quarta-feira, 7 de março de 2018

Uma das tarefas mais nobres da epistemologia nos dias de hoje.



Todo este meu trabalho é para demonstrar o papel importantíssimo e revelador da epistemologia e,particularmente,da epistemologia histórica,no que tange à gênese das grandes idéias da História,particularmente ,no caso da epistemologia evidentemente,das idéias científicas.
Algumas idéias e teorias,trans-históricas,perpassam a história e a vida cotidiana,causando-lhe progresso,mas também problemas.A psicologia humana,a seleção natural,a cosmologia e o comunismo(reforma social)são algumas das mais impactantes.
Eu sempre repito  o convite  para ver o filme de John Huston,” Freud além da Alma”,cujo roteiro é simplesmente de Jean-Paul Sartre.No inicio ele faz uma análise da contribuição demolidora dos cientistas por trás das ciências e teorias supracitadas:”Antes de Copérnico(cosmologia)o homem se sentia o centro do universo;antes de Darwin(seleção natural) uma espécie distinta das outras;antes de Freud,um ser racional absoluto”.Eu poderia acrescentar ,em relação a Marx:”Antes de Marx o homem achava que a injustiça social era algo natural”.
Contudo,a epistemologia histórica,gnosiológica,tem a tarefa de diminuir o papel individual de todos estes citados.A leitura da obra destes autores já descortina o fato de que eles devem(quando dão os créditos)a muita gente ,muitas das suas idéias.Verificando o contexto em que a atividade destes “ produtores de conhecimento” ocorre,é impossível dissociá-los de outros “ produtores”,outros criadores”.
Eu já sou conhecido por fazer críticas ao “ Corte epistemológico” e nem estas afirmações são absolutamente originais,porque figuras intelectuais recentes como Kuhn e Feyerabend já puseram muitas destas questões em pauta.
Mas eu penso que há mais para aprofundar,notadamente nas figuras de Freud e de Marx.Estudando para identificar os propósitos atuais da direita em diminuir ou acabar com o nome de Santos-Dumont,cujo périplo científico eu já acompanho há anos,percebi que ele,como outros cientistas e filósofos,não são tão distantes ,na sua contribuição individual,de outros,que lhes foram essenciais para suas descobertas e propostas.
Einstein,que tem sido tão atacado,apesar de muitas confirmações de sua teoria é um exemplo excelente disto,como eu já expliquei em outros artigos mais acima.
Freud talvez seja o mais difícil,por causa da natureza ultra-íntima de suas   teorias.Quer dizer a sexualidade não foi tão abordada assim.Mas o inconsciente já era reconhecido no Romantismo e o papel da mãe foi analisado no inicio do século XIX por Pestalozzi.
O caso mais tranqüilo foi o de Darwin,que reconheceu que a seleção natural foi “descoberta”  por Wallace e,depois,outro cientista,oriundo da classe operária,cujo nome eu não me recordo,mas que pode ser encontrado nos volumes da revista Ciência Hoje ,do Brasil.O importante é que Darwin  reconheceu os dois.Na verdade  a idéia de que as espécies vivas se transformavam era admitida no século XVIII e o avô de Darwin,Moses,já tinha proposto o problema que só veio a ter solução com o seu neto,provando que esta história de que a viagem no beagle foi casual,é falsa,pois Darwin a fez para realizar a comprovação posta por seu antecessor familiar.
O caso,no entanto,mais escandaloso é o de Marx.Ainda que Marx tenha admitido a possibilidade de que Hegel chegasse ao materialismo histórico,na sua “ Filosofia do Direito” e que Engels tenha dito,na “ Origem da Família,da Propriedade e do Estado”que Morgan,o antropólogo Morgan(cujas pesquisas sobre a sociedade primitiva serviram de base a este livro),chegara ao materialismo histórico independentemente,na relação de ambos com o movimento político e social e com os economistas,as coisas aparentemente desandam(digo aparentemente porque ainda estou pesquisando).
Uma vez eu ouvi de um simpatizante do anarquismo,que Marx “ tinha copiado tudo de Proudhon”.Na época eu achei isto escandaloso,mas lendo “A Filosofia da Miséria” notei que o conceito de mais-valia ,identificado como roubo,está presente nele.
A distinção entre valor-de-uso e valor-de-troca ,cuja origem Marx aponta acertadamente em Aristóteles,passou por uma reformulação e amplificação no Iluminismo alemão,especialmente em Fichte,que preconizava que a sociedade utópica do futuro se basearia somente no valor de uso(V.Max Beer,”História das Lutas Sociais”).
Todo mundo sabe as ligações inevitáveis entre Ricardo e Marx,mas existem outros neo-ricardianos ,que tiveram influência em Marx,como Rodbertus,muito citado por Bohm Bawerk.Em Rodbertus a distinção continua e ele a conecta com o de mais-valia.
Então as mesmas dúvidas quanto ao peso individual dos criadores citados devem ser jogadas sobre Marx,cuja importância histórica emocional(quase religiosa)na luta por um mundo utópico,parece tê-las obscurecido ou,mais exatamente,reprimido,inclusive e principalmente nos regimes totalitários dele(contre lui?)derivados.
Qual será a distância real de Marx deste outros pensadores?

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