É conhecida,através de Nietzsche,a relação
contraditória do cristianismo com Platão.
Platão criou uma filosofia(ou discurso de
poder?[ideológico?]{falsa consciência?})próprio das
aristocracias.O cristianismo,ao contrário,é uma
filosofia(?)(discurso de poder?ideologia=consciência falsa[forma
ilusória de consciência social:Religião=consciência falsa ou
verdadeira?]para os escravos,para os pobres e humildes,exaltando as
suas carências e as transformando em virtudes.
Quem vence esta batalha?A meu ver esta batalha pode ser
vista de ângulos infinitos,mas no aspecto fundamental
citado,filosófico,Cristo vence,na medida em que o pensamento
humano-geral se funda em Cristo,no seu epíteto real
“Cristo-na-Cruz”.O sofrimento é o que une a humanidade toda.É o
fenômeno,digamos assim,que une o máximo de mediações unficadoras
da humanidade. A comunidade universal começa e se desenvolve a
partir daí.
Esta verdade me foi revelada mais uma vez por Hegel e
sua concepção da religião,através de Habermas,em seu “ Discurso
Filosófico da Modernidade”.
Hegel aponta duas formas de religião:a religião
teológica ou dos doutos e a popular.
A
religião popular é definida como a das crenças,as práticas e
costumeiras concepções do homem comum,do crente,cujo fundamento
único de sua ação,a partir destas mediações,é o
cristo-na-cruz.
A
religião dos doutos busca os fundamentos complexos do cristianismo a
partir do epiteto.
O
que as une é o epiteto,mas o que os separa é a sua extensão.
Se
a pura relação com ele funda a religião popular,a dos doutos o é
com a principal consequencia do evento,a subida e sofrimento na
cruz,ou, a constatação de que a humanidade se unifica
progressivamente no seu reconhecimento.Mesmo o não-cristão não
pode ser indiferente ao sofrimento.A extensão referida é esta
progressividade do seu reconhecimento e a sua também
progressivamente busca de superação(do sofrimento).
Por
todo o período helenístico e medieval esta questão avulta.Ao
surgir a ciência moderna o conhecimento passou a se constituir na
relação com o mundo ,com a natureza,mas mesmo assim a problemática
do conflito entre a ciência e Cristo permaneceu e permanece.Uma
tentativa ,a meu ver,bem sucedida de superar este(falso)conflito,é
Kant.
Toda
a produção de conhecimento só existe porque há o subjetivo e o
subjetivo não se separa do corpo.Este é o ensinamento(um deles)de
Cristo:o conhecimento não é só racional,mas precisa dos atributos
do corpo(antecipação de Kant).Cristo limita e acaba com a filosofia
racional grega e propõe um caminho,no mínimo,alternativo.
E
o subjetivo é humano,não religioso,então qualquer ser humano não
é diferente dele(do sofrimento[de Cristo ou de qualquer
sofrimento]).Ser o Cristo é não ser indiferente,ou
seja,diferente,não sofrimento(hedonê[que é falsa{pois nega o
limite do sofrimento}]).
Todas
as discussões humanas,portanto,direta ou indiretamente,passam e
passaram por esta constatação.Mesmo os gregos ,racionais,são
tocados por algo que se consituiu no futuro para eles.O sofrimento
não é presente e futuro,mas passado também ,tribio,como no tempo
tribio de Santo Agostinho.
A
utopia não é superar de vez o sofrimento e instituir a hedonê,mas
tê-lo sempre como possibilidade a se evitar.Por isto São Paulo
defende a necessária e permanente memória do sofrimento de
Cristo,no dia a dia,como condição da ressurreição.Mesmo na
Utopia,esta memória é sua condição de estabelecimento.E além do
mais o termo sofrimento indica muitas coisas:limite,esforço,dor,não
só sofrimento.
O
tempo tribio,transferindo também para o passado o sofrimento como
fundamento humano,funda a História,porque funda uma utopia(a
superação do sofrimento),no tempo.
A
compaixão não é ,como acusa Nietzsche,uma despotencialização do
homem,ou melhor,da perspectiva ,mas um momento incial de mobilização
da pessoa de bem cuja definição axiológica começa com o
reconhecimento da dor.Não importa que a pessoa de bem não sofra
como a pessoa que sofre,mas o rerconhecimento do sofrimento de Cristo
cria a chance,no mínimo,de depô-lo da cruz.
O
que eu quero marcar neste artigo que compara Platão e Cristo é que
o conhecimento em Platão cria uma barreira instransponível entre a
razão e os atributos corpóreos da sensibilidade,mas Cristo ,como
vemos abaixo,repõe a dignidade desta última,como fonte do
conhecimento,porque não somente pelas razões que colocamos acima, o
corpo não está dissociado da Razão(e vice-versa[embora com uma
hierarquia em favor da razão]),mas igualmente porque o conhecimento
é humano e a crença em que o conhecimento se resume à Razão
desumaniza,tanto a humanidade como a razão,por parcialidade,por
distorcer a realidade.Não é à toa que Aristóteles e Platão
justificavam a escravidão e o seu pensamento justificou barreiras
séculos depois e até nos nossos dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário