domingo, 16 de novembro de 2025

Os aforismos de Hegel

 

O ano de 1806 para Hegel foi decisivo.Foi neste ano que ele assistiu a batalha de Iena e dela tirou conclusões universais,a partir da vitória de Napoleão.E também se casou e teve sua lua-de-mel...

O ano em que ele escreveu a fenomenologia do espirito,mas “evoluiu” para uma concepção “científica” da dialética.

E neste ano escreveu alguns aforismos que retratam um pouco a sua mentalidade naquele periodo em que realiza uma tremenda mudança no seu pensamento e na vida.

Este terceiro aforismo vai ser comentado por mim.Está em castellano.

§3

Existe efectivamente un partido cuando éste se escinde en sí mismo. Así sucede con el Prostentatismo, cuyas diferencias ahora se deben reparar con intentos de unificación –una prueba de que ya no existe. Ello porque, en el escindirse, la diferencia interna se constituye como realidad. Con el nacimiento del Prostentatismo habían cesado todos los cismas del Catolicismo. –Ahora la verdad de la religión cristiana viene a ser continuamente probada, pero ya no se sabe para quien; porque ya no es con los Turcos que tenemos que ver.


Ele se refere ao fato de que o protestantismo,básico no seu pensamento,nasceu quando já não havia mais cisma na Igreja Católica,mas agora existem cismas constantes na religião reformada,que não aproveita para ninguém,na Europa.

Digo eu:só para a religião mesmo e para seus interesses.

Uma das características mais importantes do protestantismo,desde Lutero,ou principalmente a partir dele,foi ter admitido múltiplas interpretações possíveis da Biblia.

Talvez não fosse um desejo dele Lutero e de muitos reformadores,mas sem isto não possível destruir a estrutura monolitica e hierárquica da igreja católica na idade média.

O pluralismo ocidental ganhou força com esta verdade:existem muitas vozes para chegar a Deus,para chegar a uma verdade e isto tem que ser admitido,apesar das divergências.

Hegel se propõe a fazer uma renunificação através da filosofia,que busca reconciliar o homem com Deus ,através da dialética,deixando de lado estas inumeras vozes e colocando a religião num novo patamar e com um novo papel:rector das condutas,mas não dirigente da politica e da sociedade.

Este é um dos motivos para uma ciência da lógica dialética.




sábado, 8 de novembro de 2025

Não existe totalidade absoluta

 

No pensamento de Hegel a totalidade é vista como coincidente com absoluto,com o Ser em geral.Mas,lembrando Kant,não há principio que se identifique totalmente com o absoluto.

A totalidade é construída e limitada.Ela diz mais respeito à ciência ,com um objeto formal de investigação,do que à filosofia,mas Hegel a extende para esta última.

A totalidade particular,científica,tudo bem,mas na filosofia apresenta problemas e perigos.

A generalidade filosófica não tem como ser abarcada ,como dissemos,pela totalidade.Muito embora Hegel não associe a totalidade ao gênero,considera a filosofia como ciência e que ,portanto,possui um objeto formal, a ser restituido pela linguagem.(ciência da lógica dialética).

Há uma diferença entre a totalidade legitima e totalitária,que seria aquela,esta última,que extrapola os limites da totalidade construida,segundo critérios objetivos.

Ainda que seja possível fazer,na filosofia ,uma totalidade,há que ter cuidados para ela não se tornar uma totalidade absoluta.

O absoluto é só uma verdade subjetiva psicológica,uma “queda” no dizer de Kierkegaard.

Já falei muito sobre esta limitação de Hegel não reconhecida por ele.Daí é que vinha o seu pânico com relação à dialética,como pontuou Leandro Konder ,que era o pânico de controlar o movimento.

A totalidade de tudo o que existe,do Ser,é impossivel.A dialética mesmo é impossivel de acompanhar,pois suas leis são sempre ultrapassadas pelo movimento real.

Mas nesta problemática entre totalidade legitima e totalitária,ou seja,que se impõe existe algo muito sério,porque se a totalidade fica nos seus limites ela acaba com o movimento e por isso a totalidade que vai além destas linhas ,é necessária,como negação da legitima,para que tudo continue.

Contudo,isto não elimina o que eu disse ,que não existe totalidade absoluta,bem como o absoluto.



quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Aplicações da fenomenologia Heidegger

 

Na verdade,para ser fiel ao pensamento de Heidegger nós temos que reconhecer que não há mais essências,muito menos no ontisch .

Eu,ao colocar essências no ontisch ,estou me referindo,segundo ele, a coisas paradas,extáticas,dir-se-ia como Platão.

O ser é colocado por Heidegger no tempo e tem,pois,uma dynamis,que o fundamenta agora.

Aquilo que chamamos a existência ,que se manifesta de diversas maneiras,não é como essências,mas como um ente que se põe à maneira de algo.

Assim sendo a marcha da existência se faz não pela sucessão de essências,mas como a marcha dos entes que se colocam de um determinado modo,como um algo,que é o ser do ente.

Graciliano Ramos detestava colocar em seus escritos a palavra algo ,que,para ele,não designava nada.

Mas no caso de Heidegger o “algo” se refere a alguma coisa que se move no tempo e que não pode ser reduzido a uma essência definitiva.

A essência do professor,que dá aula,convive com a de pai,irmão,cidadão e assim por diante ,cabendo ao observador(mas não ao praticante)abstrair estas outras essências,para ficar com uma,no caso,a de professor.

Mas a prática objetiva,o modo de agir no tempo ,no imediato,é o ato de ensinar,condicionado pelas circunstâncias.

O ser do ente é aquele que se põe neste modo e ente(ontisch)é este algo,depurado pela observação e praticado em si mesmo no tempo.

Eu continuo dizendo que uma coisa não exlcui a outra e que Heidegger exagera um pouco nestas distinções,mas não há como negar que a existência é esta prática constante,no tempo,no cotidiano e que a sua distorção pode ser analisada e recuperada pela fenomenologia,que funda uma psicologia,uma possível nova psicologia.

É neste processo psicológico que eu acho que ainda mantém Aristóteles no timão:como analisar um professor,no seu caminho existencial,sem trabalhar com o extático,com o Ser e as essências?

O que significa o Ser pelo Ser Heidegger

 

A diferença entre as visões do Ser de Aristóteles ,Platão e de Hegel para a de Heidegger é que esta última uma visão é pura,pelo ser mesmo.

Nos filósofos citados,o Ser é tudo e nada ao mesmo tempo.Ele é a possibilidade de tudo e como definição ele é nada,porque nenhuma essência,contida nele ,o define,o abarca totalmente.

Assim sendo quando falamos do Ser não dizemos nada.É um falatório constatativo,como o materialismo histórico.

Somente pela fenomenologia,quando procuramos as possibilidades de essências ,dizemos algo do Ser,sem citá-lo,mas admitindo-o como existente.

Hegel colocara esta problemática na sua “ Fenomenologia” ao dizer que Deus esquecia-se do mundo,do Ser,ao constatar e construir essências infinitas,municiando o mundo.

Mas aqui ainda temos um Ser que se define pelas essências,inclusive a sua ,o ecz-stenz,a existência.

Em Aristóteles e Platão só se analisa o Ser pela sua essência,a ser investigada e estudada.No caso de Platão as Idéias,enquanto que Aristóteles define o Ser como uma essência substantiva.

Tomemos o exemplo de Hans Kelsen,no caso do direito:a teria pura do direito explica o direito por ele próprio. O conteúdo do direito é a sua força para se impor.A sua heteronomia imposta(Estado).

Mas é lógico que existe uma crítica de minha parte,que sou kantiano:se o direito só subsiste se for capaz de se impor,não prescinde de conteúdos justificadores e organizadores,porque a força ,em si mesma,não cria nada,como mostrou Rousseau.

No caso de Heidegger,e sua proposta de explicar o ser-por-si-mesmo,sofre,de mim,idêntica crítica:se é verdade que o Ser no tempo se modifica,não permanece como Ser,mas como manifestações de essências ou antes manifestações das essências.

Heidegger se encaminha para chamar estas transformações de existência (embora ele não se declare como tal[existencialista]),mas quais são estas transformações da existência?



Canudos e o comunismo III reflexões sobre o que é de fato comunismo

 

Depois de décadas reobtive um famoso livro sobre a ditadura do proletariado,de Ettienne de Balibar,que li em 1977.

Neste livro eu verifiquei os verdadeiros critérios usados por Marx para definir o que é ditadura do proletariado,socialismo e comunismo,no sentido,este último,que ele entendia e que foi,a meu ver ,deturpado pelo socialismo,por Lênin e os bolcheviques.

Vamos com calma,é muita coisa.

As questões que vão ser colocadas por Marx aqui,provêem de dois textos importantíssimos: “A critica ao programa de Gotha” e “ A Guerra Civil em França”.

As nossas primeiras elucubrações começam com uma carta de Marx a Bracke de 5 de Maio de 1875.

Como Marx põe a questão da extinção do Estado na rabeira do desenvolvimento do capitalismo e do comunismo?

Balibar ressalta que há uma diferença entre Engels e Marx quanto a esta questão.Numa carta de 1891 a Bebel,Auguste Bebel de 28 de março deste mesmo ano,Engels preconiza o fim do Estado,enquanto na carta a Bracke Marx ainda fala de um “estado no futuro comunista”.

Balibar tem um certo sofrimento com esta diferença,mas tanto Marx quanto Engels entendiam o estado futuro como uma instãncia administrativa apenas.Isto está nos textos sobre o anarquismo. Os dois possuiam esta visão homogênea sobre o Estado.

O Estado opressor é só aquele que serve a uma classe. O Estado de classe.

Balibar tenta juntar os dois pela questão de extinção deste Estado,mas a premissa é aquele que eu coloquei acima.

Na discussão com a social-democracia,com Lassalle,que inventou o termo,o problema do que é o estado,de como ele deve ser aparece.

Eu vou tratar disto no próximo artigo.

Leituras de Hegel II

 

O segundo problema aventado acima é o da pedra de toque da dialética.Existem várias dialéticas,mas o que a define fundamentalmente é a oposição básica entre dois termos,supostamente reais ou mentais(produtos da consciência).

Leandro Konder ,em seu livro sobre Hegel,faz a analogia com o “dia”.

Esta palavra “ dia” tem a ver com o dia,de cotidiano:ele significa a translação do sol de um ponto de ascensão para o de chegada no horizonte;dia quer dizer esta passagem de um ponto a outro que se opõem.Lética,vem de “ aletheia”,verdade.

A busca da verdade por um processo de oposição minima entre dois pontos.A construção de algo entre eles é a dialética.

Em meio às várias formas de dialética o ponto essencial é que o movimento tem que ser explicado.E a condição é que um ponto se explica pelo outro.

Em Platão a racionalidade se opõe à sensibilidade,que é o seu contrário(persiste a discussão se em Platão existe uma dialética[mas o método é dialético]).

Neste duplo,existe já a negação do primeiro termo,dir-se-ia ,a tese:a antítese é a sensibilidade,mas podemos fazer ao contrário.

Uma das características da dialética é que podemos começar de qualquer lado para “produzir” e compreender o movimento,mas na verdade na dialética de Hegel sempre existe um ponto de partida,uma tese,que é “contestado” por uma antitese,mas o movimento tende a diluir esta preeminência.

Hegel cria um ser que se movimenta pelo seu oposto ou não-ser :o oposto de macho é fêmea,que gera a sintese do filho.No caso do finito e do infinito,seguindo a dedução racional(Aristóteles),este segundo precede o primeiro,dentro do conceito de totalidade.

Mas outros dialéticos reformulam o conceito de dialética:David Straus coloca a triade cristã,pai,filho e espirito santo ou na ordem pai,deus-pai,espirito santo e filho(Cristo).

Se olharmos bem não há oposição entre deus e ES e com o filho que também é deus ,a não ser colocando o epiteto pai e filho,mas mesmo assim o espirito santo não não-deus,mas “diferente”.Se a relação se dá entre deus e maria,é entre macho e fêmea e gera um filho humano\deus,mas Maria não é Deus.

Outra forma de dialética é a de Proudhon ,com os conjuntos práticos,que Sartre reinvindicou para si,mas que são de Proudhon.



Mais leituras de Hegel

 

Continuando as minhas leituras de Hegel e preparando meu segundo livro sobre ele,trato novamente do fulcro do seu pensamento:a dialética.

A dialética visa explicar o movimento,visa responder a esta questão candente dos últimos dois séculos(considerando o tempo de Hegel),que veio desde o nascimnto da ciência moderna:se o movimento existe e se aplica à sociedade.

Já me referi em outro artigo à origem dos fundamentos do pensamento hegeliano,que está na sua(dele) análise sobre a Revolução Francesa e o acometimento do terror e da reação termidoriana.

O fato é que dois problemas já foram abordados por mim:o problema de se uma coisa é ele e outra ao mesmo tempo e qual é a pedra de toque da dialética.

No primeiro eu analisei o pensamento de Popper e vou aplicá-lo na questão central da dialética hegeliana:o finito e o infinito.

Nós vimos que se não houver uma dialética entre estes dois termos não há possibilidade de explicar a dialética,provando-a e muito menos o universo,o Ser em geral.

Se cada um destes termos fosse visto de per si,não haveria como explicar o infinito,que seria uma noção atemporal e metafísica.Se só abordássemos o finito não teriamos a existência do infinito,o que é absurdo,embora muitos o ponham.

O infinito guarda uma relação dialética com o finito,que o compõe ,em infinitas partes.

Segundo a dialética no finito está o infinito,a sua condição e no infinito está o finito,sua condição.Ambos são uma coisa e outra,concomitantemente.

Mas analisemos o problema:se dissermos que no finito está o infinito,já não será o finito,finito,mas infinito;se dissermos que a parte finita constitui o infinita teremos que separar estes dois termos e mudar a dialética,pois o não-ser do finito é infinito(absurdamente separado dele)e do infinito é o finito,que está separado dele,para constituir o infinito.

Como se vê,no nascedouro a dialética demonstra que uma coisa não pode ser ela e outra simultâneamente,só explicando o erro de Hegel a sua concepção de tempo e suas limitações temporais.

Mas é uma tentação pensar que estes dois termos se relacionam no tempo.O tempo finito das coisas,do Ser,se une ,no tempo,para fazer o infinito,mas dividir assim em partes o tempo,mesmo a filosofia anterior a Hegel(Descartes),encontrou dificuldades.

O segundo problema eu vou tratar no próximo artigo.



sábado, 1 de novembro de 2025

CANUDOS COMO COMUNISMO II

 

Eu ia manter o artigo anterior como suficiente para responder ao professor que veio no meu youtube,mas revirando a minha biblioteca digital descobri um texto muito bom de Luiz Antonio Moniz Bandeira “O sentido social e o contexto politico da guerra de Canudos”,onde,no segundo parágrafo,ele se refere ao “ comunismo cristão”.

A região de canudos fora ocupada ,em priscas eras,por indigenas,que tinham a terra como propriedade coletiva.Quando Conselheiro ,em 1893,fundou o Belo Monte,manteve esta característica.

Moniz Bandeira cita Euclides da Cunha:

... a propriedade tornou-se-lhe uma forma exagerada de coletivismo tribal dos beduínos: a apropriação pessoal apenas dos objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto para a companhia. Os recém-chegados entregavam ao Conselheiro noventa e nove por cento do que traziam, incluindo os santos destinados ao santuário comum. Reputavam-se felizes com a migalha restante.”

Este relato não é exato,não é bem assim,mas está próximo do igualitarismo cristão.Não s e contentavam com migalhas.Possuíam a propriedade das casas e dos instrumentos de trabalho,mas a terra era uma proporpiedade comunal e o principal da produção era entregue ao grupo ,para repetir os preceitos de São Paulo(São Paulo era comunista[aliás seu fundador]):

Entre eles nenhum necessitado havia, pois todos os que possuíam terrenos ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no ao pé do Apóstolo. E a cada um era distribuído conforme a sua necessidade" 32.
Por este texto Moniz Bandeira nós ficamos sabendo que Euclides comparava Canudos às propostas utópicas de Fourier e Owen,em que não havia propriedade sobre a terra.

E no século XVIII,ainda seguindo a narrativa de Moniz Bandeira,a experiência da República Guarani 33 repetia o modelo do comunismo cristão e das formas de organização indigenas,que não estavam presentes no Sul,mas em todo o Brasil,por motivos óbvios.

Vou fazer uma análise disto no próximo artigo.


terça-feira, 21 de outubro de 2025

O estereótipo

 


Nos meus estudos em dicionários encontrei uma palavra que me suscitou no pensamento algumas reflexões.Todo mundo sabe que eu trabalho muito com a questão da experiência.O pensamento não é de forma alguma igual à experiência,mas contém algo dela,nele.

Símbolos ,imagens,estereótipos,carregam algo da experiência,mas não são tocados por ela mais.

Se houvesse nos estereótipos algo permanente da experiência,do novo,não seria possível compreender o mecanismo de todo preconceito,como algo que se impõe às pessoas.

Mas isto não significa que em todo estereótipo não exista uma experiência humana passada,que se cristaliza nele.

Quanto ao futuro ele pode ser impermeável,mas a experiência contida neste conceito que se cristaliza.

O problema,no entanto,é que ao longo do tempo e na complexidade social,temos que admitir coisas que não são experiência.Temos que admitir esta rutura com o movimento da humanidade.

Há coisas que permanecem,como modos transcendentais,em relação ao tempo.São não-tempo.

Então a transcendentalidade não se refere a Deus e a ideias perfeitas somente.

Há coisas que não são tocadas pela experiência ,pela experiência contínua.O pensamento está nesta situação?Ele é algo mais do que experiência?

Se respondermos que sim como vamos definir o pensamento,pelo menos,do ponto de vista filosófico?

Do ponto de vista científico é possível saber o que é o pensamento,mas da perspectiva filosófica é mais dificil,principalmente admitindo a sua relação com a experiência humana.

Seria um momento de intersecção entre filosofia e ciência?Seria pura representação das coisas,inter-relacionadas pela subjetividade?



quarta-feira, 8 de outubro de 2025

As relações humanas mais críticas ao socialismo

 

Não há problemas em um corpo social se todos se gostam.Tal é dificil na sociedade como um todo.Um dos sonhos da revolução russa e da utopia em geral, é transformar a divisão de classes em “o reino do amor”:retiradas as barreiras que separam o homem do homem,ele se abraçará em definitivo,com o seu próximo,porque ele reconhecerá a humanidade do outro e em si mesmo.

Esta visão idealizada provém do cristianismo ,que preconizava um mundo extático,em que os homens não põem nada entre eles,vivendo para sobreviver e para congraçar diariamente com o seu semelhante.O ideal medieval da (quase)imobilidade.

Mas diante da evolução histórica da humanidade,com esta idealização sendo contraditada pela verdade da sociedade,as discussões passaram para pergunta sobre aquilo que separa os homens.

E aí Rousseau,no “discurso sobre a desigualdade”,acusa a propriedade.

A partir daí todos amplificaram a idealização e esperam afastar a propriedade para chegar àquele mesmo desejo do cristianismo ,sem o admitir.

Mas na verdade não há prova nenhuma de que o afastamento resolva de vez e automaticamente,o imbroglio da humanidade.

Mais ainda os homens são diferentes e as relações sociais são complexas.

O socialismo é resultado desta ingenuidade:tornou tudo coletivo está solucionado o problema,porque ser coletivo,isto é,ligado ao seu semelhante,tornou-se humano.

Eu nem vou usar o fato de que existem más pessoas no âmbito da humanidade,para destruir esta idealização,mas o ideal de humanidade,mesmo que ela fosse boa,por inteiro,é apenas uma construção sobre o que seria o bem final.

Todo ideal é uma referência geral do que seria bom,do que é a humanidade,porque uma definição dela é sempre parcial,não total ,do que é a coisa definida.

Por isto identificar a humanidade com o socialismo é idealização.Com consequncias graves.

sábado, 4 de outubro de 2025

Aplicações da Fenomenologia

 

Agora que nós entendemos como funciona a fenomenologia a partir de nossas análises de Heidegger,podemos usá-la para entender o sentido em vários ramos da atividade humana.

Hoje vou tratar da História:o biógrafo Jon Lee Anderson cita um episódio da vida do biografado.Depois que el che deixou de ser guerrilheiro,para tornar-se ministro da economia,um companheiro das lutas o tratou com uma rispidez típica do tempo passado,ao que Guevara redaguiu:agora companheiro,tem que levar em conta a minha posição aqui.Já não somos guerrilheiros.

O antigo revolucionário foi absorvido pelo estado cubano,que ele,como marxista,queria(e devia)acabar,mas ao contrário,usa o seu novo papel para exigir um respeito diferente,uma vez que senão ele e o estado,representantes do povo,poderiam ser atingidos.

Fenomenologicamente,a essência de guerrilheiro comunista foi substituída pela de ministro da economia,de um país especifico.

Tal mudança de essência enseja e organiza vários debates e discussões em torno do personagem:ele deixou de ser comunista autêntico(segundo a teoria)quando assumiu este posto?Existe uma ruptura real entre o guerrilheiro e o ministro?Se assim for ,tal pode ser aplicado a outros personagens do mundo comunista.E ao comunismo,ao tomar o poder do estado.

Existe uma essência de Guevara?Talvez a fixemos narrando a sua biografia e então podemos dizer que nos referimos a este ernesto,já que não existe uma ernesticidade padrão(aristotélica)que una todos os ernestos do mundo ou alguns.

E outras questões podem ser aventadas aqui:o que definiria o dasein,o “ isto” de Ernesto Che Guevara?Qual a sua verdade moral e psicológica?

Há compossibilidade entre o humanismo de Guevara e o ato dele matar um jovem porque roubou leite em pó?

Quem defende que só a policia possa usar armas,pode defender Guevara,que aconselhava que o povo ficasse armado?

Perguntas a serem respondidas nos próximos artigos.



sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Série sobre filosofia

 

Já inumeras vezes falei sobre a minha relação com a filosofia.Mas retorno a ela e aos meus altos estudos,a partir de hoje.É que sou acusado às vezes de ser um generalista em matéria de filosofia:uso a história da filosofia,pegando este ou aquele autor a esmo?Não,de modo algum.

É porque a minha visão de todo saber é mediatizado necessariamente pelo tempo histórico:eu não analiso nenhum pensador ou filósofo anacronicamente,isto é,como algo meta-temporal ou histórico,fechado em si mesmo.Ao contrário ,dentro de sua datação e dos seus condicionamentos históricos.

É minha filiação kantiana que me leva a este raciocinio:a partir de Kant é que se analisa o passado dentro de uma perpsectiva de movimento temporal.

Muito se fala que a questão do movimento é só a partir de Hegel,mas ele cristaliza um movimento que vem desde Kant,desde o iluminismo alemão.

Na medida em que o conhecer é o modo de conhecer,os modos que se sucedem só se sucedem no tempo.No tempo em geral e no tempo qualificado,histórico.

A compreensão do movimento podia e pode se consolidar aqui,para ser desenvolvida posteriormente.

Então a análise de cada pensamento adquire sistematicidade enquanto relacionados com este desenvolvimento histórico-temporal,em cada movimento histórico-temporal.

Não é catar milho na história do pensamento,mas a sua conexão com o desenvolvimento da humanidade.

Porque a partir daí o leitor tem como entender a contribuição de cada filósofo e pensador.

E mais do que isto uma série de problemas próprios destes condicionamento aparecem para apreciação.

Até onde vai a História?A História da filosofia?Qual a relação entre a história em geral e a filosofia e assim por diante.

É assim que vejo a filosofia.



sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Dasein II

 

Eu voltei aqui para analisar a questão de Kant e Ariano Suassuna,para esclarecer certos problemas que aparecem frequentemente quando faço uma defesa deste filósofo.

Não estou afirmando de jeito nenhum que a percepção do mundo não seja válida.Que não se possa saber nada.Isto aparece sempre que Kant é defendido.

Então,nós não podemos ter certeza de nada?Não podemos confiar na policia ao investigar um crime,porque não se conhece a coisa em si?

O próprio Kant procurou,na Estética Transcendental,se afastar do Bispo Berkeley,garantindo que é possível conhecer sim ou fazer uma conexão real com o mundo,através da percepção.

Mas nós conhecemos este dasein,este “ isto” que está diante de nós.O que não podemos é um conceito universal,uma apreensão universal de tudo e saber tudo sobre este “ isto” que se coloca diante de nós.

Mesmo na investigação de um crime,se observarmos bem,muita coisa fica irreparavelmente escondida.Num acidente aéreo também.

Não há como restituir o real total em circunstância nenhuma,mas parte dele sim.

A totalidade hegeliano\marxista é só uma construção ,uma união de partes e parcialidades do real,segundo critérios previamente estabelecidos.

Kant acredita que algumas coisas são universais,mas a crítica deste pensamento é algo mais complexo e para um outro artigo.

Aqui eu pretendo dirimir estas desconfianças recorrentes sobre a impossibilidade de conhecer,que não provém de Kant.

Na análise investigativa de um crime,de um acidente aéreo,a percepção dos fatos é conhecimento sim e tem como produzir os efeitos desejados,bem como o ato de fazer ciência tem elementos de comprovação certos e claros.

Não é o fim da previsibilidade científica,mas uma sua relativização.Uma limitação essencial da certeza.

sábado, 13 de setembro de 2025

No dasein de novo problema da coisa em si

 

Ocorreu-me esta semana uma questão,quando vi um video de Ariano Suassuna criticando a “ding-an-Sich”,quer dizer repetindo as críticas tradicionais.

Kant,como já expliquei,nunca disse que não se pudesse conhecer algo,um copo na mão(como no video),uma mesa,ou uma pessoa.O dasein ,o isto que observamos no imediato é plenamente cognoscível.

Contudo,uma definição geral de uma coisa,não é possível de fazer,porque existem inúmeras manifestações delas próprias,não uma só.

O copo na mão de Ariano Suassuna não pode ser definido por uma essência geral de copo.Copo é definido como um recipiente que retém liquidos a serem bebidos ou manipulados.

Só nesta definição nós podemos incluir uma gama quase que infinita de recipientes que possuem usos diversos do copo.

Até mesmo se juntarmos as mãos e bebermos água poderíamos chamá-las de copo?

A filosofia e a razão não provam que a realidade existe.O ser humano só tem a percepção das coisas.O Dasein,o isto que observamos o apreendemos pelos sentidos:há uma adequação entre a expressão linguística do copo,este copo,que a une à percepção,mas,como acabamos de ver,a definição do que um copo é,para além da percepção de um copo singular,este copo,não é possível.

A expressão linguística do dasein é só pela descrição/narração do que ele é,mas mesmo assim é dificil restituir o real.Este copo é bojudo,como tantos outros;é transparente,como tantos outros ,serve para beber liquidos,como tantos outros;serve para beber vinho,porque tem uma abertura menor que permite sentir o bouquet e assim por diante.

No fundo só se pode dizer que o copo tem características e foi usado num contexto especifico,numa data e numa ocasião,cujos critérios de identificação são meramente convencionais:no dia x do ano x Ariano Suassuna pegou um copo na mão e o usou para desancar Kant.

Acaso então não se pode fazer um nexo cognitivo,no caso ,por exemplo,de crimes?

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Porque falo em Utopia II

 

Foi Marcuse quem colocou o problema de se superar a visão cientificista do marxismo,exposta principalmente por Engels,em “ Do socialismo utópico ao socialismo cientifico”,que dá conta de que após o socialismo utópico vem o científico.

Mas nós vimos que não é assim,não só pelos descaminhos do socialismo (“cientifico”),mas também pelas possibilidades contidas no termo genérico utopia e na própria realidade,que como coloquei no artigo anterior,apresenta problemas não resolvidos até hoje.

Chegou a hora de responder às perguntas do artigo anterior:quem garante que a iniciativa privada irá desaparecer?A empresa vai desaparecer?O mercado?O direito?

Partindo do pressuposto de que o homem tem uma natureza e características próprias desta natureza,não se pode deslindar os seus maiores problemas com uma concepção e um ato de vontade.

E já vimos que não está contido no teorema alienação\desalienação a resolução final dos problemas humanos,porque movimento nenhum está pré-dado.

O homem não vai se encontrar consigo mesmo,agindo segundo a vontade.Ele constrói o caminho onde criará as condições para ocupar-se de si mesmo:o tempo livre.

Ocorrendo o tempo livre,repito,quem garante que algumas formas de existência do capitalismo não permaneçam,ainda que modificadas?

Por este motivo não existe uma utopia pronta ,mas alguns elementos básicos a discutir e outros a construir,como num novo pacto da humanidade,humanitário.

A desigualdade,por exemplo,trará enormes problemas,porque nem todos aceitarão e um modo de convencimento há que construir.

Diminuir a distância entre as pessoas e elevar a base social de riqueza ajudam,mas isto,em princípio não garante,repito ,que as diferenças de capacidade não contaminem o solidarismo humano esperado no futuro.

Como prever agora um futuro perfeito?Se existe?



segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Porque uso a palavra Utopia?

 

Porque na verdade entendo ser este um conceito muito mais complexo do que o marxismo imaginava(o termo é este mesmo).

O marxismo ,como monismo que é,achava que a destinação do homem estava contida em determinados principios e fatos desalienadores.

Mas além destes fatos,existe a consciência humana e suas escolhas.Marx acertadamente criticava os valores,que ,segundo ele,não eram mais importantes do que as necessidades e a consciência destas é a liberdade.

Outras questões,no entanto,aparecem,para além desta pura adequação e exigem escolhas,valores e principios.A liberdade é mais do que a adequação.Ela tem um limite material,mas vale por si mesma,até para conseguir a satisfação das necessidades.

Dito isto,não se há de afirmar que uma utopia esteja contida ab ovo nesta humanidade alienada,bastando a desalienação.

Ela é construída paulatinamente,a partir da consciência das necessidades,mas também da consciência de tudo o que existe e dela própria.

Isto fica claro se nós analisarmos com calma aquilo que se propõe ao longo da história,como utopia.Aqui neste artigo não dá para falar de todas as utopias e eu pretendo abordá-lo depois.

Falo fundamentalmente da utopia comunista,especialmente marxista,que é que causou mais mudanças e ainda aguça aqueles que pensam,como eu,na sua continuidade.

Uma utopia materialista ,em que todos dividem o que possuem,eu já provei ser impossível e anti-marxista.E já me referi ao fato que o tempo livre de que as classes altas,desde a antiguidade, possuem,é a condição da desalienação e da igualação de todos.

Contudo supõe-se que a supressão das classes se dá pela abundância e isto é parcialmente verdadeiro,porque as aptidões das pessoas,individuamente consideradas,vão estabelecer um novo tipo de desigualdade natural,reconhecida por Marx,que se ligava assim,sem o saber talvez(acho dificil)a Locke e por conseguinte aos liberais,como Hannah Arendt demonstrou.

Então,existem discussões ainda pendentes sobre a utopia,que ainda não tem uma conformação pré-dada,mas um processo de construção e reconhecimento (lembrando Hegel).

A iniciativa privada desaparecerá?A empresa capitalista?O direito desaparecerá?O estético substituirá o ético?Há mil perguntas a responder.Assunto para os próximos artigos.

domingo, 24 de agosto de 2025

As Utopias em Nietzsche e Marx

 

Em quê eles se interligam?Naquilo que o teatrólogo Jorge Andrade disse uma vez: “ no dia em que o homem for libertado do homem então será livre e estará na utopia”.

Nietzsche também possui uma utopia.É que o homem saia,como um todo,do rebanho.Marx,a meu ver,cria as condições e defende algo semelhante: “individuos concretos livres”.

Não é possível romper com a experiência coletiva humana.Não é um ato de vontade que rompe com estes poderes manipulatórios e que mantêem o rebanho,como um pastor.

A vontade participa ,mas ela é só um dos elementos constitutivos do processo revolucionário(num sentido amplo esta palavra)de mudança e tal complexidade impõe uma luta coletiva e individual.

Alguns,talvez por sorte até,saem do rebanho,mas o mais importante é que todos,ressalvando a escolha,se evadam deste coletivo perverso.

Digo escolha porque,como pontificou Etienne de la Boetie,há pessoas que apreciam a subservência ,apreciam este todo,estas dominações todas.

E mentalmente,em muitos lugares,atacar a perspectiva individual é tido como o supra-sumo da “ bondade humana” que reune lobos e cordeiros.

Todos sonham com uma liberdade ,medida por um tempo livre,à disposição de todos,que,assim,se dedicariam a si mesmos e aos outros,num mesmo patamar de verdade,bondade e honestidade.

Hoje,pensar em si mesmo é maldade.É desrespeitar os outros,mas no tempo é um falso problema e na verdade a bondade humana não é absoluta e considerar o mal em torno de você como possibilidade de apresentação,é uma necessidade para evitar surpresas desagradáveis.

Em Marx,como repito sempre,há um ideal(herança de Hegel?),mas este espera se aproximar do real ,que é onde o movimento deve começar e terminar. Ou o contrário,melhor dito.

Nós vemos que Franz Mehring ,o primeiro marxista a ver este traço de união,tinha uma certa razão.

sábado, 16 de agosto de 2025

Marx e Nietzsche dou um pouquinho a mão à palmatória

 

Discipulo ferrenho que fui durante muitos anos de Luckacs odiava Nietzsche e principalmente as relações entre ele e Marx.

O primeiro,no âmbito mesmo do marxismo,a estabelecer esta ligação,foi Franz Mehring,biógrafo de Marx.

O termo de ligação entre estes dois autores que junto com Freud constituem as três cabeças da contemporaneidade,é a questão do humanismo.

Ambos são críticos do humanismo,como uma abstração,que não é maior e mais importante do que os seres humanos vivos e concretos, “individuos concretos livres”,como dizia Marx em A Ideologia Alemã.

De igual maneira, Nietzsche inicia o seu périplo intelectual criticando a abstração e se voltando para uma expressão destes indivíduos concretos vivos,nas suas ações e movimento.

Eu penso que em Marx há ainda um ideal a orientar estes “ individuos”,em direção à utopia.Não comungo,pois,das visões radicais de Althusser,quanto ao “anti-humanismo” téorico.

Mas é fato que Marx se volta para este concreto,como o lugar da verdade e Nietzsche também.

O além do homem não é o homem superior,mas aquele que se evade deste curral,que é o humanismo,a abstração racional derivada e reprodutiva do conceito,deixando de lado este “ rebanho” geral sob a sua canga.

O além do homem é a perspectiva de cada subjetividade,que cria os seus valores e faz as suas escolhas sem a preocupação de se referenciar a estes modelos abstratos.

Mantenho uma certa crítica a Nietzsche quanto à Razão,mas reconheço que a abstração racional muitas vezes é vazia e só serve aos imperativos manipulatórios do poder e das convenções.

Mas a ligação ocorre quando ambos os autores questionam que a verdade esteja na abstração.

E quando elaboram as suas respectivas utopias.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

A segunda lei de termodinâmica de Boltzman

 

Continuando o meu trabalho sobre a História da Física,especialmente a dissensão entre visão de Einstein e a da teoria quântica,nós vamos tratar da Segunda Lei da Termodinâmica, na formulação de Ludwig Boltzmann, que está relacionada ao conceito de entropia e à probabilidade estatística dos estados físicos de um sistema.

O Enunciado Básico da Segunda Lei da Termodinâmica é:

A entropia de um sistema isolado nunca diminui; ela tende a aumentar com o tempo, atingindo um máximo no equilíbrio.”

Mas Boltzmann deu a esse princípio um fundamento estatístico, revolucionando a forma de entendê-lo.


1. O QUE BOLTZMANN FEZ DE DIFERENTE?

Antes de Boltzmann, a entropia era um conceito termodinâmico abstrato (de Clausius), sem uma base microscópica clara.

Boltzmann introduziu uma interpretação estatística da entropia: ele conectou o comportamento macroscópico (como temperatura e pressão) ao comportamento microscópico das partículas (como átomos e moléculas em movimento).

Carcaterística do periodo imediatamente anterior ao ano de 1905.Nós estamos tratando agora de probabilidades no campo da física,que até aqui era aceito por Einstein.

2. A FÓRMULA DE BOLTZMANN

A famosa fórmula gravada em sua lápide:

S=k⋅ln⁡WS = k \cdot \ln WS=k⋅lnW

Onde:

Microestado: uma configuração específica das partículas (posição e velocidade).
Macroestado: uma descrição global do sistema (ex: temperatura e volume fixos).

3. O QUE A SEGUNDA LEI DIZ, SEGUNDO BOLTZMANN?

Boltzmann mostrou que:

O estado de maior entropia (mais desordem) é também o mais provável.

Ou seja:

  • Sistemas tendem espontaneamente a evoluir para os estados mais prováveis — aqueles que possuem mais microestados possíveis.

  • O aumento da entropia é, então, uma questão de probabilidade: há muito mais formas de estar em um estado desordenado do que em um ordenado.


Exemplo clássico: Gelo derretendo

  • Gelo (estado ordenado) → poucas formas de organizar as moléculas.

  • Água líquida (estado desordenado) → muitas formas possíveis.

Logo, derreter é mais provável que congelar espontaneamente, pois a água líquida tem maior W (mais microestados), e portanto maior entropia.

Importante: Determinismo vs Probabilidade

A mecânica clássica é determinista. Mas a abordagem de Boltzmann é estatística:

  • Um sistema pode retornar a um estado de baixa entropia (por exemplo, um gás se recomprimir espontaneamente num canto do recipiente), mas a probabilidade disso acontecer é tão baixa que, na prática, nunca ocorre.


Em resumo:

A segunda lei da termodinâmica segundo Boltzmann afirma que:

  • A entropia mede a probabilidade de um estado.

  • Os sistemas evoluem naturalmente para os estados mais prováveis (com mais microestados), ou seja, de maior entropia.

  • O crescimento da entropia é uma consequência natural da estatística dos sistemas com muitas partículas.



terça-feira, 5 de agosto de 2025

Hitler, Stalin e Napoleão: Estrangeiros que Tomaram o Poder

 

Hitler, Stalin e Napoleão, figuras que marcaram a história pela ambição desmedida, possuem uma similitude frequentemente ignorada: eram estrangeiros no país que governaram. Adolf Hitler, nascido em Braunau am Inn, na Áustria, tornou-se o líder da Alemanha; Joseph Stalin, nascido em Gori, na Geórgia, assumiu o controle absoluto da União Soviética; Napoleão Bonaparte, nascido em Ajaccio, na Córsega, consolidou-se como imperador dos franceses. Este elemento de estrangeirismo não é detalhe biográfico isolado, mas componente importante de seu perfil de conquistadores.

Existem histórias romanescas de poetas ou figuras misteriosas,que chegam em cidades pequenas e açulam a curiosidade e o interesse de pessoas dentro delas.Estas pessoas,fora as mocinhas casadoiras,encontram neste “ estrangeiro”,um meio de saírem da repressão,de encontrarem uma fuga ou novas oportunidades

Foi o que se deu com estas três personagens:como estrangeiros eles não participavam do mainstream de cada país e fizeram alianças com grupos marginalizados ou oprimidos ou então com elites do país para construir um poder,naturalmente ditatorial em relação a outros setores da sociedade.

Ajuda neste périplo o fato de eles não serem notados ou considerados inicialmente como um perigo.Mas as circunstâncias se modificam e ajudam o dominio destes “ de fora”.

O caso de Napoleão é emblemático,porque ele era um aristocrata pobre que se aproveita da Revolução Francesa para subir,mas percebe no transcorrer dos fatos,que pode subir mais ainda e chegar ao topo.

Ele se alia aos setores corruptos da Revolução,oportunistas que diante da acefalia do período pós-jacobinos,tomam o poder,para reproduzir interesses somente.

Após conseguir um lugar ao sol neste contexto faz a mesma coisa que César fez em relação à Gália.

Faz uma promessa de invadir a Áustria e acabar com a contra-revolução,através da Itália ,para voltar como salvador da pátria.O projeto não dá certo ,mas é a base para o golpe de 1799.

Apesar deste fracasso e o do Egito,ele se lança como o fiel da balança militar de uma sociedade em desequilibrio e caminhando para uma outra acefalia.

Stalin ,como georgiano,era alguém à margem do poder.Os intelectuais do Partido Bolchevique o desprezavam por sua incapacidade teórica,o seu empirismo grosseiro.

Deram a ele um cargo meramente formal,de trabalho braçal,a secretaria geral,só para realizar uma triagem dos imensos problemas que se apresentavam diante do Partido.

Com este cargo Stalin tomou conta da administração,descortinando os seus meandros e se apossando dos instrumentos de governo,ajudado pela doença progressiva de Lênin,que o levou ,finalmente,à morte.

Mas o importante de Stalin é que ele reprimiu posteriormente e progressivamente os bolcheviques para se aliar a uma burocracia tradicional da Rússia.

Stalin,responsável pela proteção das nacionalidades,abandonou a sua,reprimiu o seu país em nome de um chauvinismo grã-russo,que perdura.

E finalmente,Hitler,tendo as mesmas facilidades dos outros dois,obteve apoio interno para proteger as classes altas do bolchevismo,como fizera Mussolini,na Itália e na Europa.

Usando argumentos raciais de direita logrou aceitação por parte destas classes.


Mas o elemento fundamental no caso dos três é o fato de eles não estarem no maisntream nacional e por isto puderam manobrar em direção a um poder absoluto.

As sociedades são governadas por um núcleo de poder que conforma a sociedade a seu bel-prazer,de acordo com seus interesses.

Mas existem grupos que querem sair desta “ conformação” e quando aparece alguém de forma,num periodo de crise ou de agitação politica ,a aliança com esta figura estrangeira,fora do nucleo funciona muito bem.

Às vezes,como vimos,a aliança é com o mainstream,mas nas revoluções se dá normalmente assim.







sábado, 2 de agosto de 2025

Não deseje morte pros outros não é feio E pode reverter para si

 

Com a minha independência e minhas realizações eu sabia perfeitamente que suscitaria ódio da parte de muita gente.Estou preparado para estas agressões e violências.

Mas uma coisa me chama a atenção:o desejo que eu morra.Isto é uma prova de que só me matando as minhas ideias e o meu trabalho acabam e não influenciam mais ninguém.

Aí não pautaria rádio nenhuma,o msn,o professor Lowy,a Folha de São Paulo e um monte de gente que fica atenta a mim no youtube.É o jeito.

Graças ao meu esforço,meu trabalho não é porcaria.Procuro fazer uma história da ciência;analiso questões relativas à liberdade de expressão individual;trabalho com a utopia;falo de filosofia profissionalmente e com grande complexidade;ciências e matemáticas eu analiso com acuidade.História,ciências politicas.

Tudo refinadíssimo e de alto nivel.Além do quê o fato de ,como eu disse, pautar órgãos de comunicação,que não me citam,prova a qualidade do meu trabalho.

Quem não tem interesse na minha atividade,como eu sobejamente tenho dito,passe ao largo,ignore ou aceite,que dói menos.

A minha luta é no sentido de provar que o esforço individual,de produzir conhecimento e trazer novas verdades e atualizações é legítimo e depende não de canudo,mas de esforço continuado.

Tem muita gente aí com certificado que não pega num livro e só cuida da carreira.

Sou capaz de discutir com qualquer um ,em qualquer instância,mas reconheço que alguams pessoas alcançaram um nível de reconhecimento, internacional inclusive,que eu não possuo.

Mas isto não me deprime,porque o que me interessa é esta produção de conhecimentos e de verdades,pelo menos para meu país.

Universalização e transcendência epocal são coisas mais dificeis de alcançar.Mas eu luto.



terça-feira, 29 de julho de 2025

mais um trecho de meu livro sobre o poder minoritário

 

Corporação: Pessoa Jurídica, Personalidade Global

A ficção jurídica que confere às corporações o status de “pessoa” permite que elas operem com direitos e deveres,até certo ponto. Questões sobre sua responsabilidade moral aparecem. Se pode processar e ser processadas, firmar contratos e influenciar eleições, por que não são responsabilizadas?Isto é um truque quem desde o império romano: as pessoas que constituem a corporação não são responsabilizadas.Essa pergunta acompanha estudiosos, juristas e ativistas há décadas, e este trabalho busca investigar as possíveis respostas e impasses.


domingo, 27 de julho de 2025

A minha luta contra a desonestidade e a covardia

 

Eu sou uma pessoa muito atenta,um pesquisador muito atento.E principalmente quanto à minha recepção por parte de corporações ,que continuarei a criticar aqui(eu e o professor Leonardo Boff).

Semana passada, uma destas corporações,a Folha de São Paulo publicou uma imagem de uma psicanalista até jeitosinha,que repetiu os mesmos conceitos que eu emiti aqui em meus artigos sobre Freud.

Antes uma tal sra Pasternak se referiu a um problema que eu abordei não só em relação a Freud ,mas a Marx também e a outros pensadores:depois de Galileu,que supostamente criou uma ciência(hoje sabe-se que não),todo mundo sonhou fazer uma.

Freud achou que tinha criado,até Jung aparecer.Marx dedicou o Capital para Darwin para se igualar a ele,como autor de uma ciência(hoje se sabe que não é assim).

Quanto ao que disse a Sra Pasternak,nunca falei que Freud era criador de uma pseudo-ciência e ele não é.Ele criou uma técnica e discorreu sobre ela,achando que era uma ciência.Mesmo que não seja, ele tem importância como pensador e a técnica tem ainda uma certa validade.

Se faz idêntico pensamento em relação a Marx:O Capital é uma teoria ,secundada por ativistas e pesquisadores.Só isto.

Aí entra a jeitosinha que repetiu o que coloquei num artigo meu(sem me citar):dentre tantas concepções psicológicas que procuram analisar a complexidade psicológica humana,Freud,e isto é sabido há décadas(talvez por ele mesmo,no final da vida)trabalha só com o conceito de neurose.

Na época em que apareceu, a neurose era algo muito presente,mas com a clínica freudiana ela diminuiu e muitos autores decretaram o fim de Freud,porque ninguém mais precisava ir a uma terapia.

Contudo,a minha experiência indica,além de outras pessoas (que eu conheci)o esforço terapêutico ainda tem como ser realizado,porque,mesmo conhecendo a sua neurose ,racionalmente, a presença de um terapeuta para sua ,digamos superação,em seus sintomas mais desconfortáveis,é essencial.

A transferência salva Freud e a clínica.

Continuo lutando contra a desonestidade intelectual e a covardia,mas eu tenho muito mais coisa para dizer e vou dizer.Vou continuar esta análise.