sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Série sobre filosofia

 

Já inumeras vezes falei sobre a minha relação com a filosofia.Mas retorno a ela e aos meus altos estudos,a partir de hoje.É que sou acusado às vezes de ser um generalista em matéria de filosofia:uso a história da filosofia,pegando este ou aquele autor a esmo?Não,de modo algum.

É porque a minha visão de todo saber é mediatizado necessariamente pelo tempo histórico:eu não analiso nenhum pensador ou filósofo anacronicamente,isto é,como algo meta-temporal ou histórico,fechado em si mesmo.Ao contrário ,dentro de sua datação e dos seus condicionamentos históricos.

É minha filiação kantiana que me leva a este raciocinio:a partir de Kant é que se analisa o passado dentro de uma perpsectiva de movimento temporal.

Muito se fala que a questão do movimento é só a partir de Hegel,mas ele cristaliza um movimento que vem desde Kant,desde o iluminismo alemão.

Na medida em que o conhecer é o modo de conhecer,os modos que se sucedem só se sucedem no tempo.No tempo em geral e no tempo qualificado,histórico.

A compreensão do movimento podia e pode se consolidar aqui,para ser desenvolvida posteriormente.

Então a análise de cada pensamento adquire sistematicidade enquanto relacionados com este desenvolvimento histórico-temporal,em cada movimento histórico-temporal.

Não é catar milho na história do pensamento,mas a sua conexão com o desenvolvimento da humanidade.

Porque a partir daí o leitor tem como entender a contribuição de cada filósofo e pensador.

E mais do que isto uma série de problemas próprios destes condicionamento aparecem para apreciação.

Até onde vai a História?A História da filosofia?Qual a relação entre a história em geral e a filosofia e assim por diante.

É assim que vejo a filosofia.



sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Dasein II

 

Eu voltei aqui para analisar a questão de Kant e Ariano Suassuna,para esclarecer certos problemas que aparecem frequentemente quando faço uma defesa deste filósofo.

Não estou afirmando de jeito nenhum que a percepção do mundo não seja válida.Que não se possa saber nada.Isto aparece sempre que Kant é defendido.

Então,nós não podemos ter certeza de nada?Não podemos confiar na policia ao investigar um crime,porque não se conhece a coisa em si?

O próprio Kant procurou,na Estética Transcendental,se afastar do Bispo Berkeley,garantindo que é possível conhecer sim ou fazer uma conexão real com o mundo,através da percepção.

Mas nós conhecemos este dasein,este “ isto” que está diante de nós.O que não podemos é um conceito universal,uma apreensão universal de tudo e saber tudo sobre este “ isto” que se coloca diante de nós.

Mesmo na investigação de um crime,se observarmos bem,muita coisa fica irreparavelmente escondida.Num acidente aéreo também.

Não há como restituir o real total em circunstância nenhuma,mas parte dele sim.

A totalidade hegeliano\marxista é só uma construção ,uma união de partes e parcialidades do real,segundo critérios previamente estabelecidos.

Kant acredita que algumas coisas são universais,mas a crítica deste pensamento é algo mais complexo e para um outro artigo.

Aqui eu pretendo dirimir estas desconfianças recorrentes sobre a impossibilidade de conhecer,que não provém de Kant.

Na análise investigativa de um crime,de um acidente aéreo,a percepção dos fatos é conhecimento sim e tem como produzir os efeitos desejados,bem como o ato de fazer ciência tem elementos de comprovação certos e claros.

Não é o fim da previsibilidade científica,mas uma sua relativização.Uma limitação essencial da certeza.

sábado, 13 de setembro de 2025

No dasein de novo problema da coisa em si

 

Ocorreu-me esta semana uma questão,quando vi um video de Ariano Suassuna criticando a “ding-an-Sich”,quer dizer repetindo as críticas tradicionais.

Kant,como já expliquei,nunca disse que não se pudesse conhecer algo,um copo na mão(como no video),uma mesa,ou uma pessoa.O dasein ,o isto que observamos no imediato é plenamente cognoscível.

Contudo,uma definição geral de uma coisa,não é possível de fazer,porque existem inúmeras manifestações delas próprias,não uma só.

O copo na mão de Ariano Suassuna não pode ser definido por uma essência geral de copo.Copo é definido como um recipiente que retém liquidos a serem bebidos ou manipulados.

Só nesta definição nós podemos incluir uma gama quase que infinita de recipientes que possuem usos diversos do copo.

Até mesmo se juntarmos as mãos e bebermos água poderíamos chamá-las de copo?

A filosofia e a razão não provam que a realidade existe.O ser humano só tem a percepção das coisas.O Dasein,o isto que observamos o apreendemos pelos sentidos:há uma adequação entre a expressão linguística do copo,este copo,que a une à percepção,mas,como acabamos de ver,a definição do que um copo é,para além da percepção de um copo singular,este copo,não é possível.

A expressão linguística do dasein é só pela descrição/narração do que ele é,mas mesmo assim é dificil restituir o real.Este copo é bojudo,como tantos outros;é transparente,como tantos outros ,serve para beber liquidos,como tantos outros;serve para beber vinho,porque tem uma abertura menor que permite sentir o bouquet e assim por diante.

No fundo só se pode dizer que o copo tem características e foi usado num contexto especifico,numa data e numa ocasião,cujos critérios de identificação são meramente convencionais:no dia x do ano x Ariano Suassuna pegou um copo na mão e o usou para desancar Kant.

Acaso então não se pode fazer um nexo cognitivo,no caso ,por exemplo,de crimes?

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Porque falo em Utopia II

 

Foi Marcuse quem colocou o problema de se superar a visão cientificista do marxismo,exposta principalmente por Engels,em “ Do socialismo utópico ao socialismo cientifico”,que dá conta de que após o socialismo utópico vem o científico.

Mas nós vimos que não é assim,não só pelos descaminhos do socialismo (“cientifico”),mas também pelas possibilidades contidas no termo genérico utopia e na própria realidade,que como coloquei no artigo anterior,apresenta problemas não resolvidos até hoje.

Chegou a hora de responder às perguntas do artigo anterior:quem garante que a iniciativa privada irá desaparecer?A empresa vai desaparecer?O mercado?O direito?

Partindo do pressuposto de que o homem tem uma natureza e características próprias desta natureza,não se pode deslindar os seus maiores problemas com uma concepção e um ato de vontade.

E já vimos que não está contido no teorema alienação\desalienação a resolução final dos problemas humanos,porque movimento nenhum está pré-dado.

O homem não vai se encontrar consigo mesmo,agindo segundo a vontade.Ele constrói o caminho onde criará as condições para ocupar-se de si mesmo:o tempo livre.

Ocorrendo o tempo livre,repito,quem garante que algumas formas de existência do capitalismo não permaneçam,ainda que modificadas?

Por este motivo não existe uma utopia pronta ,mas alguns elementos básicos a discutir e outros a construir,como num novo pacto da humanidade,humanitário.

A desigualdade,por exemplo,trará enormes problemas,porque nem todos aceitarão e um modo de convencimento há que construir.

Diminuir a distância entre as pessoas e elevar a base social de riqueza ajudam,mas isto,em princípio não garante,repito ,que as diferenças de capacidade não contaminem o solidarismo humano esperado no futuro.

Como prever agora um futuro perfeito?Se existe?



segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Porque uso a palavra Utopia?

 

Porque na verdade entendo ser este um conceito muito mais complexo do que o marxismo imaginava(o termo é este mesmo).

O marxismo ,como monismo que é,achava que a destinação do homem estava contida em determinados principios e fatos desalienadores.

Mas além destes fatos,existe a consciência humana e suas escolhas.Marx acertadamente criticava os valores,que ,segundo ele,não eram mais importantes do que as necessidades e a consciência destas é a liberdade.

Outras questões,no entanto,aparecem,para além desta pura adequação e exigem escolhas,valores e principios.A liberdade é mais do que a adequação.Ela tem um limite material,mas vale por si mesma,até para conseguir a satisfação das necessidades.

Dito isto,não se há de afirmar que uma utopia esteja contida ab ovo nesta humanidade alienada,bastando a desalienação.

Ela é construída paulatinamente,a partir da consciência das necessidades,mas também da consciência de tudo o que existe e dela própria.

Isto fica claro se nós analisarmos com calma aquilo que se propõe ao longo da história,como utopia.Aqui neste artigo não dá para falar de todas as utopias e eu pretendo abordá-lo depois.

Falo fundamentalmente da utopia comunista,especialmente marxista,que é que causou mais mudanças e ainda aguça aqueles que pensam,como eu,na sua continuidade.

Uma utopia materialista ,em que todos dividem o que possuem,eu já provei ser impossível e anti-marxista.E já me referi ao fato que o tempo livre de que as classes altas,desde a antiguidade, possuem,é a condição da desalienação e da igualação de todos.

Contudo supõe-se que a supressão das classes se dá pela abundância e isto é parcialmente verdadeiro,porque as aptidões das pessoas,individuamente consideradas,vão estabelecer um novo tipo de desigualdade natural,reconhecida por Marx,que se ligava assim,sem o saber talvez(acho dificil)a Locke e por conseguinte aos liberais,como Hannah Arendt demonstrou.

Então,existem discussões ainda pendentes sobre a utopia,que ainda não tem uma conformação pré-dada,mas um processo de construção e reconhecimento (lembrando Hegel).

A iniciativa privada desaparecerá?A empresa capitalista?O direito desaparecerá?O estético substituirá o ético?Há mil perguntas a responder.Assunto para os próximos artigos.

domingo, 24 de agosto de 2025

As Utopias em Nietzsche e Marx

 

Em quê eles se interligam?Naquilo que o teatrólogo Jorge Andrade disse uma vez: “ no dia em que o homem for libertado do homem então será livre e estará na utopia”.

Nietzsche também possui uma utopia.É que o homem saia,como um todo,do rebanho.Marx,a meu ver,cria as condições e defende algo semelhante: “individuos concretos livres”.

Não é possível romper com a experiência coletiva humana.Não é um ato de vontade que rompe com estes poderes manipulatórios e que mantêem o rebanho,como um pastor.

A vontade participa ,mas ela é só um dos elementos constitutivos do processo revolucionário(num sentido amplo esta palavra)de mudança e tal complexidade impõe uma luta coletiva e individual.

Alguns,talvez por sorte até,saem do rebanho,mas o mais importante é que todos,ressalvando a escolha,se evadam deste coletivo perverso.

Digo escolha porque,como pontificou Etienne de la Boetie,há pessoas que apreciam a subservência ,apreciam este todo,estas dominações todas.

E mentalmente,em muitos lugares,atacar a perspectiva individual é tido como o supra-sumo da “ bondade humana” que reune lobos e cordeiros.

Todos sonham com uma liberdade ,medida por um tempo livre,à disposição de todos,que,assim,se dedicariam a si mesmos e aos outros,num mesmo patamar de verdade,bondade e honestidade.

Hoje,pensar em si mesmo é maldade.É desrespeitar os outros,mas no tempo é um falso problema e na verdade a bondade humana não é absoluta e considerar o mal em torno de você como possibilidade de apresentação,é uma necessidade para evitar surpresas desagradáveis.

Em Marx,como repito sempre,há um ideal(herança de Hegel?),mas este espera se aproximar do real ,que é onde o movimento deve começar e terminar. Ou o contrário,melhor dito.

Nós vemos que Franz Mehring ,o primeiro marxista a ver este traço de união,tinha uma certa razão.

sábado, 16 de agosto de 2025

Marx e Nietzsche dou um pouquinho a mão à palmatória

 

Discipulo ferrenho que fui durante muitos anos de Luckacs odiava Nietzsche e principalmente as relações entre ele e Marx.

O primeiro,no âmbito mesmo do marxismo,a estabelecer esta ligação,foi Franz Mehring,biógrafo de Marx.

O termo de ligação entre estes dois autores que junto com Freud constituem as três cabeças da contemporaneidade,é a questão do humanismo.

Ambos são críticos do humanismo,como uma abstração,que não é maior e mais importante do que os seres humanos vivos e concretos, “individuos concretos livres”,como dizia Marx em A Ideologia Alemã.

De igual maneira, Nietzsche inicia o seu périplo intelectual criticando a abstração e se voltando para uma expressão destes indivíduos concretos vivos,nas suas ações e movimento.

Eu penso que em Marx há ainda um ideal a orientar estes “ individuos”,em direção à utopia.Não comungo,pois,das visões radicais de Althusser,quanto ao “anti-humanismo” téorico.

Mas é fato que Marx se volta para este concreto,como o lugar da verdade e Nietzsche também.

O além do homem não é o homem superior,mas aquele que se evade deste curral,que é o humanismo,a abstração racional derivada e reprodutiva do conceito,deixando de lado este “ rebanho” geral sob a sua canga.

O além do homem é a perspectiva de cada subjetividade,que cria os seus valores e faz as suas escolhas sem a preocupação de se referenciar a estes modelos abstratos.

Mantenho uma certa crítica a Nietzsche quanto à Razão,mas reconheço que a abstração racional muitas vezes é vazia e só serve aos imperativos manipulatórios do poder e das convenções.

Mas a ligação ocorre quando ambos os autores questionam que a verdade esteja na abstração.

E quando elaboram as suas respectivas utopias.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

A segunda lei de termodinâmica de Boltzman

 

Continuando o meu trabalho sobre a História da Física,especialmente a dissensão entre visão de Einstein e a da teoria quântica,nós vamos tratar da Segunda Lei da Termodinâmica, na formulação de Ludwig Boltzmann, que está relacionada ao conceito de entropia e à probabilidade estatística dos estados físicos de um sistema.

O Enunciado Básico da Segunda Lei da Termodinâmica é:

A entropia de um sistema isolado nunca diminui; ela tende a aumentar com o tempo, atingindo um máximo no equilíbrio.”

Mas Boltzmann deu a esse princípio um fundamento estatístico, revolucionando a forma de entendê-lo.


1. O QUE BOLTZMANN FEZ DE DIFERENTE?

Antes de Boltzmann, a entropia era um conceito termodinâmico abstrato (de Clausius), sem uma base microscópica clara.

Boltzmann introduziu uma interpretação estatística da entropia: ele conectou o comportamento macroscópico (como temperatura e pressão) ao comportamento microscópico das partículas (como átomos e moléculas em movimento).

Carcaterística do periodo imediatamente anterior ao ano de 1905.Nós estamos tratando agora de probabilidades no campo da física,que até aqui era aceito por Einstein.

2. A FÓRMULA DE BOLTZMANN

A famosa fórmula gravada em sua lápide:

S=k⋅ln⁡WS = k \cdot \ln WS=k⋅lnW

Onde:

Microestado: uma configuração específica das partículas (posição e velocidade).
Macroestado: uma descrição global do sistema (ex: temperatura e volume fixos).

3. O QUE A SEGUNDA LEI DIZ, SEGUNDO BOLTZMANN?

Boltzmann mostrou que:

O estado de maior entropia (mais desordem) é também o mais provável.

Ou seja:

  • Sistemas tendem espontaneamente a evoluir para os estados mais prováveis — aqueles que possuem mais microestados possíveis.

  • O aumento da entropia é, então, uma questão de probabilidade: há muito mais formas de estar em um estado desordenado do que em um ordenado.


Exemplo clássico: Gelo derretendo

  • Gelo (estado ordenado) → poucas formas de organizar as moléculas.

  • Água líquida (estado desordenado) → muitas formas possíveis.

Logo, derreter é mais provável que congelar espontaneamente, pois a água líquida tem maior W (mais microestados), e portanto maior entropia.

Importante: Determinismo vs Probabilidade

A mecânica clássica é determinista. Mas a abordagem de Boltzmann é estatística:

  • Um sistema pode retornar a um estado de baixa entropia (por exemplo, um gás se recomprimir espontaneamente num canto do recipiente), mas a probabilidade disso acontecer é tão baixa que, na prática, nunca ocorre.


Em resumo:

A segunda lei da termodinâmica segundo Boltzmann afirma que:

  • A entropia mede a probabilidade de um estado.

  • Os sistemas evoluem naturalmente para os estados mais prováveis (com mais microestados), ou seja, de maior entropia.

  • O crescimento da entropia é uma consequência natural da estatística dos sistemas com muitas partículas.



terça-feira, 5 de agosto de 2025

Hitler, Stalin e Napoleão: Estrangeiros que Tomaram o Poder

 

Hitler, Stalin e Napoleão, figuras que marcaram a história pela ambição desmedida, possuem uma similitude frequentemente ignorada: eram estrangeiros no país que governaram. Adolf Hitler, nascido em Braunau am Inn, na Áustria, tornou-se o líder da Alemanha; Joseph Stalin, nascido em Gori, na Geórgia, assumiu o controle absoluto da União Soviética; Napoleão Bonaparte, nascido em Ajaccio, na Córsega, consolidou-se como imperador dos franceses. Este elemento de estrangeirismo não é detalhe biográfico isolado, mas componente importante de seu perfil de conquistadores.

Existem histórias romanescas de poetas ou figuras misteriosas,que chegam em cidades pequenas e açulam a curiosidade e o interesse de pessoas dentro delas.Estas pessoas,fora as mocinhas casadoiras,encontram neste “ estrangeiro”,um meio de saírem da repressão,de encontrarem uma fuga ou novas oportunidades

Foi o que se deu com estas três personagens:como estrangeiros eles não participavam do mainstream de cada país e fizeram alianças com grupos marginalizados ou oprimidos ou então com elites do país para construir um poder,naturalmente ditatorial em relação a outros setores da sociedade.

Ajuda neste périplo o fato de eles não serem notados ou considerados inicialmente como um perigo.Mas as circunstâncias se modificam e ajudam o dominio destes “ de fora”.

O caso de Napoleão é emblemático,porque ele era um aristocrata pobre que se aproveita da Revolução Francesa para subir,mas percebe no transcorrer dos fatos,que pode subir mais ainda e chegar ao topo.

Ele se alia aos setores corruptos da Revolução,oportunistas que diante da acefalia do período pós-jacobinos,tomam o poder,para reproduzir interesses somente.

Após conseguir um lugar ao sol neste contexto faz a mesma coisa que César fez em relação à Gália.

Faz uma promessa de invadir a Áustria e acabar com a contra-revolução,através da Itália ,para voltar como salvador da pátria.O projeto não dá certo ,mas é a base para o golpe de 1799.

Apesar deste fracasso e o do Egito,ele se lança como o fiel da balança militar de uma sociedade em desequilibrio e caminhando para uma outra acefalia.

Stalin ,como georgiano,era alguém à margem do poder.Os intelectuais do Partido Bolchevique o desprezavam por sua incapacidade teórica,o seu empirismo grosseiro.

Deram a ele um cargo meramente formal,de trabalho braçal,a secretaria geral,só para realizar uma triagem dos imensos problemas que se apresentavam diante do Partido.

Com este cargo Stalin tomou conta da administração,descortinando os seus meandros e se apossando dos instrumentos de governo,ajudado pela doença progressiva de Lênin,que o levou ,finalmente,à morte.

Mas o importante de Stalin é que ele reprimiu posteriormente e progressivamente os bolcheviques para se aliar a uma burocracia tradicional da Rússia.

Stalin,responsável pela proteção das nacionalidades,abandonou a sua,reprimiu o seu país em nome de um chauvinismo grã-russo,que perdura.

E finalmente,Hitler,tendo as mesmas facilidades dos outros dois,obteve apoio interno para proteger as classes altas do bolchevismo,como fizera Mussolini,na Itália e na Europa.

Usando argumentos raciais de direita logrou aceitação por parte destas classes.


Mas o elemento fundamental no caso dos três é o fato de eles não estarem no maisntream nacional e por isto puderam manobrar em direção a um poder absoluto.

As sociedades são governadas por um núcleo de poder que conforma a sociedade a seu bel-prazer,de acordo com seus interesses.

Mas existem grupos que querem sair desta “ conformação” e quando aparece alguém de forma,num periodo de crise ou de agitação politica ,a aliança com esta figura estrangeira,fora do nucleo funciona muito bem.

Às vezes,como vimos,a aliança é com o mainstream,mas nas revoluções se dá normalmente assim.







sábado, 2 de agosto de 2025

Não deseje morte pros outros não é feio E pode reverter para si

 

Com a minha independência e minhas realizações eu sabia perfeitamente que suscitaria ódio da parte de muita gente.Estou preparado para estas agressões e violências.

Mas uma coisa me chama a atenção:o desejo que eu morra.Isto é uma prova de que só me matando as minhas ideias e o meu trabalho acabam e não influenciam mais ninguém.

Aí não pautaria rádio nenhuma,o msn,o professor Lowy,a Folha de São Paulo e um monte de gente que fica atenta a mim no youtube.É o jeito.

Graças ao meu esforço,meu trabalho não é porcaria.Procuro fazer uma história da ciência;analiso questões relativas à liberdade de expressão individual;trabalho com a utopia;falo de filosofia profissionalmente e com grande complexidade;ciências e matemáticas eu analiso com acuidade.História,ciências politicas.

Tudo refinadíssimo e de alto nivel.Além do quê o fato de ,como eu disse, pautar órgãos de comunicação,que não me citam,prova a qualidade do meu trabalho.

Quem não tem interesse na minha atividade,como eu sobejamente tenho dito,passe ao largo,ignore ou aceite,que dói menos.

A minha luta é no sentido de provar que o esforço individual,de produzir conhecimento e trazer novas verdades e atualizações é legítimo e depende não de canudo,mas de esforço continuado.

Tem muita gente aí com certificado que não pega num livro e só cuida da carreira.

Sou capaz de discutir com qualquer um ,em qualquer instância,mas reconheço que alguams pessoas alcançaram um nível de reconhecimento, internacional inclusive,que eu não possuo.

Mas isto não me deprime,porque o que me interessa é esta produção de conhecimentos e de verdades,pelo menos para meu país.

Universalização e transcendência epocal são coisas mais dificeis de alcançar.Mas eu luto.



terça-feira, 29 de julho de 2025

mais um trecho de meu livro sobre o poder minoritário

 

Corporação: Pessoa Jurídica, Personalidade Global

A ficção jurídica que confere às corporações o status de “pessoa” permite que elas operem com direitos e deveres,até certo ponto. Questões sobre sua responsabilidade moral aparecem. Se pode processar e ser processadas, firmar contratos e influenciar eleições, por que não são responsabilizadas?Isto é um truque quem desde o império romano: as pessoas que constituem a corporação não são responsabilizadas.Essa pergunta acompanha estudiosos, juristas e ativistas há décadas, e este trabalho busca investigar as possíveis respostas e impasses.


domingo, 27 de julho de 2025

A minha luta contra a desonestidade e a covardia

 

Eu sou uma pessoa muito atenta,um pesquisador muito atento.E principalmente quanto à minha recepção por parte de corporações ,que continuarei a criticar aqui(eu e o professor Leonardo Boff).

Semana passada, uma destas corporações,a Folha de São Paulo publicou uma imagem de uma psicanalista até jeitosinha,que repetiu os mesmos conceitos que eu emiti aqui em meus artigos sobre Freud.

Antes uma tal sra Pasternak se referiu a um problema que eu abordei não só em relação a Freud ,mas a Marx também e a outros pensadores:depois de Galileu,que supostamente criou uma ciência(hoje sabe-se que não),todo mundo sonhou fazer uma.

Freud achou que tinha criado,até Jung aparecer.Marx dedicou o Capital para Darwin para se igualar a ele,como autor de uma ciência(hoje se sabe que não é assim).

Quanto ao que disse a Sra Pasternak,nunca falei que Freud era criador de uma pseudo-ciência e ele não é.Ele criou uma técnica e discorreu sobre ela,achando que era uma ciência.Mesmo que não seja, ele tem importância como pensador e a técnica tem ainda uma certa validade.

Se faz idêntico pensamento em relação a Marx:O Capital é uma teoria ,secundada por ativistas e pesquisadores.Só isto.

Aí entra a jeitosinha que repetiu o que coloquei num artigo meu(sem me citar):dentre tantas concepções psicológicas que procuram analisar a complexidade psicológica humana,Freud,e isto é sabido há décadas(talvez por ele mesmo,no final da vida)trabalha só com o conceito de neurose.

Na época em que apareceu, a neurose era algo muito presente,mas com a clínica freudiana ela diminuiu e muitos autores decretaram o fim de Freud,porque ninguém mais precisava ir a uma terapia.

Contudo,a minha experiência indica,além de outras pessoas (que eu conheci)o esforço terapêutico ainda tem como ser realizado,porque,mesmo conhecendo a sua neurose ,racionalmente, a presença de um terapeuta para sua ,digamos superação,em seus sintomas mais desconfortáveis,é essencial.

A transferência salva Freud e a clínica.

Continuo lutando contra a desonestidade intelectual e a covardia,mas eu tenho muito mais coisa para dizer e vou dizer.Vou continuar esta análise.



Stalin: o homem de aço biografia

 




Iossif Vissarionovitch Dzhugashvili nasceu em 1878, em Gori, na Geórgia, quando o império russo ainda dominava os povos do Cáucaso com mãos pesadas . Isaac Deutscher, em sua obra, nos apresenta um Stalin que desde cedo aprendeu a conviver com a pobreza, a violência doméstica e a opressão política, moldando a rigidez que caracterizaria toda a sua vida. O pai era um sapateiro alcoólatra, frequentemente brutal, e a mãe, Ekaterina, profundamente religiosa, sonhava que o filho se tornasse padre, depositando nele suas esperanças de salvação familiar.

Na juventude, Stalin foi para o seminário de Tbilisi, onde começou a ter contato com os escritos de Marx e Engels, enquanto memorizava salmos e cantava nos coros religiosos. Deutscher destaca que foi neste período que Stalin se libertou da fé ortodoxa e se converteu ao marxismo, abraçando as ideias revolucionárias que circulavam clandestinamente entre os jovens que queriam derrubar o czarismo.

Começar a vida sob esta pressão toda seria,para muitos,o fim,mas Stalin era daquele tipo de homem que quanto mais se batia nele,mais crescia .

Corria também a favor dele o fato de não ter escrúpulos,passando por cima dos problemas sem preocupações éticas.

E finalmente porque era um empirico,alguém que jogava com o real,não como teórico,mas como empirico,sem as hesitações de quem propõe explicações sobre o mundo,a serem provadas.



O autor sublinha que Stalin entrou no movimento bolchevique não como um grande teórico, mas como um organizador incansável e conspirador habilidoso, dedicando-se a assaltos a bancos para financiar a revolução, a construção de células clandestinas e a fuga das diversas prisões e exílios para onde era enviado pela polícia do czar. Era o homem prático, o “homem de aço”, como o apelido que escolheu indicava, preparado para suportar qualquer sacrifício em nome do Partido.(1)

Isto nos coloca o problema das fases da vida de Stalin:até 1905 nos teremos o epriodo de formação de Stalin,com a sua chegada e saída do seminário.

Nos debates que levaram à divisão do Partido Social-democrata Operário Russo,entre bolcheviques e mencheviques,ele não teve nenhuma participação.

Contudo,em 1905,com a derrota do “Ensaio Geral” e o partido caindo numa miserável clandestinidade,a figura do biografado se sobressai pela primeira vez.

Lênin,após 1905,disse que o partido devia se arrastar no chão para sobreviver.

Mas o “ arrastar-se “ de Lênin,significava roubos de bancos e outras formas de “ expropriação”.

Neste contexto Josif se destaca.Trotsky,entãomenchevique,acusou o partido,por estes atos,que,segundo ele,tiravam a credibilidade moral do Partido.

A minoria comanda a maioria

 

A história da humanidade é marcada pela constante presença de um núcleo restrito de poder que determina os rumos da coletividade. Desde as primeiras organizações sociais até as complexas sociedades contemporâneas, verifica-se que a condução política, econômica e ideológica é frequentemente monopolizada por uma minoria dominante, enquanto a maioria permanece em posição de dominada. Essa distinção não é mera circunstância, mas sim resultado de um padrão estrutural que atravessa épocas, culturas e sistemas.

No passado o marxismo submetia tudo à questão de classe ,mas hoje,nós temos que entender este problema a partir da mediação autônoma do Estado.Não que a questão de classe tenha desaparecido.

No campo da política, Maurice Duverger contribui com uma leitura decisiva ao distinguir os governantes dos governados. Para Duverger, essa separação é essencial para compreender as dinâmicas institucionais e os mecanismos que perpetuam a concentração de poder. Os governantes, detentores dos instrumentos formais e informais de comando, moldam leis, normas e valores, enquanto os governados vivenciam os efeitos dessas decisões, com pouca ou nenhuma participação ativa na elaboração delas.

Nem sempre existe uma relação direta entre o Estado e as classes ou uma classe especificamente.

Essa relação está intrinsecamente ligada ao conceito de hegemonia, conforme elaborado por Antonio Gramsci. Para ele, a hegemonia vai além do domínio direto; ela opera através da construção de consenso e da naturalização de valores que favorecem a classe dominante,mas nem sempre ,digo eu.Há até um elemento técnico autônomo.

O poder, portanto, não se impõe apenas pela força, mas pela persuasão ideológica. É nesse terreno simbólico que se solidifica a liderança de uma minoria capaz de fazer parecer que sua visão de mundo é universal.



sexta-feira, 25 de julho de 2025

Anisio e Paulo Freire III

 

Vamos que vamos analisando a educação a partir destas duas figuras importantíssimas e que,a meu ver,não são anti-téticas,embora se queira favorecer o segundo,principalmente as correntes de esquerda,radicais.

A esquerda radical,dentro de seus chavões conhecidos,afirma ser Anisio um aliado da burguesia nacional,por causa da sua preocupação com a nação,um conceito “ burguês”.

Eu já analisei esta situação e entendo que um novo internacionalismo terá que considerar a nação.A esquerda radical só vê os operários e o “ mundo do trabalho”,entendido marxisticamente como “ aquele que produz mais-valia”.Ela não considera a classe média,deste ponto de vista como útil.

Mas como eu já provei, o critério de utilidade também joga um peso decisivo na sociedade e no fundo,no fundo,quando se faz uma crítica à casse media,faz-se em relação às profissões e a algumas outras,tidas como sem importância.

A principal das profissões liberais é a advocacia.Lênin se referia aos advogados das maneiras mais desairosas possíveis.E a crítica ao posicionamento da classe média incide sobre esta profissão.

No inicio da revolução russa pretendeu-se suprimi-la,mas depois,ao sobrevir o caos,foi chamada de volta para organizar a porcaria que os bolcheviques fizeram.

Na época de Stalin ,principalmente na segunda guerra,humilhações a estas profissões foram perpetradas pelos stalinzinhos de plantão.Shostakovitch foi bombeiro.

É verdade que na ideia comunista,exposta por Marx em “ A Ideologia Alemã”,o tempo livre permite que a pessoa tenha várias atividades e profissões,mas não está lá dito que tal liberdade era paar esculachar a classe média.

No final do regime soviético foram impingidas sanções semelhantes a um poeta como Brodsky,que tinha que carregar esterco no carrinho de mão.

Existe toda uma complexa acusação à classe média.A classe média moderna nasceu do próprio crescimento do capitalismo,que criou novas funções e necessidades.

Tal é um fenômeno objetivo(cultural mas objetivo),mas evidentemente que o seu incremento ajudou a burguesia e ela soube usá-lo a seu favor:a classe média é essencialmente nacional e reforçou a visão nacional original da burguesia(nós veremos depois como isto pode mudar e efetivamente mudou).

Mais do que isto .a classe média dificultou o processo revolucionário,como era entendido,por influência da revolução francesa,mas não apenas como efeito da complexificação da sociedade,mas também como pelo fato(negado pelas esquerdas radicais)de que a classe operária foi cooptada pela burguesia e pela classe média.

Toda a mitologia radical abomina a classe média,mas não vê que os “ produtores de mais-valia” se aliaram a ela.

É neste aspecto que Engels viu,no final da vida,o “ fim da revolução”,ou pelo menos,a modificação do seu modo de fazer. Continuo no próximo artigo.

sábado, 19 de julho de 2025

Anisio Teixeira e Paulo Freire II

 

Vamos ver s e consigo falar sobre este tema.Resolvi tratar dos temas de minha profissão querida,magistério,que eu não pude dar continuidade,por razões que explanarei em outra ocasião.

Mas no artigo anterior eu me alonguei em outras questões,atinentes,mas não ligadas diretamente a esta premissa.

A minha discussão sobre a educação brasileira sempre girou em torno destas duas figuras,que são as mais importantes,nesta área,em nosso país.

O primeiro,Anisio,trabalha com o conceito de nação.Todos os que me lêem sabem a minha posição diante deste conceito e como ele é criticado pelas esquerdas,que só falam nos operários ou nos oprimidos em geral,uma noção real,mas um pouco difusa.

E os que me lêem sabem do que eu acho que se deve fazer para progredir um país.

Incorri num pecado ao atacar frontalmente o principio da revolução,que suprime as classes,principalmente a burguesia,culpada,segundo a esquerda radical,da falta de progresso na sociedade.Basta tirá-la e tudo se torna o paraíso desejado.

Esta perspectiva não acho totalmente errada,mas não existe garantia nenhuma de previsibilidade,de que fazendo isto está tudo consumado.A história o provou.

Construir um progresso nacional parece diluir de vez o desejo de uma mudança revolucionária,para estes radicais, e novamente eu digo que não é esta constatação,algo totalmente errado.

Contudo,a utopia virá por outras razões e por um processo educacional,uma concepção nova de progresso e esta é uma das razões porque decidi priorizar a educação nos meus escritos e blogs.

A utopia não virá pelo fato de se superar a miséria e a exploração do capitalismo.Eu acredito ser possível e necessário,controlar o capitalismo primeiro,para depois ,aí sim,convencer a humanidade quanto ao cabimento da utopia.

Não acredito que o capitalismo seja eterno.Mas entendo que formas nacionais de convivência,grupos localizados de pessoas,historicamente determinadas,podem durar um tempo bastante longo ,como já se viu ao longo do tempo.

Fugi do tema de novo.Terei que continuar.



sábado, 12 de julho de 2025

Anisio Teixeira e Paulo Freire

 

Eu já tratei deste tema ,mas senti necessidade de aprofundá-lo diante das minhas reflexões como professor e da constatação de que não vou mais retornar à sala de aula surge o anseio por testemunhar a minha prática na universidade,principalmente particulares.

Não sou um pedagogo,mas trabalho com a empiria e com o que eu sei de teoria,para trazer algumas verdades que eu aprendi na minha atividade preferida,de professor.

Curiosamente existe um cruzamento aí entre o professor e o pedagogo:profissionalmente todo professor é um pedagogo,mas ele se define não pelo que ele aprendeu,mas pelo que ele faz na sala de aula. Na sala de aula ele transmite de forma técnica o conhecimento do seu tempo.Ele é como o médico que ministra a cura que o biólogo achou.Assim é com o pedagogo que descobre formas de ensinar e o professor ensina.

Contudo,e é por isto que eu digo que há um cruzamento,toda a pessoa,ainda que inconscientemente ,é pedagogo. Os pais ,quer queiram quer não,são pedagogos, ruins ou bons,mas o são,porque são forçados a formar homens.

A pedagogia exige formação,mas ela impregna ,como destino,a humanidade,na sua condição racional(embora entre os animais possa haver também[como provou Jane Godall]{entre os chimpanzés}).

Entre os animais não há a formação senão de ...animais:eles não adquirem um avanço(aparentemente só por acaso e provocados pela objetividade),mas entre os homens há um “progresso”,um avanço,a possibilidade de construir um “ novo”.Isto é pedagogia,paideia.

O que une as duas coisas,professor e pedagogo, é o ato de aprendizado,que é mútuo e constante e nas duas atividades tem presença .

Ih,acabei me esquecendo de Paulo Freire e Anisio! Depois eu falo.



terça-feira, 8 de julho de 2025

O ôntico e as essências e seu significado terapêutico

 

O conceito de ôntico (ontisch) em Heidegger é fundamental para compreender a diferença entre os níveis de análise do ser em sua filosofia. Em Ser e Tempo, Heidegger distingue o ôntico do ontológico para mostrar que a investigação filosófica do ser não se confunde com o simples exame dos entes. O ôntico refere-se ao nível do ente enquanto tal, na sua facticidade, particularidade e presença no mundo. Ou seja, diz respeito ao “fato de que” algo é, lidando com os entes em sua concretude, como uma árvore, uma casa, um corpo humano ou um planeta.

No cotidiano, o ser humano vive imerso em preocupações ônticas: suas atividades, seus projetos imediatos, suas dores, alegrias e o uso dos instrumentos que o cercam. A ciência, enquanto tal, também opera no nível ôntico ao estudar os entes a partir de suas propriedades, estruturas e leis. Contudo, Heidegger observa que essa abordagem não questiona o ser destes entes, mas apenas os toma como dados para análise, sem perguntar pelo sentido do ser que os faz serem o que são. Assim, a ciência permanece “ôntica” porque descreve entes, mas não reflete sobre o “ser” que funda a possibilidade de aparecerem como entes.

A originalidade de Heidegger está em mostrar que o ser humano (Dasein) possui uma peculiaridade: é um ente que, ao existir, possui uma compreensão prévia de ser, mesmo que vaga e não tematizada. O Dasein, portanto, tem um modo de ser que é ontológico, pois se interroga sobre o seu próprio ser, mas simultaneamente é ôntico, pois existe de fato no mundo entre outros entes, com suas necessidades e finitudes. Heidegger chama isso de “facticidade” do Dasein: o ser humano está lançado em um mundo de entes, vivendo de maneira ôntica, mas possui a abertura para questionar o ser destes entes, o que o torna ontológico.

Outro ponto importante é que, para Heidegger, a filosofia tradicional esqueceu o ser por ter reduzido toda a sua investigação ao nível ôntico, transformando a metafísica em uma ciência dos entes supremos em vez de questionar o sentido do ser em si. A superação deste esquecimento exige que o Dasein suspenda o olhar meramente ôntico, transformando sua relação com os entes para abrir o horizonte ontológico, onde a questão do ser pode surgir novamente de modo radical.

No entanto, a análise ôntica não é desprezada por Heidegger; ela é necessária como ponto de partida, pois o Dasein só pode empreender a análise ontológica a partir de sua condição ôntica concreta. Em outras palavras, a existência cotidiana, mesmo imersa em preocupações e ambiguidades, contém o germe da abertura ontológica, pois é nela que o ser se dá de modo velado, e é por meio dela que o Dasein pode desvelar-se para si mesmo.

Assim, compreender o ôntico em Heidegger é reconhecer que nossa relação imediata com o mundo e com os entes não é suficiente para nos fazer compreender o sentido do ser, mas é o campo a partir do qual essa questão pode emergir. O desafio heideggeriano permanece: partir do ôntico sem ficar prisioneiro nele, abrindo-se ao ontológico, para que a pergunta pelo ser possa iluminar nossa existência de modo mais autêntico.

Como eu tenho dito nos textos anteriores,penso que no ôntico há essências.O “ homem não é isto ou aquilo”,mas sentido.Para,no entanto, construir sentido há que trabalhar com essências,compreender as essências ,modificá-las ,tratá-las.

É aqui que eu vejo um elemento profissional da filosofia,porque ao tentar melhorar a condição existencial de uma pessoa,o seu sentido perdido,nós podemos saber o que está errado com a essência e modificá-la ou substituí-la.

Uma vez eu discuti com uma pessoa ,uma menina,que estava deixando o magistério,para o qual se preparara trinta anos,para se casar,pois segundo ela,a sua verdadeira vocação era a família.

Eu citei então um caso de uma pessoa que fez a mesma coisa que ela e que se arrependeu.Eu disse que depois de se preparar por tanto tempo para conseguir um ideal e descobrir que não o era,significava desqualificar a vida inteira e demonstrava incapacidade da pessoa de definir os seus rumos,quer dizer,reconhecer uma certa inaptidão para a vida.Um certo desaquilibrio e ambiguidade.

Esta menina negou ,mas anos depois sentiu que eu estava certo.A aconselhei a não sair do magistério,mas ela substituiu tudo.Ela trocou uma vida por outra e se deu mal.

Ao longo dos textos sobre Heidegger eu vou tratar de exemplos como este,para evidenciar como,a partir de sua filosofia,se pode,não necessariamente caindo na psicologia,entender o sentido da vida ,o seu sentido e o dos outros,de modo a ter saúde e felicidade e bem-estar na vida.

A essência de professor,tanto tempo buscada,foi substituida pela de mãe,um tanto quanto natural e obrigacional e porque não dizer,automática.

Uma essência desapareceu para dar lugar a outra,mas ,no final,não teve a mesma força que a do magistério.

Por razões óbvias ela trocou a sua procura,que se provou,tanto tempo,por uma que não era almejada.Porquê?

Para fazer o que a sociedade quer?Por não resistir à pressão e ser solteira?E não ter discurso para ser solteira,apesar da pressão dos outros?Neste momento as perguntas típicas heideggerianas adquirem um significado de apontar para os outros(e a filosofia apontar)o caminho verdadeiro da pessoa que decide.

Em princípio a rutura não teve consequencias,mas depois teve ,porque a pessoa sentiu que o que ela queria era o magistério,porque procurou a vida inteira.Ela se descolou de algo real por uma noção ideal,sempiterna até,de casamento e família.

Democracia contra o Capitalismo

 

A democracia nasceu para conter poderes absolutos. No entanto, ao longo dos séculos, outro poder emergiu: o capitalismo, com sua lógica de acumulação, concorrência e domínio do mercado sobre as demais esferas da vida. Se o capitalismo organiza a produção e a circulação de bens, ele também gera desigualdade, concentração de poder econômico e crises periódicas que ameaçam a estabilidade das sociedades. Aqui, a democracia se apresenta como a força capaz de limitar, controlar e, em muitos casos, opor-se ao capitalismo em nome do bem comum.

O controle democrático do capitalismo se dá por meio de leis que regulam o mercado, impostos progressivos que redistribuem renda e políticas públicas que garantem direitos universais, como saúde, educação e previdência. A democracia confere aos cidadãos o poder de eleger representantes que possam estabelecer limites ao capital, proibindo monopólios, regulamentando salários mínimos, garantindo condições dignas de trabalho e impedindo a exploração sem freios que o capitalismo, em seu movimento natural, tende a realizar. Assim, quando a sociedade se organiza politicamente, ela pode estabelecer que o lucro não está acima da dignidade humana.

Além do controle, a democracia também se opõe ao capitalismo quando este coloca em risco o meio ambiente ou desestabiliza sociedades ao gerar miséria em busca de lucros crescentes. O voto e a mobilização popular podem barrar projetos predatórios e exigir modelos de desenvolvimento que não destruam ecossistemas nem agravem o aquecimento global. A democracia pode também enfrentar o poder dos grandes conglomerados financeiros, impondo regulações que impeçam especulações que colocam em risco economias inteiras, como ocorreu em crises recentes.

Contudo, a democracia deve estar viva e atuante para exercer esse controle e oposição. Quando se fragiliza, seja por apatia dos cidadãos, seja pela captura do Estado por elites econômicas, o capitalismo retoma seu caráter predatório e passa a dominar a política, transformando-a em instrumento de seus interesses. A aliança entre cidadãos conscientes e instituições democráticas fortes é o caminho para que os valores de solidariedade, justiça e igualdade prevaleçam sobre a lógica do lucro a qualquer custo.

Por fim, o confronto entre democracia e capitalismo não é necessariamente a destruição de um pelo outro, mas a constante tensão que obriga o capitalismo a se submeter às exigências de uma sociedade que não aceita ser reduzida a cifras. Quando a democracia cumpre seu papel, ela civiliza o capitalismo, subordina o mercado ao interesse coletivo e afirma que a riqueza deve servir ao povo e não o contrário. Nesse equilíbrio tenso, reside a esperança de uma sociedade mais justa.

Este último parágrafo denota o que é a sociedade nos dias atuais,mas para aqueles que pensam numa utopia,como eu,este processo de controle é uma fase preparatória,que incide fundamentalmente o capitalismo faz de pior,que é submeter tudo e todos ao dinheiro.

A carcaterística mais degradante do capitalismo é legitimar tudo pelo dinheiro.Se deu dinheiro,vale,vai em frente.

Em outro artigo eu procurarei mostrar quais os valores que informam a minha relação com o dinheiro.

Mas agora incido sobre este lado podre do capitalismo.O sentido real da alienação é este,além da falta de tempo livre para os demais.

No filme Babilônia,sobre os primórdios de Hollywood,há uma cena em que um brutamontes,escondido num furdunço debaixo do chão,por um punhado de dólares,engole um rato vivo.

É assim a sociedade do dinheiro:qualquer coisa vale.Mas há momentos em que isto ultrapassa limites humanos essenciais.Nos tempos atuais até crianças se suicidam para fazer valer a dominação irracional das redes.

O principal controle é sobre esta “realidade”.

Preocupado,como sou,com a utopia,comungo com as ideias de Ellen Wood,em seu livro “Democracy against Capitalism”,que,na verdade é a continuação e cristalização da “revolução ocidental”,que,a meu ver,vale para o mundo todo,hoje.

Construir sociedades mistas ,capitalistas e socialistas,já é um fato e elas são,para mim,transicionais,isto é,apresentam condições para o salto para uma sociedade afluente,base possível do comunismo,no seu sentido próprio e exato,não o do assim proclamado “ socialismo real”.



sábado, 5 de julho de 2025

Os apóstolos da democracia brasileira Tancredo Neves e Ulysses Guimarães IV

 

Em um momento em que a democracia brasileira enfrenta ameaças constantes — seja pela polarização extrema, desinformação ou pelo enfraquecimento das instituições — torna-se essencial relembrar figuras como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães. Ambos simbolizam a luta pela redemocratização do Brasil após o período autoritário iniciado em 1964. Tancredo representou a esperança de uma transição pacífica e civil para a democracia, enquanto Ulysses, com sua voz firme e comprometida, personificou a resistência parlamentar e a construção da nova ordem democrática.

Falar sobre esses líderes hoje é mais do que saudosismo: é recuperar os valores que eles defenderam — diálogo, legalidade, tolerância e o fortalecimento das instituições republicanas. Ulysses foi o artífice da Constituição de 1988, chamada por ele de “Constituição Cidadã”, justamente por resgatar direitos fundamentais do povo brasileiro. Tancredo, ao se eleger indiretamente e recusar o discurso de ódio, sinalizou que a reconciliação nacional era possível.

Resgatar seus legados é um ato de resistência e lucidez. Em tempos de autoritarismos velados e rupturas institucionais, lembrar Tancredo e Ulysses é lembrar que a democracia se faz com coragem, civilidade e compromisso com o futuro.

Participei das Diretas Já com o coração pulsando por mudança. Não era apenas um ato político, era um clamor da alma brasileira. Ver aquela multidão nas ruas, unida pelo desejo de reconquistar o direito de escolher o próprio destino, foi uma das experiências mais marcantes da minha vida. Eu estive lá, com cartaz nas mãos e esperança no peito. Foi ali que aprendi o verdadeiro sentido da democracia.

Mas o que quero ressaltar neste texto é a questão da representação politica e histórica dos dois:eles são o começo de uma nova era para a classe média brasileira.

O deputado Luiz Henrique Lima disse uma vez sobre Ulysses(mas vale também para Tancredo)que ele representava aquele momento definido por Hegel,em que uma classe em si se tornava para si.No caso aí falamos da classe média brasileira,que,como outras classes médias em outros lugares do mundo,começa por uma egocentria e adquire com o tempo consciência de seu papel politico e histórico.

sábado, 28 de junho de 2025

As utopias absolutas II

 

Continuando o artigo anterior,Marx estabeleceu um paradigma semelhante ao da Revolução Francesa para a Revolução proletária,mas a história se desenvolve de diversas maneiras e no caso da revolução comunista,que se pretende a última,ela não visa o predominio de uma classe,como era o objetivo limitado da burguesia.

A utopia vem para libertar a humanidade e isto impõe limites antes e depois da revolução,se ela vem com as carcaterísticas de 1789.

Penso que uma revolução humanitária completa não virá de um cataclismo dese tipo,que não se resolve depois do ato de vontade.Casualmente pode acontecer,mas de modo geral,com as coisas como estão hoje,não há senão “ esperança” de que este acaso venha.

Na medida em que a classe operária ganha na sua luta,fica muito dificil para ela e para qualquer outro setor da sociedade,arriscar tudo num movimento deste tipo.

Marx imaginava que a classe operária tinha as condições de produzir abundância logo depois da vitória da revolução.Mas isto é discutível históricamente.Não se tem como saber se seria assim se a Comuna de Paris tivesse vencido.

O ponto nodal de uma revolução de tipo marxista é construir esta abundância imediatamente e garantir o tempo livre necessário para os trabalhadores,que poderão gradativamente se libertar da “ canseira diária” como diz Brecht em “Vida de Galileu”.

A questão se coloca nos dia de hoje e de sempre:é possível construir esta “ sociedade da abundância” ou “ afluente”.(?)

Dela depende a transformação em direção à utopia e pode começar no cotidiano,em vários momentos de consciência,não num só geral(que poderá advir eventualmente).

Mas mesmo assim não será mais um ato de vontade cataclismico,mas um processo.

Quando se diz isto nas hostes da esquerda ortodoxa parece indiferença ao sofrimento humano,que tem que ser abordado logo,mas eu penso que há como ser rápido numa processualística.



As visões utópicas absolutas

 

É normal que todo utopista queira extender o bem-estar a toda a humanidade(nem que para isto tenha que matar metade dela).E o seu fanatismo deriva fundamentalmente da miserabilidade que convive com a riqueza e o eventual bem-estar dos outros. Este lado a lado é sempre mote para defender os totalitarismos.

Mas a vida e a história demonstram que este absoluto é muito dificil de alcançar.

Sempre preconizei sociedades muito controladas populacionalmente. Até ao advento do capitalismo as sociedades passadas,de um jeito ou de outro, sempre mantiveram populações pequenas.

Com o capitalismo e a sua necessidade de mão de obra farta para manipular(mas também pelos incrementos da ciência)as populações as populações cresceram sem controle e aí as dificuldades da sociedade e do estado em educar e incluir as pessoas se mostraram também crescentes até à insolubilidade.

Tenho sempre falado nos sem-teto e nas pessoas que não se encaixam. Retirar vítimas do sistema econômico da rua é possível e já foi comprovado em muitos países.

Mas eu penso que existem pessoas com uma conformação mental que não as permite se encaixar ou que as faz preferir,por razões talvez pscicológicas,viver uma situação anormal,ou que pelo menos chame a atenção dos “ normais” para estas figuras.

Não sei,tenho dúvida,mas em termos de utopia nós temos que pensar que,fora a miserabilidade social,outras questões assumem importância para a garantia da liberdade:a sua supressão não se justifica em termos de utopia.

Existe ,no entanto,um outro dogma próprio da “ esquerda revolucionária”,que é a supressão das classes altas para que tudo se encontre perfeito e acabado.

Também a história não autorizou a pensar assim:fazer uma revolução de tipo francês e esperar que as coisas se encaixem,numa produtividade capaz de prover a todos não depende deste processo de eliminação.Continua no próximo artigo.