentidos”.O próprio marxismo considerou esta afirmação como “ idealista”(porque não dialética) e Leibnitz contestou(não a Marx,mas a Locke):” exceto o próprio espírito”.Não é possível dizer o que Locke disse sem recorrer ao espírito ,à subjetividade.Mas dizer isto não significa dizer que a idéia cria o mundo:ela só o representa.E Kant dirá que esta representação terá o concurso da sensibilidade.
Idealistas,teológicos ou não,são Platão,os filósofos cristãos,como São Tomás,Santo Anselmo,Berkeley,sem dúvida,mas Aristóteles,Descartes e notadamente Kant,é discutível chamá-los assim.Kant nunca disse que a idéia criava o mundo.


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