sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Meu encontro com Freud só



Patologia e desajuste


Freud,como eu já disse ,é o começo da maturidade da humanidade,pois pela primeira vez a questão do corpo( e da sexualidade)é posta como elemento fundamental da existência humana.Mas Freud não é só isso.
No passado,as neuroses não existiam?Quer dizer,um dos problemas da contribuição de Freud,é o famoso corte epistemológico.Ele mesmo defendeu ter criado uma ciência,a ciência da psique,mas com o tempo ficou claro que sua concepção era mais limitada às neuroses e o que está por trás desta descoberta real é algo decisivo na humanidade e que  o pré-existia,bem como à psicanálise.
É conhecida a passagem da vida de Alexandre,o grande,em que,já no interior da Ásia,bêbado,começou a lançar impropérios contra seu pai,Filipe II,no que foi contraditado por Clito,o negro,guerreiro que o havia salvado  anteriormente.Tomado de fúria Alexandre o mata com uma lança.
Há aí uma neurose ou um simples desajustamento?Foi a neurose que provocou a fúria?Naturalmente o analista dirá que o estudo da personalidade de Alexandre carece de fontes pessoais para um diagnóstico,mas de qualquer maneira o desajuste está presente.
A construção de uma subjetividade autônoma vem,na verdade,de Lutero,que na Dieta de Worms afirmou:”Eu penso assim e não posso agir diferente”.É a primeira manifestação de individualismo,que nasce com o protestantismo.
Se pegarmos as Confissões de um santo Agostinho,não há um eu individualista preocupado mais consigo próprio.Após a reforma, Kant ,o século XVIII e o final do século XIX cada vez mais a autonomia do individuo se amplia,mas isto só acontece na medida em que o sujeito humano percebe a discrepância entre ele o mundo real,  a natureza e a vida social.
Dilthey ,Cassirer,Nietzsche fazem parte do processo de autonomização da subjetividade,mas é em Freud que é possível considerar a subjetividade em si mesma como fonte e finalidade do discurso.É com ele que o discurso subjetivo,puramente subjetivo, surge em plenitude.
Gadamer notou claramente as possibilidades que a psicanálise propicia propondo o seu “ circulo hermenêutico” que se diferencia de toda a hermenêutica passada enquanto se repropõe permanentemente,a partir dos itens do discurso.
Qualquer elemento do discurso dispara um outro.No passado a exegese bíblica tinha limitações ,como seja a confirmação da religião e suas premissas.No direito a interpretação se faz segundo critérios prévios,mas no “ circulo” a interpretação começa na subjetividade e volta para ela permanentemente.
Mas se a fúria de Alexandre pode ser curada no tempo dele,para quê  serva a psicanálise?A neurose tem um significado histórico,vitoriano,com seu acento de repressão sexual?A neurose ainda existe?Aqui se propõe uma epistemologia histórica ,que,simultaneamente, impõe limites à sua validade.
Analisando a História da humanidade vemos fenômenos individuais   que parecem claramente neurose.Então a existência de Freud é uma perda para a história?
Freud é muito criticado por seu conceito “ inveja do pênis”,mas a mulher reprimida,nos monastérios,que cometiam suicídios,deve muito a ele  a superação das patologias,pelo puro reconhecimento do papel da sexualidade,que o pensamento freudiano teve na sociedade moderna.
Então o corte epistemológico em Freud vale?No próximo artigo eu tento responder.Bem como a outras perguntas.

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