sábado, 5 de outubro de 2019

Platão e Cristo

É conhecida,através de Nietzsche,a relação contraditória do cristianismo com Platão.
Platão criou uma filosofia(ou discurso de poder?[ideológico?]{falsa consciência?})próprio das aristocracias.O cristianismo,ao contrário,é uma filosofia(?)(discurso de poder?ideologia=consciência falsa[forma ilusória de consciência social:Religião=consciência falsa ou verdadeira?]para os escravos,para os pobres e humildes,exaltando as suas carências e as transformando em virtudes.
Quem vence esta batalha?A meu ver esta batalha pode ser vista de ângulos infinitos,mas no aspecto fundamental citado,filosófico,Cristo vence,na medida em que o pensamento humano-geral se funda em Cristo,no seu epíteto real “Cristo-na-Cruz”.O sofrimento é o que une a humanidade toda.É o fenômeno,digamos assim,que une o máximo de mediações unficadoras da humanidade. A comunidade universal começa e se desenvolve a partir daí.
Esta verdade me foi revelada mais uma vez por Hegel e sua concepção da religião,através de Habermas,em seu “ Discurso Filosófico da Modernidade”.
Hegel aponta duas formas de religião:a religião teológica ou dos doutos e a popular.
A religião popular é definida como a das crenças,as práticas e costumeiras concepções do homem comum,do crente,cujo fundamento único de sua ação,a partir destas mediações,é o cristo-na-cruz.
A religião dos doutos busca os fundamentos complexos do cristianismo a partir do epiteto.
O que as une é o epiteto,mas o que os separa é a sua extensão.
Se a pura relação com ele funda a religião popular,a dos doutos o é com a principal consequencia do evento,a subida e sofrimento na cruz,ou, a constatação de que a humanidade se unifica progressivamente no seu reconhecimento.Mesmo o não-cristão não pode ser indiferente ao sofrimento.A extensão referida é esta progressividade do seu reconhecimento e a sua também progressivamente busca de superação(do sofrimento).
Por todo o período helenístico e medieval esta questão avulta.Ao surgir a ciência moderna o conhecimento passou a se constituir na relação com o mundo ,com a natureza,mas mesmo assim a problemática do conflito entre a ciência e Cristo permaneceu e permanece.Uma tentativa ,a meu ver,bem sucedida de superar este(falso)conflito,é Kant.
Toda a produção de conhecimento só existe porque há o subjetivo e o subjetivo não se separa do corpo.Este é o ensinamento(um deles)de Cristo:o conhecimento não é só racional,mas precisa dos atributos do corpo(antecipação de Kant).Cristo limita e acaba com a filosofia racional grega e propõe um caminho,no mínimo,alternativo.
E o subjetivo é humano,não religioso,então qualquer ser humano não é diferente dele(do sofrimento[de Cristo ou de qualquer sofrimento]).Ser o Cristo é não ser indiferente,ou seja,diferente,não sofrimento(hedonê[que é falsa{pois nega o limite do sofrimento}]).
Todas as discussões humanas,portanto,direta ou indiretamente,passam e passaram por esta constatação.Mesmo os gregos ,racionais,são tocados por algo que se consituiu no futuro para eles.O sofrimento não é presente e futuro,mas passado também ,tribio,como no tempo tribio de Santo Agostinho.
A utopia não é superar de vez o sofrimento e instituir a hedonê,mas tê-lo sempre como possibilidade a se evitar.Por isto São Paulo defende a necessária e permanente memória do sofrimento de Cristo,no dia a dia,como condição da ressurreição.Mesmo na Utopia,esta memória é sua condição de estabelecimento.E além do mais o termo sofrimento indica muitas coisas:limite,esforço,dor,não só sofrimento.
O tempo tribio,transferindo também para o passado o sofrimento como fundamento humano,funda a História,porque funda uma utopia(a superação do sofrimento),no tempo.
A compaixão não é ,como acusa Nietzsche,uma despotencialização do homem,ou melhor,da perspectiva ,mas um momento incial de mobilização da pessoa de bem cuja definição axiológica começa com o reconhecimento da dor.Não importa que a pessoa de bem não sofra como a pessoa que sofre,mas o rerconhecimento do sofrimento de Cristo cria a chance,no mínimo,de depô-lo da cruz.
O que eu quero marcar neste artigo que compara Platão e Cristo é que o conhecimento em Platão cria uma barreira instransponível entre a razão e os atributos corpóreos da sensibilidade,mas Cristo ,como vemos abaixo,repõe a dignidade desta última,como fonte do conhecimento,porque não somente pelas razões que colocamos acima, o corpo não está dissociado da Razão(e vice-versa[embora com uma hierarquia em favor da razão]),mas igualmente porque o conhecimento é humano e a crença em que o conhecimento se resume à Razão desumaniza,tanto a humanidade como a razão,por parcialidade,por distorcer a realidade.Não é à toa que Aristóteles e Platão justificavam a escravidão e o seu pensamento justificou barreiras séculos depois e até nos nossos dias.

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