domingo, 27 de outubro de 2019

O que é e o que é isto

A grande questão que ponho diante de Heidegger desde que tomei contato com sua filosofia,numa especialização na UERJ,é que o modo de ser do ser,o seu isto,a partir do qual se constrói um sentido não prescinde de uma essência(e de uma substância[aristotélica]) e ,por outro lado,o sentido só vale como projeto para o homem,que ,já,não é sujeito/objeto cartesiano,mas sentido.
Heidegger só se refere a este sentido pretendendo uma ruptura com Aristóteles e diz que as coisas,não o homem,podem ter sentido,se este der a elas,mas a verdade é que o isto só se revela pela presentificação(persiste uma discussão se o modo como Emanuel Carneiro Leão traduz Das-ein está certo:presença e não presentificação).Aquilo que se manifesta como existir,o faz no tempo,no modo como se apresenta,como se torna presente e aí Heidegger pretende ver uma interseção entre o homem e o Ser em geral,porque todo ser é sentido enquanto torna-se algo.O algo é o ente,aquilo que se coloca a maneira de algo.O Ser do ente é este(Das-ein) por-se permanente(-mente),como existente.
Nem mesmo a classificação fenomenológica sobre Heidegger é bem vista por ele.A classificação de modo geral não abarca o ser em seu sentido,em seu movimento,mas não há como dissociar o filósofo e seu pensamento da redução fenomenológico,ao eidós.O eidós é aquilo que se apresenta como tal,como existente,não limitado por nenhuma classificação,só o puro apresentar-se.
Aqui ,no entanto,há sim a ruptura pretendida por Heidegger em relação a Aristóteles,mas não se pode negar que mesmo na acontecência ,no sentido, há uma essência,minimamente substantiva,na medida em que os atos se definem por uma razão de ser:há uma diferença em agir como um professor e como uma porta-bandeira;um livro que se me apresenta é diferente de uma bola de tênis.
Esta concepção ,de sentido e de acontecência,une a vida com a arte,com uma narrativa poética(romanesca),porque tudo passa a ser descrito ,acompanhamento deste sentido.Mas a observação anterior sobre essência continua valendo.
É curioso como Guimarães Rosa em seu livro de contos “Acontecências” pespegou o sentido da filosofia heideggeriana,mas nada vai além disto,porque a filosofia de Heidegger tem um significado artístico evidente.

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