quarta-feira, 21 de março de 2018

Mais críticas


É claro que em todas as profissões existem as pessoas de bem.Nem sempre são  maioria,mas presume-se que sim.Nas faculdades particulares encontrei muita gente que poderia,se tivesse  tido oportunidade,chegar às Universidades Públicas.Mas tiveram que trabalhar e ,com dinheiro,puderam pagar uma faculdade,depois de maduras.
Outros alunos tinham consciência de  suas dificuldades e  eu,como professor,os ajudava,porque eu sabia que eles ,de posse destes limites,saberiam se conduzir.
Mas grande parte escrevia qualquer coisa e exigia a nota,porque eram apoiados pelas direções ,que não podiam perder a receita.O professor nestas faculdades é despesa,os alunos ,receita,eu costumava brincar com as turmas.
O fato é que quando um advogado se formava eu ficava apavorado com a perspectiva  dele cometer erros crassos e quando ele mostrasse o seu curriculum,o meu nome estava lá,como seu professor.
Ninguém iria perguntar(e não pergunta)se o professor(no caso eu),fora obrigado a dar esta nota para garantir o seu emprego.
O que ocorre nestas universidades é não só a mistura da política com a profissão,mas do dinheiro com ela.É o padrão Brasil,que causou a tragédia do Rio Doce.
O que causou esta tragédia?Promiscuidade entre a política,o poder público e as empresas.Isso acaba por afetar as necessidades de cumprimento das tarefas técnicas e profissionais,que nem sempre permitem o lucro desmesurado de nosso capitalismo autárquico e arcaico(porque baseado na dicotomia modernidade/extrema pobreza).
O que digo aqui ,e vou continuar dizendo, é que se somos um país moderno e industrial precisamos construir uma meritocracia para produzir novos conteúdos,conteúdos nacionais,nas mais diversas áreas(como foi um pouco no passado[modernismo]{“revolução “de trinta}).Quem tinha razão era Locke:o homem é desigual.A vida não é injusta,como disse o Presidente Kennedy:não é injusta,é  desigual.A sociedade de classes aprofunda esta realidade e nós podemos diminuir estas distâncias,mas suprimi-las inteiramente,é algo que a história e a vida demonstram ,cada vez mais,ser impossível.
Para competir com as outras nações e criar riqueza,mesmo em meio à pobreza,teremos que admitir isto,pois é uma exigência da sociedade capitalista industrial moderna.O discurso social pode e deve ser introduzido permanentemente dentro deste processo,que ,às vezes,se inicia,mas pàra,se inicia,mas pàra.Mas deve ser iniciado até ser possível mantê-lo,em nome do progresso de todos.
Ou isso ou devemos talvez retornar à famosa polêmica Eugênio Gudin e Roberto Simonsen,da década de 20 do século passado,sobre se era bom ou não a industrialização,que começava(em São Paulo).Enquanto o primeiro queria que o Brasil continuasse como país agrário,o segundo preconizava a entrada do país no capitalismo,coisa que já era em curso e  inevitável.
Procede ,em termos,o pensamento de Eugênio Gudin:com quatro séculos de agrarismo,o Brasil podia usar esta experiência para construir um novo país,sem cataclismos,reordenando racionalmente a sociedade(coisa mais factível em sociedades camponesas[mais homogêneas]).A indústria operaria mudanças convulsionais,saltos difíceis de controlar.
A direita,neste viés,tem uma certa lógica,ao defender um certo programa regressivo(monárquico às vezes).Hobsbawn cita ,em seu livro sobre a “ Dupla Revolução”,um argumento dos escravocratas estadunidenses,muito persuasivo:nestas sociedades a fome não existia,a garantia de comer sempre(até ao final da vida)estava dada.Os escravocratas dos EUA ,e do Brasil,mostravam aos seus escravos,os cortiços que se formavam nas cidades inglesas,em torno das indústrias,onde milhares de desempregados “ livres”,passavam privações(“ exército industrial de reserva”[Marx]{O Capital,Vol.1,cap. V “ Acumulação Primitiva”}).
Liberdade e escolha são coisas diferentes(tema para o próximo artigo).No tempo de Napoleão,muitas pessoas,incentivadas pela “ carreira aberta ao talento”(frase de Napoleão quando se tornou primeiro cônsul ,expressando a nova realidade do capitalismo),em todos os lugares da Europa,se uniram a ele,a seu exército(Grand Armée),afim de alcançar este objetivo.
Mas outros,servos,lacaios,preferiram a condição dada pelos seus senhores(aristocratas),herdada da Idade Média.Até ao século XVIII,com o advento da sociedade industrial moderna,quem nascia servo morria servo;e quem ,aristocrata,como tal ia para o cemitério.Para nós hoje,isto parece um horror,mas muitos escolhiam não ter liberdade,em troca da certeza de comer ,vestir e morar,do nascimento até à morte,sem sobressaltos(Leopold Mozart[pai de Mozart]{um pouco contrariado})(principalmente na Áustria,Inglaterra e Rússia,os países básicos da aliança permanente contra Napoleão e o capitalismo moderno).
Toda esta base histórica é o que está por trás destes comportamentos brasileiros,de predomínio da política,da casa –grande sobre o trabalho,porque os brasileiros,por quatro séculos,sempre dependeram dos seus senhores.usando Foucault,” escolhemos” a indústria,mas mentalmente,prosseguimos na sociedade agrária ,escravocrata,do passado.A realidade material muda,mas a consciência,não.


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