Ao
publicar o meu livro sobre Marx e Freud inicialmente coloquei um
fato de sua infância que,quando soube,me impressionou bastante:as
qualidades de estudioso do pequeno Freud se revelaram muito cedo e o
menino começou a exigir condições para seu desenvolvimento
intelectual,atrapalhado pelo piano das irmãs.
Estas
acusavam o irmão de pretensão,individualismo,de querer ser melhor
do que os outros,mas o pai de Freud,Gabriel,percebendo as diferenças
entre eles ,apoiou o garoto e modificou a ergonomia da casa para
favorecê-lo,sem,no entanto,reprimir ou excluir o piano.
Desde
pequeno,acostumado a um clima familiar de igualitarismo
comunista,esta história me fez refletir,ao longo das minhas
idades,sobre a justeza deste mesmo igualitarismo,tido pelos
totalitarismos e pelas religiões como supra sumo da ética e moral.
O
grande problema da humanidade(modestamente)é equilibrar o
igualitarismo com as diferenças inevitáveis e naturais entre os
homens.Locke e Rousseau se revezam ao longo do tempo.
Quando
as condições sociais pioram, os laços de solidariedade e o
igualitarismo adquirem prioridade;quando existe afluência a
tendência oposta se manifesta.Mas não só no tempo ocorre isto:em
toda a vida da humanidade convivem uma humanidade lauta e outra
inserida na miséria,fundamentando-se cada um dos lados em Locke ou
Rousseau respectivamente.Cada um tenta impor a sua necessidade como
uma verdade ao outro,mas é a condição objetiva que determina o
fundamento.
As
relações sociais exigem uma socialização desde que o homem nasce
e se insere progressivamente na sociedade.O processo de integração
exige um igualitarismo,aprender a não se colocar acima dos
outros,mas ,na medida em que o homem se torna adulto,podendo
conduzir a sua vontade como quiser ,este princípio é modificado e a
pessoa se destaca e se distingue das outras,sem no
entanto,agredi-las(se não tiver traumas).
A
citada história de Freud pequeno,no entanto,impõe uma evidente
nova perspectiva ao problema:desde a infância,na imaturidade do
homem,esta questão já está presente e o seu desconhecimento gera
problemas e dificuldades,porque um dilema surge,que é o de escolher
induzir um solidarismo desde os primeiros tempos ou,contràriamente,
uma capacidade de luta ,de afirmação.(É aquela cena do “
Super-homem no 1,em que Jor El interpretado por Marlon Brando,prefere
mandar Clark para um planeta menor[a terra]]em que ele seria mais
forte,por causa da kriptonita{a mãe preferia que ele fosse para um
planeta igual,para ter mais amigos e não ficar solitário})
O
problema social acima referido,que é dificil de harmonizar e mais
ainda na infância,por causa das condições materiais de existência,
acabam por influir também:uma criança que tivesse as mesmas
dotações de Freud(e acontece sim)numa situação de carência,não
poderia alegar o que o fundador da psicanálise alegou,tendo que
adquirir uma profunda solidarização,ao arrepio das suas
potencialidades individualíssimas,privilegiando a ajuda dos amigos e
do grupo.Ela não poderia ter tempo para se dedicar a si mesma.
Se
uma criança nasce numa situação de plenitude financeira, já não
existe entrave.
O
problema (comunista)de criar plenitude material para todos está
presente como se vê,mas enquanto um regime assim não se implanta
como igualar os dois contextos?
Por
enquanto não é possível embaralhar tudo,então ,no meu modo de
ver,só a sociedade,através do estado,representando a
sociedade,pode fazer uma correção aí,priorizando aquele que tem
mais adversidades contra si.
No
entanto,seguindo o exemplo de Freud e de seu pai,penso que
corresponde a isto um comportamento público,um comportamento baseado
no conhecimento da natureza humana,na sua inevitável
desigualdade(favorecendo Locke).A explicação disto para a
criança,porém,demanda um esforço,para evitar os traumas e
frustrações que ficam naqueles filhos que não compreenderem a
solução.É muito fácil falar em desigualdade quando se está por
cima,mas quando isto significa perder a sua posição,tudo
muda,principalmente se as condições econômicas são uma
barreira,apesar das qualidades da pessoa.
No
episódio do reconhecimento do valor de Freud,uma série de questões
sociais surgem,mas não é só isto o que me chamou a atenção nos
primeiros anos de contato com a biografia do criador da psicanálise.
Intuitivamente
algumas dúvidas penetraram em minha cabecinha de púbere quanto ao
comunismo que eu estava ,então,aprendendo(às forças sem muita
vontade[entre um jogo de botão e outro]).
Primeira
dúvida,que eu hoje,supero(momento histórico):as pessoas não são
iguais.Pode-se e deve-se diminuir as distâncias pela educação e
superação das barreiras econômicas e sociais( a questão social
continua),mas Locke é quem tinha razão;
Segunda
dúvida ,superada:igualar à forceps as pessoas,como Lênin e a
Revolução Russa quiseram ,só gera distorções e monstruosidades(
“ os sonho da razão produz monstros” Goya).O solidarismo como
forma única,monista de moralidade e de utopia,expressa no princípio
de colaboração com os outros é uma verdade parcial,porque ela está
situada na vida social,no processo histórico.Nem toda socialização
é boa.Platão já tinha identificado isto na “República “,dizendo
que igualar a todos,sem levar em conta as diferenças,favorecia os
espertos,que,às escondidas,manipulam estas coletividades
forçadas,que reprimem o talento individual em nome do todo,do bem de
todos,quando,talvez,tudo melhorasse se o equilibrio entre a
individualidade e a coletividade fosse construída.Nem toda
relação,igualação é boa.Esta é uma das razões porque forçar o
comunismo,o “ comunismo absoluto” de Nelson Levy,é tão
violento(ou mais em alguns casos)do que as ditaduras da burguesia.
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