O
papel inexorável de Freud
Ninguém
tem a sua vida essencialmente mudada(no aspecto prático da sobrevivência)porque
conhece a relatividade.O fato de olharmos o céu com esta noção, nos diferencia
de seres humanos de outras épocas.Mas no passado,como agora,todos temos que
ganhar a vida,como diz Chaplin,no final de sua autobiografia.Um dos
transcendentes mais permanentes na História é este conceito(a favor da concepção
materialista da História[Marx]).
O
mesmo se pode dizer de Freud(e de
Marx):diretamente ninguém precisa se preocupar com a libido obrigatoriamente.Certamente
a vida hoje,permeada de sexualidade,é muito diferente da do passado e isto se
deve a Freud.
Todo
saber é democrático.A questão prática,em grande medida,prescinde ,na maior parte,de
conhecimentos profundos.
Contudo,e
isto é algo inexorável em Freud ,o homem possui um corpo.O corpo,com sua
economia pessoal e psicológica,é destino/destinação(bestimmmung),como a
política é intrínseca à gregariedade humana(e até animal[assisti a um
documentário recente sobre os macacos antropóides e vi até beija-mão!]),como
notaram Aristóteles,São Tomás de Aquino e Max Weber.
Eu
já me referi a este último problema e
relembro que a gregariedade humana vem da natureza,é genética,e sobrevive em
grande parte mesmo com a contínua e crescente autonomização do homem e da
sociedade frente a ela.Napoleão dizia:” Política é destino”,mas deveria dizer a
gregariedade humana é destino,pelo menos,na sua origem natural.
O
termo política ,sabemos,deriva do termo “ polis”,na Grécia,que já uma
manifestação da civilização humana,distinta da comunidade primitiva,em que a
administração estatal não está presente.Não há,no entanto,ruptura entre estes
dois momentos históricos,na mediação natural(animal) humana.O termo política
poderia e deveria ser mudado(como o termo humanidade[para incluir o gênero
feminino]),para expressar esta continuidade.Eu vou tratar destes temas em outro
artigo,porque este é sobre o corpo em Freud.
Como
dizia ,pessoas com neurose podem viver normalmente e até desdenhar da
psicanálise(como acontece freqüentemente[preocupação de fracos]).Mas não podem
no que tange aos achaques do corpo,aquilo que ,ainda que minimamente, põe em risco
a sua integridade.
Os
espíritas ,inclusive,afirmam que as dissipações e descuidos mínimos da vida
quanto ao corpo, podem significar uma forma inconsciente
de suicídio,pelo quê o reconhecimento do problema impõe a responsabilidade do homem consigo mesmo,reconhecendo
inexoravelmente a realidade do inconsciente.
Quando
o pensamento complexo de um autor cai no senso-comum os qüiproquós conceituais
são terríveis.Em outro artigo pretendo mostrar alguns destes desenganos com
outros autores(notadamente Nietzsche),mas o mais famoso no que diz respeito a
Freud é atribuir-lhe uma obsessão sexual,com o conceito de libido.A libido seria o sexo.Mas
libido não é necessariamente sexo .Libido
é desejo orientado a uma determinada finalidade ou “ objetivo”,inclusive(mas
não só)o sexo.Libido é desejo e qual o corpo que prescinde do desejo( e o
desejo do corpo)?Impossível.
Quando
eu disse que Freud era um termo de união extraordinário entre a vida social e a
natureza,num sentido muito particular,me referia a isto.Freud descobriu,como ele disse que “ anatomia é
destino” (também[eu digo]).Não descobriu ,no entanto, o sexo,mas o corpo.
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