Todo
este meu trabalho é para demonstrar o papel importantíssimo e revelador da
epistemologia e,particularmente,da epistemologia histórica,no que tange à
gênese das grandes idéias da História,particularmente ,no caso da epistemologia
evidentemente,das idéias científicas.
Algumas
idéias e teorias,trans-históricas,perpassam a história e a vida cotidiana,causando-lhe
progresso,mas também problemas.A psicologia humana,a seleção natural,a
cosmologia e o comunismo(reforma social)são algumas das mais impactantes.
Eu
sempre repito o convite para ver o filme de John Huston,” Freud além
da Alma”,cujo roteiro é simplesmente de Jean-Paul Sartre.No inicio ele faz uma
análise da contribuição demolidora dos cientistas por trás das ciências e
teorias supracitadas:”Antes de Copérnico(cosmologia)o homem se sentia o centro
do universo;antes de Darwin(seleção natural) uma espécie distinta das outras;antes
de Freud,um ser racional absoluto”.Eu poderia acrescentar ,em relação a Marx:”Antes
de Marx o homem achava que a injustiça social era algo natural”.
Contudo,a
epistemologia histórica,gnosiológica,tem a tarefa de diminuir o papel
individual de todos estes citados.A leitura da obra destes autores já descortina
o fato de que eles devem(quando dão os créditos)a muita gente ,muitas das suas
idéias.Verificando o contexto em que a atividade destes “ produtores de
conhecimento” ocorre,é impossível dissociá-los de outros “ produtores”,outros
criadores”.
Eu
já sou conhecido por fazer críticas ao “ Corte epistemológico” e nem estas
afirmações são absolutamente originais,porque figuras intelectuais recentes
como Kuhn e Feyerabend já puseram muitas destas questões em pauta.
Mas
eu penso que há mais para aprofundar,notadamente nas figuras de Freud e de Marx.Estudando
para identificar os propósitos atuais da direita em diminuir ou acabar com o
nome de Santos-Dumont,cujo périplo científico eu já acompanho há anos,percebi
que ele,como outros cientistas e filósofos,não são tão distantes ,na sua
contribuição individual,de outros,que lhes foram essenciais para suas
descobertas e propostas.
Einstein,que
tem sido tão atacado,apesar de muitas confirmações de sua teoria é um exemplo
excelente disto,como eu já expliquei em outros artigos mais acima.
Freud
talvez seja o mais difícil,por causa da natureza ultra-íntima de suas teorias.Quer dizer a sexualidade não foi tão
abordada assim.Mas o inconsciente já era reconhecido no Romantismo e o papel da
mãe foi analisado no inicio do século XIX por Pestalozzi.
O
caso mais tranqüilo foi o de Darwin,que reconheceu que a seleção natural foi “descoberta”
por Wallace e,depois,outro
cientista,oriundo da classe operária,cujo nome eu não me recordo,mas que pode
ser encontrado nos volumes da revista Ciência Hoje ,do Brasil.O importante é
que Darwin reconheceu os dois.Na
verdade a idéia de que as espécies vivas
se transformavam era admitida no século XVIII e o avô de Darwin,Moses,já tinha
proposto o problema que só veio a ter solução com o seu neto,provando que esta
história de que a viagem no beagle foi casual,é falsa,pois Darwin a fez para
realizar a comprovação posta por seu antecessor familiar.
O
caso,no entanto,mais escandaloso é o de Marx.Ainda que Marx tenha admitido a
possibilidade de que Hegel chegasse ao materialismo histórico,na sua “
Filosofia do Direito” e que Engels tenha dito,na “ Origem da Família,da Propriedade
e do Estado”que Morgan,o antropólogo Morgan(cujas pesquisas sobre a sociedade
primitiva serviram de base a este livro),chegara ao materialismo histórico
independentemente,na relação de ambos com o movimento político e social e com
os economistas,as coisas aparentemente desandam(digo aparentemente porque ainda
estou pesquisando).
Uma
vez eu ouvi de um simpatizante do anarquismo,que Marx “ tinha copiado tudo de
Proudhon”.Na época eu achei isto escandaloso,mas lendo “A Filosofia da Miséria”
notei que o conceito de mais-valia ,identificado como roubo,está presente nele.
A
distinção entre valor-de-uso e valor-de-troca ,cuja origem Marx aponta
acertadamente em Aristóteles,passou por uma reformulação e amplificação no
Iluminismo alemão,especialmente em Fichte,que preconizava que a sociedade utópica
do futuro se basearia somente no valor de uso(V.Max Beer,”História das Lutas
Sociais”).
Todo
mundo sabe as ligações inevitáveis entre Ricardo e Marx,mas existem outros
neo-ricardianos ,que tiveram influência em Marx,como Rodbertus,muito citado por
Bohm Bawerk.Em Rodbertus a distinção continua e ele a conecta com o de
mais-valia.
Então
as mesmas dúvidas quanto ao peso individual dos criadores citados devem ser
jogadas sobre Marx,cuja importância histórica emocional(quase religiosa)na luta
por um mundo utópico,parece tê-las obscurecido ou,mais
exatamente,reprimido,inclusive e principalmente nos regimes totalitários
dele(contre lui?)derivados.
Qual
será a distância real de Marx deste outros pensadores?
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