A
série mostrada pela Rede Globo e que eu recomendei assistir é muito chinfrim e
comum,mas mesmo assim vale a pena usá-la para adquirir novos conhecimentos
sobre os mais variados assuntos,que eu aventei já no artigo
anterior:literatura,Tolstoi,Anarquismo,Cristianismo,História,Napoleão,batalhas,sentimentos,Rússia,humanidade.É
um verdadeiro tratado,o romance,uma verdadeira enciclopédia.
No
capítulo 2 a Batalha de Austerlitz,considerada como a maior da carreira de
Napoleão.Ma em torno dela os temas recorrentes de Tolstoi.
O
personagem imaturo de Bezukhov se interessa por uma cortesã,preocupada só com o
seu dinheiro(diríamos hoje,uma peguete ou periguete).Deslumbrado ,como fora
sempre,com a beleza da princesa Ana,ele
se casa,meio pressionado.
Aqui
uma das linhas de estudo da personalidade humana,no que se refere ao amor,é
desenvolvida por Tolstoi.O desenrolar da História mostrará o amadurecimento de
Pierre,cujo coração,um pouco instável e dissipador,indica um caminho do bem,mas
uma dependência das coisas materiais,tidas como verdadeiras.
A
convergência,ao longo da narrativa,de Pierre para Natasha([e vice-versa]no
inicio igualmente imatura)é um dos elementos mais fascinantes do romance,mas eu
não tinha notado e não sei se corresponde ao texto(acho que não[vou procurar no
original]),a presença “ organizadora” da mãe de Natasha.
As
estações da vida mostram porque o homem é um animal fásico.Na medida da sua
consciência e do seu aprimoramento ele vai cumprindo tarefas de cada idade.Infância,puberdade,às
vezes permanecem no começo da idade adulta e jovem,por desorientação dos
pais(que passam pelos mesmos problemas)e porque a vivência(e a experiência)se
adquirem no tempo,na vida ,vivendo.
Esta
é uma das razões pelas quais a experiência é tão mal vista(salvo pelos
anglo-saxões)como via do conhecimento.A experiência humana é o local do
acaso,do inesperado,do risco e do perigoso,associados às vezes à beleza,às
coisas mais sublimes,como o amor.
Sacralizamos
este risco,dizendo que tudo o que fazemos de errado por imaturidade “ afina o sangue”,fazendo
parte do crescimento,mas risco significa
morte,perversão,frustração,recusa em crescer.
O
périplo individual de Pierre e Natasha só ultrapassa ou transcende estes
últimos conceitos por causa da guerra,da visão do sofrimento de todos.A
guerra,e isto é o fulcro do romance e parte central da concepção de vida de
Tolstoi,só serve para repetir,em larga escala, o sofrimento,a realidade do
sofrimento,que está em Deus e em Cristo,que ensina a brevidade da vida e a frivolidade das “tragédias” humanas.
Isto
é uma especificação do paradoxo de Tolstoi,que o prendeu também.No afã de
valorizar o cotidiano simples,as coisas simples frente à história,ele acaba por
dar a estas coisas uma dimensão idêntica de grandeza.Ele não aprendeu ,com
Caetano, a “ só ser”.
É
porque nunca conseguiu construir uma concepção de sofrimento sem
despojamento,sendo ele o aristocrata,” privilegiado”,que era.Um dilema que
permeia a atividade socialista,anarquista
e marxista nos anos do século XX.Um intelectual que se preocupa com os pobres
não pode ser um homem rico ou de grandes qualidades,sem sentimento de culpa,sem
entrar em contradição consigo.
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