quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Em torno a Napoleão III I

 

Eu considero importantíssimo falar sobre este personagem porque dele nasceram os problemas que vivemos hoje.

Em artigo anterior,de muitos anos atrás, eu disse algo que eu vejo se confirmar agora com a  continuidade dos meus estudos:é da revolução de 1848  que nascem os processos revolucionários ou não revolucionários do século XX com reflexos até agora.

Nos meus estudos encontrei um autor que intitulou seu livro da seguinte forma:


Napoleão III:homem do destino,estadista ou proto-fascista?

Neste livro,que eu ainda não conhecia,algumas questões postas por mim no passado são discutidas.

Mas o meu interesse principal não é aquele que diz respeito às qualidades pessoais de Napoleão III.

Como alguém que tem formação marxista a leitura de “O 18 Brumário de Luis Napoleão”ou “Luis Bonaparte”,orientou e orienta as minhas reflexões naturalmente ,com a maturidade,de um modo um pouco diferente da que eu tinha:Napoleão III não chega a ser um imbecil,embora não seja um gênio,como seu tio.

Não é também um “ cérebro de toucinho” na “ conceituação” de Marx neste mesmo livro.Uma figura cômica como Vitor Hugo o caracterizou(junto com o autor anterior).

O que me chama atenção neste livro acima,composto por vários pesquisadores é a hipótese  de ser ele “proto-fascista”.

A palavra proto  designa aquilo que tem o potencial de se tornar uma coisa,já tem elementos para ser alguma coisa,mas ainda não o é.

Antigamente nós falávamos de “proto-história”,àquele período imediatamente anterior à civilização,ao nascimento das primeiras cidades:agricultura,silos,exploração de rios,tudo isto contribuiria para o surgimento da cidade,mas ainda estavam desarticulados.

Quando se diz que alguém é um proto criminoso ou quando há um “proto crime” nós dizemos que certas características do crime estão presentes mas ele não se consumou ainda.

Ao se afirmar o caráter “proto-fascista” de Napoleão III quer se dizer que ele antecipou elementos fundamentais do que viria a ser o fascismo.

Como eu dissera no meu trabalho anterior ,Richard Wagner,ao cunhar a expressão “Revolução Nacional”,criou as bases do fascismo.Mas ainda não o era.

Eu expliquei na ocasião que como Napoleão III traiu as hostes da esquerda e da Revolução,deixando os alemães e os italianos à própria sorte,os primeiros resolveram abandonar a ideia de um revolução internacionalista comunista,para abraçar um ideal nacional de união das classes em torno de um cultura especifica.

Hitler nunca se referiu ao seu movimento como fascista.Isto era coisa dos italianos,que o tinham de fato fundado,a partir de Mussolini.

Para marcar a diferença dos italianos e propagandear o valor da Alemanha ele  se exprimia ao nazismo como “ Revolução Nacional”.

Como se vê  a consequencia mais duradoura da traição de Napoleão III foi a Revolução Nacional,um “proto-fascismo”.

Relembrando ainda a minha antiga análise,Napoleão III vivia exilado na Inglaterra,mas sabendo que mais cedo ou mais tarde haveria uma revolução de esquerda na Europa continental se colocou ao lado dos radicais e  da república para poder entrar na França,como fizera seu tio em determinados momentos  do passado.

Ao eclodir 1848 estes setores permitiram o seu retorno ,confiando em sua adesão à Revolução Internacionalista.

No desenrolar dos acontecimentos os radicais foram sendo progressivamente barrados em suas pretensões.

É famoso o episódio em que o conservador politico e  poeta Lamartine recusa   bandeira vermelha:



No entanto foi possível e por causa destes conservadores tradicionalistas, formar não uma republica vermelha ,mas uma clássica,liberal,que consagrou como Presidente o próprio Luis Napoleão.

No momento,porém,em que o seu mandato único expirava em 1852,as esperanças radicais nos calcanhares dos conservadores,Napoleão fez o que o seu tio fizera:aliou-se às classes altas e fundou o império ,em nome dos interesses nacionais da França.que não eram senão o destas classes.

Na prática este caminho é o do proto-fascismo.Aquilo que Wagner teorizou Napoleão III realizou na prática.

E é fácil  observar como em termos de racionalização politica trans-histórica este “modelo” de atuação de Luis Napoleão teve influência sobre Mussolini e Hitler:Mussolini era um socialista radical que foi cooptado por este nacionalismo das classes altas,contra o povo,para barrar os radicais e os comunistas.E Hitler fez o idêntico:se aproveitou  dos setores revolucionários mais populares,para ao alcançar o poder desfazer-se deles,vertendo sangue inclusive.Fazendo uma aliança com as classes dominantes.

Como não ver uma similitude nisto aí?Uma base?

Se Napoleão III tivesse seguido o mais radical comportamento de seu tio(que não se aprofundou numa revolução social)e uma revolução internacionalista e comunista ocorresse,unindo França e Alemanha , não teria havido já a utopia?Com estas condições da Europa desenvolvida na mão dos comunistas ou da esquerda radical,aquilo que Engels e Marx desejavam não teria se espraiado pelos países do leste(onde houve revoluções também)e para os países mediterrâneos e para a Bélgica e Holanda?

A bem da verdade esta relação da esquerda com um figura providencial perpassou o século XX inteiro ,de Lênin até Perón,passando por Getulio Vargas:em 1976 os Montoneros,diante da volta do caudilho ,o pressionaram sem sucesso a fazer uma revolução socialista.Aqui no Brasil Getulio e Jango sofreram esta pressão.

Assim sendo é dai que vêem as confusões entre esquerda e direita modernas:a origem social e politica das revoluções  atuais é esta aí,em 1848,envolvendo os meios de evita-la ,pelos reacionários,e os que desejam que uma figura politica forte nos conduza para a utopia.

Vou aprofundá-lo no próximo artigo.

 




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