quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

A definição de comunismo Segundo os direitos humanos III

 

A visão unificadora do que é comunismo,foi do inicio do cristianismo ,em que a ideia vicejou,até Marx,passando por uma pletora de autores comunistas.

Mas nós podíamos recuar até à ancestralidade e ver que ,mutatis mutandi,a idéia é a mesma.

Alguns exemplos nos ajudarão a compreender esta unidade histórica e o sentido real e problemático desta palavra tão polêmica.

Aqueles que viram o filme sobre Canudos e leram o livro de Euclides da Cunha,lembrar-se-ão de que quando novos peregrinos chegam ao belo monte ,um integrante da guarda católica mostra a eles um armazém onde  encontram tudo para sobreviver,podendo levar o que quisessem(menos cachaça).Para este depósito cada integrante que já estava lá ,contribuía naturalmente.

Há um documentário sobre os primeiros anos dos “novos baianos”, “Os filhos de João”,narrando como este grupo se reuniu num lugar próximo aqui de onde eu moro(estrada dos Três Rios[onde morou também Garrincha]),para trocar experiências musicais e crescer.

O  que cada um obtinha de dinheiro,de alguma forma,colocava num pacote simples de plástico,que ficava preso à maçaneta de uma porta  e ali iam todos quando precisavam.

No último período de sua vida ,em Arlés ,no sul da França,Van Gogh intentou  criar uma comunidade de pintores iniciantes como ele,para trocar experiências e crescer(crescer junto).

Acudiu ao convite de Van Gogh somente Gauguin  e foi o que se viu.

Como se observa basicamente a idéia comunista,de origem cristã ancestral ,se caracteriza por tornar a sociedade responsável e solidária por algo de comum a todos.

Esta idéia aparentemente me desmentiria quanto ao que eu venho dizendo sobre a desigualdade.

Fica claro que é possível que cada homem trabalhe como quiser e ganhe o que quiser sem se submeter a nenhum poder que o constranja.Não há em principio uma proibição quanto à liberdade individual.

Contudo,como venho ressaltando,esta idéia é muito bonita em sociedades “pequenas”,com capacidade produtiva exponencial(como pensava Rousseau).

Quer dizer:uma população controlada,mas muito capaz,em todos os sentidos(inclusive de cidadania),com um aparato técnico para produzir exponencialmente.E ai distribuir por todos igualmente ,segundo a sua necessidade e ...porque não?seu desejo(o desejo se libertaria pela primeira vez,sem culpa).

Era esta a idéia de Marx e de seus antecessores.Marx usa até uma metáfora do “armazém” em que todos iriam buscar o que precisassem,livremente,levando em conta os direitos dos outros,isto é,não poderiam levar o que quisessem,segundo o desejo talvez(limite do desejo[o desejo pela primeira vez se associa ao solidarismo]{mas o desejo pessoal de cada um não deveria ser desigual?}).

No fundo esta concepção é um republicanismo radical,a separação entre a vida privada e aquilo que é comum.

Como eu disse,comunista é obrigatoriamente republicano...

Mas numa sociedade complexa ,cheia de problemas herdados do passado não dá para desenvolvê-la simplesmente por um ato de vontade.

Talvez algumas cidades pelo mundo ,auto-suficientes ou com desejo de se tornar,prestes a se tornar,possam tentar implementar este projeto,mas diante de um mundo interligado e complexo, a coisa complica.

E de outro lado ,a questão de como viver a vida nesta utopia nos põe algumas dúvidas:porque o dinheiro vai ser desnecessário ipso facto ?Porque a iniciativa privada,pessoal,não tem valor e lugar?Quem garante que o administrador do armazém não vai dominar a vida dos outros,obtendo vantagens egoístas,como aconteceu no socialismo real?

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