Dentro
das minhas reflexões sobre o que é o comunismo senti necessidade de
colocar alguns temas correlacionados. O primeiro deles é sobre a
burguesia, a grande culpada. Em toda a minha vida predominou em minha
consciência aquilo que o movimento comunista me ensinou: o ódio à
burguesia. O ódio de classe.
Lembro-me quando
peguei um manual básico de materialismo histórico ou de marxismo (não
sei) de George Politzer e num dos capítulos ele se refere à necessidade
desse ódio de classe contra a burguesia,porque a suprimindo o
Paraíso, a utopia, estaria logo ali à nossa frente(dobrando a
esquina).
Durante
2/3 de minha vida esse pensamento, ou melhor, esse conceito ,dirigiu
a minha atividade militante, mas como acontece sempre, a maturidade coloca
diante de nós uma realidade que é mais complexa e cheia de
tonalidades do que essas afirmações emocionais.
Marx
disse num dos prefácios de O Capital que
ele não se referia ao capitalista individualmente, ao burguês individualmente, mas
à representação dele, o seu papel no processo econômico.
Aparentemente as
afirmações de Politzer e de Marx são contraditórias do ponto de vista pura
e simplesmente da linguagem, mas de uma certa maneira a afirmação de
Marx contém em si um projeto de postura científica mas
não um critério de comportamento real, da prática política
real.E muito menos de postura humanitária.
Isso
porque ele mesmo defendia a idéia criada pelo operariado francês ,da
ditadura do proletariado, (não foi ele quem criou o termo mas a
classe operária francesa). A ditadura do proletariado tinha a sua
razão de ser na medida em que desde 1789 a burguesia, aliada
ao proletariado, sempre traiu esse último, no último momento.
E
do ponto de vista de como as pessoas vêem o papel da
violência no processo histórico, a classe operária tendo
maioria não poderia ser governada e muito menos traída pela
minoria dominante, a burguesia.
Em
tudo isso, há uma potencial tensão, que leva à
violência e à eliminação eventual daquele que se põe contra o
direito da maioria. É sempre assim:todos os movimentos não
praticam violência senão para obter aquilo que o outro lado lhes retirou como direito.
Contudo não
é bem assim.
A
visão revolucionária marxista sempre teve como paradigma a Revolução Francesa:a
luta para fazer valer os direitos do terceiro estado,que afinal sustentavam uma
aristocracia que não produzia nada.
Ainda
que se discuta o papel da burguesia ela não é comparável à vagabundagem da
aristocracia francesa,que realmente vivia às custas dos menos favorecidos.
A
burguesia fornece capital para a realização de coisas que foram úteis à
humanidade e a fizeram progredir.Isto a inocenta de outros crimes e
pecados?Não,mas relativiza o problema.Relativiza a culpa.
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