É claro
que em todas as profissões existem as pessoas de bem.Nem sempre são maioria,mas presume-se que sim.Nas faculdades
particulares encontrei muita gente que poderia,se tivesse tido oportunidade,chegar às Universidades
Públicas.Mas tiveram que trabalhar e ,com dinheiro,puderam pagar uma
faculdade,depois de maduras.
Outros
alunos tinham consciência de suas
dificuldades e eu,como professor,os
ajudava,porque eu sabia que eles ,de posse destes limites,saberiam se conduzir.
Mas
grande parte escrevia qualquer coisa e exigia a nota,porque eram apoiados pelas
direções ,que não podiam perder a receita.O professor nestas faculdades é
despesa,os alunos ,receita,eu costumava brincar com as turmas.
O fato é
que quando um advogado se formava eu ficava apavorado com a perspectiva dele cometer erros crassos e quando ele
mostrasse o seu curriculum,o meu nome estava lá,como seu professor.
Ninguém
iria perguntar(e não pergunta)se o professor(no caso eu),fora obrigado a dar
esta nota para garantir o seu emprego.
O que
ocorre nestas universidades é não só a mistura da política com a profissão,mas
do dinheiro com ela.É o padrão Brasil,que causou a tragédia do Rio Doce.
O que
causou esta tragédia?Promiscuidade entre a política,o poder público e as
empresas.Isso acaba por afetar as necessidades de cumprimento das tarefas
técnicas e profissionais,que nem sempre permitem o lucro desmesurado de nosso
capitalismo autárquico e arcaico(porque baseado na dicotomia
modernidade/extrema pobreza).
O que
digo aqui ,e vou continuar dizendo, é que se somos um país moderno e industrial
precisamos construir uma meritocracia para produzir novos conteúdos,conteúdos
nacionais,nas mais diversas áreas(como foi um pouco no passado[modernismo]{“revolução
“de trinta}).Quem tinha razão era Locke:o homem é desigual.A vida não é
injusta,como disse o Presidente Kennedy:não é injusta,é desigual.A sociedade de classes aprofunda esta
realidade e nós podemos diminuir estas distâncias,mas suprimi-las
inteiramente,é algo que a história e a vida demonstram ,cada vez mais,ser
impossível.
Para
competir com as outras nações e criar riqueza,mesmo em meio à pobreza,teremos
que admitir isto,pois é uma exigência da sociedade capitalista industrial
moderna.O discurso social pode e deve ser introduzido permanentemente dentro
deste processo,que ,às vezes,se inicia,mas pàra,se inicia,mas pàra.Mas deve ser
iniciado até ser possível mantê-lo,em nome do progresso de todos.
Ou isso
ou devemos talvez retornar à famosa polêmica Eugênio Gudin e Roberto
Simonsen,da década de 20 do século passado,sobre se era bom ou não a industrialização,que
começava(em São Paulo).Enquanto o primeiro queria que o Brasil continuasse como
país agrário,o segundo preconizava a entrada do país no capitalismo,coisa que
já era em curso e inevitável.
Procede
,em termos,o pensamento de Eugênio Gudin:com quatro séculos de agrarismo,o
Brasil podia usar esta experiência para construir um novo país,sem
cataclismos,reordenando racionalmente a sociedade(coisa mais factível em
sociedades camponesas[mais homogêneas]).A indústria operaria mudanças
convulsionais,saltos difíceis de controlar.
A
direita,neste viés,tem uma certa lógica,ao defender um certo programa regressivo(monárquico
às vezes).Hobsbawn cita ,em seu livro sobre a “ Dupla Revolução”,um argumento
dos escravocratas estadunidenses,muito persuasivo:nestas sociedades a fome não
existia,a garantia de comer sempre(até ao final da vida)estava dada.Os escravocratas
dos EUA ,e do Brasil,mostravam aos seus escravos,os cortiços que se formavam
nas cidades inglesas,em torno das indústrias,onde milhares de desempregados “
livres”,passavam privações(“ exército industrial de reserva”[Marx]{O
Capital,Vol.1,cap. V “ Acumulação Primitiva”}).
Liberdade
e escolha são coisas diferentes(tema para o próximo artigo).No tempo de
Napoleão,muitas pessoas,incentivadas pela “ carreira aberta ao talento”(frase
de Napoleão quando se tornou primeiro cônsul ,expressando a nova realidade do
capitalismo),em todos os lugares da Europa,se uniram a ele,a seu exército(Grand
Armée),afim de alcançar este objetivo.
Mas
outros,servos,lacaios,preferiram a condição dada pelos seus
senhores(aristocratas),herdada da Idade Média.Até ao século XVIII,com o advento
da sociedade industrial moderna,quem nascia servo morria servo;e quem
,aristocrata,como tal ia para o cemitério.Para nós hoje,isto parece um
horror,mas muitos escolhiam não ter liberdade,em troca da certeza de comer
,vestir e morar,do nascimento até à morte,sem sobressaltos(Leopold Mozart[pai
de Mozart]{um pouco contrariado})(principalmente na Áustria,Inglaterra e Rússia,os
países básicos da aliança permanente contra Napoleão e o capitalismo moderno).
Toda
esta base histórica é o que está por trás destes comportamentos brasileiros,de
predomínio da política,da casa –grande sobre o trabalho,porque os
brasileiros,por quatro séculos,sempre dependeram dos seus senhores.usando
Foucault,” escolhemos” a indústria,mas mentalmente,prosseguimos na sociedade
agrária ,escravocrata,do passado.A realidade material muda,mas a
consciência,não.
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