A
visão unificadora do que é comunismo,foi do inicio do cristianismo ,em que a
ideia vicejou,até Marx,passando por uma pletora de autores comunistas.
Mas
nós podíamos recuar até à ancestralidade e ver que ,mutatis mutandi,a idéia é a
mesma.
Alguns
exemplos nos ajudarão a compreender esta unidade histórica e o sentido real e
problemático desta palavra tão polêmica.
Aqueles
que viram o filme sobre Canudos e leram o livro de Euclides da Cunha,lembrar-se-ão
de que quando novos peregrinos chegam ao belo monte ,um integrante da guarda
católica mostra a eles um armazém onde encontram tudo para sobreviver,podendo levar o
que quisessem(menos cachaça).Para este depósito cada integrante que já estava
lá ,contribuía naturalmente.
Há
um documentário sobre os primeiros anos dos “novos baianos”, “Os filhos de João”,narrando
como este grupo se reuniu num lugar próximo aqui de onde eu moro(estrada dos
Três Rios[onde morou também Garrincha]),para trocar experiências musicais e crescer.
O
que cada um obtinha de dinheiro,de alguma
forma,colocava num pacote simples de plástico,que ficava preso à maçaneta de
uma porta e ali iam todos quando
precisavam.
No
último período de sua vida ,em Arlés ,no sul da França,Van Gogh intentou criar uma comunidade de pintores iniciantes
como ele,para trocar experiências e crescer(crescer junto).
Acudiu
ao convite de Van Gogh somente Gauguin e
foi o que se viu.
Como
se observa basicamente a idéia comunista,de origem cristã ancestral ,se
caracteriza por tornar a sociedade responsável e solidária por algo de comum a
todos.
Esta
idéia aparentemente me desmentiria quanto ao que eu venho dizendo sobre a
desigualdade.
Fica
claro que é possível que cada homem trabalhe como quiser e ganhe o que quiser
sem se submeter a nenhum poder que o constranja.Não há em principio uma proibição
quanto à liberdade individual.
Contudo,como
venho ressaltando,esta idéia é muito bonita em sociedades “pequenas”,com
capacidade produtiva exponencial(como pensava Rousseau).
Quer
dizer:uma população controlada,mas muito capaz,em todos os sentidos(inclusive
de cidadania),com um aparato técnico para produzir exponencialmente.E ai
distribuir por todos igualmente ,segundo a sua necessidade e ...porque
não?seu desejo(o desejo se libertaria pela primeira vez,sem culpa).
Era
esta a idéia de Marx e de seus antecessores.Marx usa até uma metáfora do “armazém”
em que todos iriam buscar o que precisassem,livremente,levando em conta os
direitos dos outros,isto é,não poderiam levar o que quisessem,segundo o desejo
talvez(limite do desejo[o desejo pela primeira vez se associa ao
solidarismo]{mas o desejo pessoal de cada um não deveria ser desigual?}).
No
fundo esta concepção é um republicanismo radical,a separação entre a vida
privada e aquilo que é comum.
Como
eu disse,comunista é obrigatoriamente republicano...
Mas
numa sociedade complexa ,cheia de problemas herdados do passado não dá para desenvolvê-la
simplesmente por um ato de vontade.
Talvez
algumas cidades pelo mundo ,auto-suficientes ou com desejo de se tornar,prestes
a se tornar,possam tentar implementar este projeto,mas diante de um mundo
interligado e complexo, a coisa complica.
E
de outro lado ,a questão de como viver a vida nesta utopia nos põe algumas dúvidas:porque
o dinheiro vai ser desnecessário ipso facto ?Porque a iniciativa privada,pessoal,não
tem valor e lugar?Quem garante que o administrador do armazém não vai dominar a
vida dos outros,obtendo vantagens egoístas,como aconteceu no socialismo real?
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