Há
uma continuidade entre a Grécia Antiga e a ciência experimental moderna,Newton
incluído.Aliás Alexandre Koyrè discutiu se efetivamente a experimentação nasceu
com Galileu,porque as descobertas dos gregos foram o resultado de
experimentação.Aparentemente os gregos não formularam os critérios filosóficos(gnosiológicos
e éticos) da experimentação,algo feito depois por Galileu ,em ,entre outros
livros,” Il Saggiatore”(o experimentador).Falaremos disto mais tarde.
O
problema da gravidade já fora posto por Arquimedes,o qual em um texto seu
famoso faz referência ao heliocentrismo de Aristarco de Samos(criador da trigonometria).
Carl
Sagan ,em seu “ Cosmos”,mostrando o método de Eratóstenes para medir a
circunferência da terra,prova igualmente que os gregos sabiam da esfericidade
da terra.
Mas
os gregos,sem ainda possuírem os mecanismos de investigação,evoluídos e usados
pelos modernos,não avançaram nas discussões da relatividade,do paradoxo
geodésico,etc.
A
geometria dos gregos era plana e servia de modelo para o comportamento humano,quero
dizer,a ciência geométrica,bem como a matemática, apresentava uma proporção
suposta da natureza,que devia ser seguida pela cidade,pelo ser humano.
A
partir das escolas jônicas ,no século VI a. C.,duas correntes se
desenvolveram.Não é uma divisão,como erradamente propôs Lênin,em seu livro mais
que ruim “ Materialismo e Empirocriticismo”,entre idealistas e
materialistas.Embora esta questão esteja presente,factualmente,como explica o
mesmo Carl Sagan,o que as dividia era um projeto de poder.De um lado os
seguidores de Pitágoras e Parmênides,de outro os de Demócrito.Estes são
chamados ,às vezes,de materialistas ou atomistas,mas o que ressalta neles é a associação do pensamento com a vida,como
real,com o concreto,diferente dos primeiros,que afirmavam que as idéias e os
modelos geométricos da natureza deveriam ser a base da “ polis”.Se se
perguntasse a Demócrito o que ele era,provavelmente não diria ser
materialista,mas atomista,o fulcro da sua filosofia.
Idéias
absolutas não querem dizer que não correspondam à realidade.É o caso de Platão
com seu “ realismo das idéias”.A interpretação de Lênin afirma que estas idéias
não correspondem à realidade,mas Platão acreditava que sim.Jean Wahl expõe este
problema:era a geometria que organizava o mundo,que era geometricamente
organizado.Então não tem sentido em falar só em idéias abstratas,mas no mundo
real.
Platão
extraiu esta concepção de um dos seus mestres e iniciador do projeto de
poder,Pitágoras.
A
questão mais decisiva do VI século grego e jônico, era a numeração,porque a
numeração era capaz de abarcar o mundo todo.Os gregos tentaram criar um sistema
de numeração,desde o inicio ,mas foi Pitágoras quem conseguiu o sistema que
vale até hoje e que é a base da matemática.
Arquimedes
buscou o seu próprio sistema.Em sua obra “ Arenarium”(Das Areias[foi nesta obra
que ele se referiu a Aristarco e ao heliocentrismo]) procurou calcular um
número superior aos grãos de areia que estariam contidos na esfera dos chamados
astros fixos.
Mas
foi o sistema de Pitágoras que desencadeou o desenvolvimento da matemática.A
notação figurada substituía a expressão literal dos números(a expressão literal
é assim:o um é representado pela figura I,dois II e assim sucessivamente.Os números
romanos são uma sobrevivência desta literalidade[a qual era impossível de
continuar] {por razões óbvias de não poder representar números exponenciais}).
O
um era representado pelo ponto(.),o dois(..), o três(...),o quatro(...,três
pontos) e um outro ponto sobre o ponto do meio,como num triângulo,o cinco(três
pontos e dois sobre o do meio).Assim os números adquirem uma função geométrica ,de extensão.O um é ponto,o
dois é a semi-reta(.__.),o três ,o triângulo,que representa o plano,o quatro,o
volume ,e assim sucessivamente.
Pitágoras
e os pitagóricos queriam dar um sentido(ou descobrir)ao universo e o meio era a
geometria plana,a matemática,aqui reunidos no conceito de artimo-geometria.O número era entendido como uma realidade concreta(erro de Lênin) e especial,construída
a partir de uma justaposição de unidades descontínuas,um ponto do lado de
outro,uns em cima dos outros ,embaixo,outros
em cima...).
A
reta era uma sucessão de pontos(..........[veja-se Engels na “ Dialética da
Natureza”,1+1+1+1{falarei disto depois]).Assim nasce a extensão,de qualquer
objeto.Esta adequação entre representação e objeto indicaria mais do que o
número,mas a sua estrutura própria.(posteriormente eu vou desenvolver esta
constatação no pensamento de Kant.Por hora nós podemos relembrar aquilo que ele
disse sobre os números:o número não tem esta correspondência,sendo um
epifenômeno,criado pela subjetividade.O termo para designar esta figuração é
numeral[eu aprendi na escola quando estudante,número diferente de numeral].Isto
é deste modo porque a unidade,que Pitágoras acreditava designar a coisa mesma,a coisa-em-si,não a designa,pois
ela é muitas coisas.Se digo uma pedra[no meio do caminho...]ela não é só uma
coisa,mas muitas.Os metais constitutivos,poeira,átomos,designações,formas
variadas,cores.Então unidade é uma abstração,uma ideação do sujeito.Caio Prado
Júnior,em sua “ Dialética do Conhecimento fala na unidade na diversidade,mas
esta unidade é tendencial,porque não há unificação absoluta[uma das provas da
inexistência da dialética da natureza se encontra aqui]).
Pela
unidade-ponto é possível ver a constituição interna dos números e a razão da
sua sucessão(inclusive isto é decisivo para abordar o problema do tempo[e
depois do movimento]porque o tempo é a
sucessividade dos instantes{mais tarde nos ocupamos disto aqui}).Contudo há um
problema nesta notação:se as séries numéricas dão uma racionalidade à
extensão,eles não permitem ,também,como a dos gregos ,representar senão números
inteiros,e não grandezas exponenciais,mas só valores pequenos.
Conta-se
uma estória muito conhecida a respeito de Pitágoras.O seu objetivo era
descobrir a geometria do universo e pensou em fazê-lo através do triângulo isósceles e do teorema que leva o
seu nome.”A soma dos quadrados dos catetos é igual à do quadrado da hipotenusa”,
ou
a(ao quadrado)=b(ao quadrado)+c(ao quadrado) ,ou 25(ao quadrado)=b (16[ao
quadrado])+c(9[ao quadrado]).Ele pensou ser esta a regra do universo,mas em
determinado momento tentou fazer a conta com o número(numeral)(1+1+1+1+1[olhe
aí Engels de novo gente!]):1(ao quadrado)=b(=1[ao quadrado])+b(=1[de novo ao
quadrado]),tem-se 1(ao quadrado)=1(ao quadrado)+1(ao quadrado),o que tem como equivalente a(ao quadrado)=1+1,qual seja a(ao
quadrado)=2,donde a=a raiz quadrada de 2.Porque eu não coloquei o c?Porque
basta que o cateto ou a hipotenusa sejam o número(numeral)1 para que se chegue
a este irracional,pois a raiz quadrada de 2 é um número irracional,não
inteiro.A estória conhecida,que eu estou narrando, dá conta de que ao se
deparar diante deste número(numeral)Pitágoras teria ficado irado,mas ,de olho
no seu projeto aristocrático de poder,ordenou a seus discípulos que fosse
escondido.Uma geometria plana serve de modelo imóvel e imutável,mas o número
irracional é a possibilidade...de mudança,de algo diferente,do modelo.Um
discípulo não concordou com esta decisão
,quis revelar o conhecimento e por isso foi assassinado.
O
número irracional é infinito e fracionário.Mas isto não foi percebido e aceito de
pronto.Platão(um pitagórico) tentou buscar uma solução(escreverei um artigo
sobre isto).Teodoro de Cirene demonstrou a irracionalidade dos números 3 até 17.As
relações na escala musical apresentam descontinuidades de padrão e na
circunferência,a figura geométrica perfeita,que uniria num todo harmônico
deuses e astros,apresenta na sua relação com o diâmetro, o número PI,um
irracional.
Platão
teve que admitir o fracasso da matemática geométrica perfeita com o conceito de
medida justa,mas foi Archymedes quem estabeleceu esta medida através do método
do cálculo “ falta ou excesso”.O valor da raiz quadrada de 3 é menor do que a
fração de 265 sobre 153 e maior do que a de 1351 sobre 780.Esta demonstração
levou os gregos cada vez mais a admitir que não havia condições de uma
adequação da geometria plana com a realidade da natureza,provavelmente(para
eles e para nós) infinitesimal.
O
projeto de poder foi sendo diluído ,no quarto século,quando Aristóteles cunhou
o princípio de que a “ virtude está no meio”,pelo termo grego
phronesis,prudentia em latim,prudência em português,que significa moderação,saber estar entre a carência e o
excesso.A tendência no final(forçado)do mundo grego original era associar o pensamento com a vida(Demócrito),tanto
que os deuses mais importantes se tornaram Dionisos e Hefaistos(do trabalho).Infelizmente
os persas não deixaram os gregos continuar...
Na
continuidade dos meus estudos sobre a ciência moderna(que começou na Grécia),isto
tudo é uma preliminar.O que interessa é que o problema derivado das
constatações de Arquimedes impõe a
verdade de que o círculo ,como o plano,é uma abstração,que não se adéqua à
realidade do mundo,do universo.Se assim fosse todas as figuras poderiam
matematicamente se equivaler,mas isto não ocorre,como ele prova,com seu método,dito
“ de exaustão”.Por este, ele busca adequar as figuras com o círculo,sem obter
nada.Aí aparece a famosa “ quadratura do círculo”:
Olha
aí o PI!!!A transformação do curvilíneo em retilíneo(ou vice-versa)é feita por
este método.Um triângulo é inscrito no círculo,outros polígonos são inscritos
sucessivamente e estas figuras ,inscritas ou circunscritas, nunca coincidem
com o círculo.
Como
se pode observar por mais que se tente nunca há coincidência.
Aqui
nesta imagem:
O
mesmo acontece.
Ora
o que é tudo isto senão a constatação da curvatura do espaço?A suposição e
descoberta do infinitesimal é a prova antecipada ou intuída do que veio a ser descoberto depois por Newton e Leibnitz e
Einstein.
Então
na questão da gravidade ,que já tratamos em outro artigo,vejamos estes dois
supostos “planetas”:
1
+
1
+
1
+
1
+
1
Eles
estão se atraindo segundo a lei de Newton.Os números expostos são uma suposição
abstrata.Entre um corpo e outro existem elementos cósmicos que contradizem a inércia,mas pelo princípio do
espaço curvo não há números inteiros que expressem o caráter infinitesimal do
espaço/tempo.
Não
é 1,mas 0,5 ou uma dízima.
Mas
os corpos são massas compactas e normalmente homogêneas.A atração gravitacional
atinge o corpo no seu centro específico de gravidade,de acordo com sua
massa,mas esta atração tende a se anular
no centro do corpo,ou melhor,no interior da esfericidade.
Se
se dividir esta esfera materialmente homogênea em gomos,como numa
tangerina
Veremos
que ,independentemente do centro de gravidade, há um ponto central vazio,que
nós sabemos que não é ,porque é espaço/tempo.Para Newton era um contra-senso
que neste ponto a gravidade deixasse de existir,mas criando(junto com Leibnitz
o cálculo infinitesimal[antecipado por Arquimedes]),notou que ainda que
fisicamente este vazio exista,matemáticamente,não.É o que se depreende da famosa experiência da queda dos corpos da torre de Pisa,que não foi
feita por Galileu,mas por seu aluno Vincenzo Vivianni.Nenhum corpo cai
fisicamente ao mesmo tempo, mas matemàticamente ,porque as diferenças infinitesimais
não são descartáveis.
Este
cálculo infinitesimal é denominado também de integral e diferencial,pelo motivo
de que ele demonstra a integração,na lei da gravidade ,entre massas desiguais(diferencial),que
se integram na atração(integral).
M
atrai m´ no corpo:
-1
(M) atrai 1(m) e no centro 0.Dependendo de outro corpo que atraia este que nós
vemos o centro de gravidade muda,mas ,na visão de Newton a anulação se dá pelo
fato de que as distâncias são diferentes,assim como as massas.Estas forças são
de sentidos e intensidade opostos e
,portanto,se anulam( 0 ).Mas este
zero,como vimos é alguma coisa,distancia,espaço/tempo,massa,espaço/tempo
infinito.
Este
problema é simples ,mas quando colocamos três corpos a coisa se complica.
Porque
aí fica claro que a nulidade não existe:M atrai m que atrai m´,nesta ordem.Se
entre dois corpos as massas se anulam,na gravidade,em três isto é impossível de
provar se não se considerar a distância
como massa,porque cada corpo é atraído(e atrai[dialèticamente falando?])por
diversas massas,em distâncias diversas,como admitir a nulidade se estas massas
são diferentes?
O
que nos lembra este esquema?
O
ciclo se “completa”,dos gregos à ciência moderna,interrompido pela Idade Média.E
pelos malditos persas.
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