sábado, 17 de fevereiro de 2024

Em torno à burguesia

 

Dentro das minhas reflexões sobre o que é o comunismo senti necessidade de colocar alguns temas correlacionados. O primeiro deles é sobre a burguesia, a grande culpada. Em toda a minha vida predominou em minha consciência aquilo que o movimento comunista me ensinou: o ódio à burguesia. O ódio de classe. 

Lembro-me quando peguei um manual básico de materialismo histórico ou de marxismo (não sei) de George Politzer e num  dos capítulos ele se refere à necessidade desse  ódio de classe  contra a burguesia,porque  a suprimindo o Paraíso, a utopia, estaria logo ali à nossa frente(dobrando a esquina).

Durante 2/3 de minha vida esse pensamento, ou melhor, esse conceito ,dirigiu a minha atividade militante, mas como acontece sempre, a maturidade coloca diante de nós uma realidade que é mais complexa e cheia de tonalidades do que essas afirmações emocionais.

Marx disse num dos  prefácios de O Capital que ele não se referia ao capitalista individualmente, ao burguês  individualmente, mas à representação dele, o seu papel no processo econômico.

Aparentemente as afirmações de Politzer e de Marx são contraditórias do ponto de vista pura e simplesmente da linguagem, mas de uma certa maneira a afirmação de Marx contém em si um projeto de postura científica mas não um critério de comportamento  real, da prática política real.E muito menos de postura humanitária.

Isso porque ele mesmo defendia a idéia  criada pelo operariado francês ,da ditadura do proletariado, (não foi ele quem criou o termo mas a classe operária francesa). A ditadura do proletariado tinha a sua razão de ser na medida em que  desde 1789  a burguesia, aliada ao proletariado, sempre traiu esse último, no último momento.

E do ponto de vista de como as pessoas vêem o papel da violência no processo histórico, a classe operária  tendo maioria não poderia ser governada e muito menos traída pela minoria dominante, a burguesia.

Em tudo isso, há uma potencial tensão, que leva à violência e à eliminação eventual daquele que se põe contra o direito da maioria. É sempre assim:todos os movimentos não praticam violência senão para obter aquilo que  o outro lado lhes retirou como direito.

Contudo não é bem assim.

A visão revolucionária marxista sempre teve como paradigma a Revolução Francesa:a luta para fazer valer os direitos do terceiro estado,que afinal sustentavam uma aristocracia que não produzia nada.

Ainda que se discuta o papel da burguesia ela não é comparável à vagabundagem da aristocracia francesa,que realmente vivia às custas dos menos favorecidos.

A burguesia fornece capital para a realização de coisas que foram úteis à humanidade e a fizeram progredir.Isto a inocenta de outros crimes e pecados?Não,mas relativiza o problema.Relativiza a culpa.

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