terça-feira, 26 de março de 2024

O fulcro do pensamento de Kant

 

“(a) o que “nos impele” a ultrapassar os limites da experiência é “o incondicionado que a razão exige nas coisas em si [...] para todo condicionado, a fim de completar assim a série das condições”;

(b) partindo do suposto que nosso conhecimento de experiência se guie pelos objetos como coisas em si, o incondicionado “não pode ser pensado sem contradição”;

(c) supondo, contrariamente, que nossa representação das coisas, tais como elas nos são dadas, se guie não por estas como coisas em si, mas que estes objetos, como fenômenos, se guiem pelo nosso modo de representação, “a contradição desaparece”; do que resulta: que o incondicionado “tem de ser encontrado não em coisas enquanto as conhecemos, (como nos são dadas), mas sim nas coisas enquanto não as conhecemos, como coisas em si mesmas”.”

Coloquei esta citação tirada do livro de Klein, “Comentários à obras de Kant”,publicado pela universidade federal de santa catarina,porque ela resume toda a problemática compreensiva da proposta filosófica de Kant.

Como é muito complexo eu vou tratar neste artigo só do item a.

“(a) o que “nos impele” a ultrapassar os limites da experiência é “o incondicionado que a razão exige nas coisas em si [...] para todo condicionado, a fim de completar assim a série das condições”;

A experiência humana é um contato com o real que ,dependendo da situação, se torna memória essencial do sujeito:se o sujeito se queima ou se machuca em algum lugar ele sabe que dali por diante deve evitar estas situações.Ele é condicionado a agir assim depois de ter uma experiência desagradável.

Mas  a razão não fica limitada a este condicionamento.Se fosse assim o homem não seria mais do que animal.Sabe-se pelos biólogos que um rato quando toma uma paulada na cabeça não volta mais no lugar em que isto ocorreu. É discutível,mas não aqui,se esta é uma experiência ou não.De qualquer forma os requisitos para considerá-lo como tal estão dados:o rato se “ lembra” da dor,do local e não volta ali por causa deste “ lembrança”.Talvez a reflexologia possa  explicá-lo.

Se a razão não s e resume a isto,qual o papel da experiência na subjetividade humana e para a razão?O homem seria puramente objetal se aceitasse(como Locke?)esta relação como suficiente para sua subjetividade racional.

A razão reconhece a experiência ,mas não se reduz a ela.Porquê?Não é simplesmente porque ela é a base de compreensão, a priori ,da experiência.Isto também,mas a explicação é mais profunda.

A razão para existir não se reduz a este  condicionado mas “ exige” o  incondicionado  contido nas coisas em si,percebidas pela sensibilidade.

Nós nos lembremos dos artigos que eu tenho posto aqui sobre Kant,bem como os livros:a linguagem não restitui as coisas individualmente ,mas padroniza racionalmente algo que só temos como perceber.Não existe um pedra,mas muitas,infinitas,que a razão padroniza,sem se condicionar com uma em particular ou singularmente.O nexo sujeito/objeto não vale aqui,havendo rutura com o cogito  cartesiano.

Mas por outro lado,como dizia Carlos Nelson Coutinho(aos comunistas dogmáticos),a filosofia,bem como a razão,não prova que a realidade existe,o que reforça a tese de elaboração cartesiana do  cogito de que o sujeito só existe por sua capacidade de pensar.E só sabe que existe por tal capacidade.

E na última frase: , a fim de completar assim a série das condições”;

Tal quer dizer que quando o sujeito observa um dado do real,uma coisa, ele o faz  condicionadamente ,pelo reconhecimento da experiência,mas a  razão só se constitui indo além da experiência,deste  condicionado ,formando uma série de condicionamentos ,padrões,sentido,significado,tendência e etc.

O sujeito num dia bate num rato ,come,brinca com uma pedra ou uma bola,faz amor e depois vai dormir.Cada uma destas atividades são experiência,mas  a série é  a razão,transcendente/transcendental.

É por isto que quando Hegel propõe uma dialética universal e total do movimento do Ser,falseia o real e o distorce,porque fica claro que não é possível representar todo o Ser.Não há principio único capaz.

Estou preparando um artigo sobre a dialética do Ser e este ponto é muito importante de guardar.Mas por hora paro por aqui.

 

 

 

 

 

 


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