Há
anos passados era muito mais fácil ser caridoso e falar com e dos
pobres e miseráveis.Tal tradição começou com o livro de Vitor
Hugo,do mesmo nome,mas depois do fim do comunismo e com todos os
episódios terríveis destes ismos
modernos,imperialismo,comunismo,fascismo,os pobres e
miseráveis,ficam,no mínimo,desconfiados destas intenções,muitas
vezes,realmente,auto-promocionais,de ajuda,de caridade.
Fui
criado com estes valores de auxilio e preocupação com os
desvalidos,mas recebi em troca não flores mas pedradas:classe
média,área de conforto,egoista,brancão e a minha perspectiva
passada,naturalmente,teve que mudar,não no sentido de deixar de lado
os que sofrem,mas de recolocar a minha relação com eles.
E
fiz isto colocando algumas mediações entre mim e eles.Já que o
transporte emocional,piedoso ,não serve,sendo rechaçado,fundamentei
a minha preocupação emocional piedosa no direito de exigir dos
governos que o meu dinheiro pago em impostos solucione estes
sofrimentos.Isto tirei de Hannah Arendt,cuja visão do papel do
dinheiro mudou a minha antiga rejeição:vivemos num mundo em que o
dinheiro move montanhas e facilita soluções.A rejeição pura e
simples do dinheiro,aliás,é muito conveniente para os poderes
politicos dominantes(à esquerda e à direita),que transitam bem
entre cidadãos desinteressados.O contato com o mundo real é muito
necessário.
Lutero
é o primeiro a formular este conceito,na medida em que preconizou o
enfrentamento do mal,em vez de sua recusa.Mas o enfrentamento do
mal(na figura do diabo),é o reconhecimento do mundo,como lugar de
glorificação divina.O mundo se torna um lugar de participação,de
auto-transformação.E é o lugar onde estão os pobres,os oprimidos
e os miseráveis.
A
mediação do dinheiro é sempre rejeitada por separar o homem do
homem:do cristianismo a Marx,de Rousseau a Nietzsche,não há
mediação nenhuma,como condição de uma humanidade autêntica,mas
as obras humanas,as relações humanas concretas pedem o
reconhecimento da realidade ,mesmo que o universo futuro
imaginado(imaginário[utopia])seja o melhor dos mundos.
O
modo de relacionar-se com o mundo é a estrada da utopia.
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