terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Os três judeus



O papel inexorável de Freud


Ninguém tem a sua vida essencialmente mudada(no aspecto prático da sobrevivência)porque conhece a relatividade.O fato de olharmos o céu com esta noção, nos diferencia de seres humanos de outras épocas.Mas no passado,como agora,todos temos que ganhar a vida,como diz Chaplin,no final de sua autobiografia.Um dos transcendentes mais permanentes na História é este conceito(a favor da concepção materialista da História[Marx]).
O mesmo se pode dizer de  Freud(e de Marx):diretamente ninguém precisa se preocupar com a libido obrigatoriamente.Certamente a vida hoje,permeada de sexualidade,é muito diferente da do passado e isto se deve a Freud.
Todo saber é democrático.A questão prática,em grande medida,prescinde ,na maior parte,de conhecimentos profundos.
Contudo,e isto é algo inexorável em Freud ,o homem possui um corpo.O corpo,com sua economia pessoal e psicológica,é destino/destinação(bestimmmung),como a política é intrínseca à gregariedade humana(e até animal[assisti a um documentário recente sobre os macacos antropóides e vi até beija-mão!]),como notaram Aristóteles,São Tomás de Aquino e Max Weber.
Eu já me referi  a este último problema e relembro que a gregariedade humana vem da natureza,é genética,e sobrevive em grande parte mesmo com a contínua e crescente autonomização do homem e da sociedade frente a ela.Napoleão dizia:” Política é destino”,mas deveria dizer a gregariedade humana é destino,pelo menos,na sua origem natural.
O termo política ,sabemos,deriva do termo “ polis”,na Grécia,que já uma manifestação da civilização humana,distinta da comunidade primitiva,em que a administração estatal não está presente.Não há,no entanto,ruptura entre estes dois momentos históricos,na mediação natural(animal) humana.O termo política poderia e deveria ser mudado(como o termo humanidade[para incluir o gênero feminino]),para expressar esta continuidade.Eu vou tratar destes temas em outro artigo,porque este é sobre o corpo em Freud.
Como dizia ,pessoas com neurose podem viver normalmente e até desdenhar da psicanálise(como acontece freqüentemente[preocupação de fracos]).Mas não podem no que tange aos achaques do corpo,aquilo que ,ainda que minimamente, põe em risco a sua integridade.
Os espíritas ,inclusive,afirmam que as dissipações e descuidos mínimos da vida quanto ao corpo, podem significar uma forma  inconsciente de suicídio,pelo quê o reconhecimento do problema impõe a  responsabilidade do homem consigo mesmo,reconhecendo inexoravelmente a realidade do inconsciente.
Quando o pensamento complexo de um autor cai no senso-comum os qüiproquós conceituais são terríveis.Em outro artigo pretendo mostrar alguns destes desenganos com outros autores(notadamente Nietzsche),mas o mais famoso no que diz respeito a Freud é atribuir-lhe uma obsessão sexual,com o  conceito de libido.A libido seria o sexo.Mas libido não é necessariamente sexo .Libido é desejo orientado a uma determinada finalidade ou “ objetivo”,inclusive(mas não só)o sexo.Libido é desejo e qual o corpo que prescinde do desejo( e o desejo do corpo)?Impossível.
Quando eu disse que Freud era um termo de união extraordinário entre a vida social e a natureza,num sentido muito particular,me referia a isto.Freud  descobriu,como ele disse que “ anatomia é destino” (também[eu digo]).Não descobriu ,no entanto, o sexo,mas o corpo.





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