Patologia
e desajuste
Freud,como
eu já disse ,é o começo da maturidade da humanidade,pois pela primeira vez a
questão do corpo( e da sexualidade)é posta como elemento fundamental da
existência humana.Mas Freud não é só isso.
No
passado,as neuroses não existiam?Quer dizer,um dos problemas da contribuição de
Freud,é o famoso corte epistemológico.Ele mesmo defendeu ter criado uma
ciência,a ciência da psique,mas com o tempo ficou claro que sua concepção era
mais limitada às neuroses e o que está por trás desta descoberta real é algo
decisivo na humanidade e que o
pré-existia,bem como à psicanálise.
É
conhecida a passagem da vida de Alexandre,o grande,em que,já no interior da
Ásia,bêbado,começou a lançar impropérios contra seu pai,Filipe II,no que foi
contraditado por Clito,o negro,guerreiro que o havia salvado anteriormente.Tomado de fúria Alexandre o mata
com uma lança.
Há
aí uma neurose ou um simples desajustamento?Foi a neurose que provocou a fúria?Naturalmente
o analista dirá que o estudo da personalidade de Alexandre carece de fontes
pessoais para um diagnóstico,mas de qualquer maneira o desajuste está presente.
A
construção de uma subjetividade autônoma vem,na verdade,de Lutero,que na Dieta
de Worms afirmou:”Eu penso assim e não posso agir diferente”.É a primeira
manifestação de individualismo,que nasce com o protestantismo.
Se
pegarmos as Confissões de um santo Agostinho,não há um eu individualista preocupado
mais consigo próprio.Após a reforma, Kant ,o século XVIII e o final do século
XIX cada vez mais a autonomia do individuo se amplia,mas isto só acontece na
medida em que o sujeito humano percebe a discrepância entre ele o mundo real, a natureza e a vida social.
Dilthey
,Cassirer,Nietzsche fazem parte do processo de autonomização da
subjetividade,mas é em Freud que é possível considerar a subjetividade em si
mesma como fonte e finalidade do discurso.É com ele que o discurso subjetivo,puramente
subjetivo, surge em plenitude.
Gadamer
notou claramente as possibilidades que a psicanálise propicia propondo o seu “
circulo hermenêutico” que se diferencia de toda a hermenêutica passada enquanto
se repropõe permanentemente,a partir dos itens do discurso.
Qualquer
elemento do discurso dispara um outro.No passado a exegese bíblica tinha limitações
,como seja a confirmação da religião e suas premissas.No direito a
interpretação se faz segundo critérios prévios,mas no “ circulo” a interpretação
começa na subjetividade e volta para ela permanentemente.
Mas
se a fúria de Alexandre pode ser curada no tempo dele,para quê serva a psicanálise?A neurose tem um
significado histórico,vitoriano,com seu acento de repressão sexual?A neurose
ainda existe?Aqui se propõe uma epistemologia histórica ,que,simultaneamente,
impõe limites à sua validade.
Analisando
a História da humanidade vemos fenômenos individuais que
parecem claramente neurose.Então a existência de Freud é uma perda para a
história?
Freud
é muito criticado por seu conceito “ inveja do pênis”,mas a mulher
reprimida,nos monastérios,que cometiam suicídios,deve muito a ele a superação das patologias,pelo puro
reconhecimento do papel da sexualidade,que o pensamento freudiano teve na
sociedade moderna.
Então
o corte epistemológico em Freud vale?No próximo artigo eu tento responder.Bem
como a outras perguntas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário